Há pouco mais de dois meses, quando conversei com diversos analistas e gestores de mercado sobre as expectativas para o segundo semestre, poucos foram aqueles que apostaram nos setores de grande exposição à economia doméstica como boas alternativas para a segunda metade do ano.
O posicionamento mais cético, na maior parte dos casos, pouco tinha a ver com a qualidade da gestão de algumas empresas e sim com o nevoeiro que impedia uma leitura mais acertada sobre o cenário macroeconômico.
Até então, pouco se sabia sobre os planos de fim do ciclo de aperto monetário por parte do Banco Central brasileiro e a inflação americana se tratava de uma verdadeira incógnita. Nas últimas duas semanas, no entanto, as coisas mudaram.
No Brasil, a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a subsequente ata do encontro deixaram no mercado a certeza de que a taxa de juros chegou ao seu limite de alta neste ciclo.
Já nos Estados Unidos, os últimos indicadores de inflação divulgados mostraram uma desaceleração no ritmo de alta, acalmando o coração dos economistas quanto à possibilidade de um pulso mais firme do Federal Reserve, o BC americano, para conter a escalada de preços. Isso sem falar na queda do preço das commoditties…
Apesar dos sinais claros de que a economia global passa por um processo de desaceleração, as últimas semanas podem ter marcado um momento importante — uma virada de chave quanto ao panorama macroeconômico e, por consequência, uma boa notícia para setores sensíveis aos altos e baixos da Selic.
ICON: O índice cansou de apanhar?
Na B3, ao invés de olharmos individualmente para apenas algumas empresas, podemos usar o índice setorial de consumo (que abrange diversas varejistas, administradoras de shoppings e outras empresas relacionadas diretamente à economia doméstica) como um termômetro para a mudança de humor dos investidores.
No gráfico abaixo, é possível ver o quanto a aposta no e-commerce e em outras empresas de tecnologia durante a pandemia levou o preço dos papéis de varejo e consumo às máximas e como o início do ciclo de aperto monetário no Brasil e no mundo fez com que o índice despencasse — acompanhando a forte correção que se passou nos papéis.
Agora, no entanto, parece que a situação começa a mudar. Com projeções mais otimistas para a Selic e apostas em uma taxa de juros terminal nos Estados Unidos, os investidores parecem correr atrás do tempo perdido — o recuo anual, no entanto, segue acima dos 9%.
Varejistas disparam hoje
Na semana passada, mesmo com números trimestrais considerados fracos, empresas como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Méliuz (CASH3) apresentaram forte alta. Nesta segunda-feira, o movimento se repete. Acompanhe o mercado em tempo real nesta matéria.
Para Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, e Rafael Passos, da Ajax Capital, o fechamento da curva de juros é o principal motivo que leva os investidores de volta aos papéis — considerados descontados por muitos. Nesta segunda-feira, o setor domina as maiores altas do dia. Confira:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
AMER3 | Americanas S.A | R$ 15,38 | 18,67% |
VIIA3 | Via ON | R$ 3,68 | 15,72% |
CASH3 | Meliuz ON | R$ 1,54 | 14,93% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 4,03 | 12,57% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 7,91 | 10,63% |