Não é novidade para ninguém que o Brasil será o polo do desenvolvimento da criptoeconomia na América Latina nos próximos anos. Para tentar dimensionar o tamanho deste gigante mercado latinoamericano, representantes do setor fizeram um levantamento estimando qual a ordem de grandeza do segmento de criptomoedas local.
Em evento da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) nesta quarta-feira (09), o painel "panorama da criptoeconomia no Brasil" trouxe dados consolidados do setor. Os números indicam que existem mais de 1,3 milhão de CPFs e 12 mil CNPJs movimentando o mercado local atualmente.
Os números são consolidados pela LCA e foram coletados de diversas bases de dados abertas, disponíveis nas corretoras de criptomoedas (exchanges) e agregadores de informações. Para facilitar o entendimento, o estudo dividiu as análises entre corretoras nacionais ou nacionalizadas e estrangeiras — a tributação e cobrança de taxas pode variar de um tipo de serviço para outro.
Assim, o faturamento esperado para exchanges nacionais é de R$ 985 milhões, enquanto para as corretoras estrangeiras, a cifra estimada é de R$ 423 milhões aproximadamente — podendo chegar até os R$ 713 milhões.
É claro que esses números também chamam a atenção do leão da Receita Federal. Nas estimativas do setor, o mercado de exchanges reguladas tem potencial de gerar uma arrecadação entre R$ 507 milhões de R$ 561 milhões aos cofres públicos.
O gosto brasileiro por criptomoedas
As maiores exchanges do Brasil em volume negociado são a Binance (que movimentou cerca de R$ 94,5 bilhões em 2021), BitPreço (R$ 42,5 bilhões) e Mercado Bitcoin (R$ 41,8 bilhões). Se, por um lado, há uma certa variedade nas exchanges, por outro, os brasileiros não gostam de sair do padrão nas suas compras.
Há uma predominância pela maior criptomoeda do mundo, o bitcoin (BTC): cerca de 33% dos brasileiros movimentam valores com este ativo. O tether (USDT), uma das maiores stablecoins em dólar do mundo, também está entre as preferências, com 33% do volume.
Em terceiro lugar aparece o ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda do mundo, que movimenta apenas 9% do mercado local.
Uma regulação para todos governar
O tema "regulação, autorregulação e boas práticas do mercado" permeou todos os painéis nos dois dias do evento. Em vários momentos — e repetidamente —, os integrantes do setor que subiam no palco pediam pela aprovação do PL nº 4.401, que estabelece um marco legal para as criptomoedas.
O setor canta em harmonia quando diz que a regulação abre espaço para uma concorrência mais igualitária entre corretoras e empresas nacionais e exchanges estrangeiras.
Muitas vezes, essas companhias do exterior possuem muitos recursos para invadir o mercado local, por vezes tomando o espaço de empresas nacionais — ainda que descumprindo ou mesmo passando por cima de regras e determinações pré-estabelecidas.
"Se a gente não resolve essa assimetria regulatória para um mercado que cresce com essa velocidade, pode ser tarde demais para a concorrência local", afirma Rodrigo Monteiro, diretor da ABCripto.
Além de Monteiro, participaram do painel Gustavo Madi, diretor da LCA, Valdir Pereira, sócio da JLRodrigues e Veronica Cardoso, gerente da LCA.