Se o uso de criptomoedas ainda está um pouco distante do cotidiano da maioria dos brasileiros, o pagamento de contas via yuan digital é uma realidade cada vez mais presente na vida dos chineses.
O passo mais recente nessa direção veio ontem (04), quando a China lançou uma versão piloto da carteira digital (wallet) oficial do governo, que está disponível nas lojas de aplicativos para smartphones com sistema iOS, da Apple, e Android, do Google.
Chamada de e-CNY, essa wallet também será desenvolvida pelas autoridades chinesas e estará dentro de uma mesma rede (blockchain) que o yuan digital. Diferentemente de outras criptomoedas como o bitcoin (BTC), por exemplo, ambos serão controlados pelo governo.
Acesso restrito ao yuan digital
A novidade chinesa, que acontece quando o banco central do país intensifica seu esforço para desenvolver sua própria moeda digital, não está ao alcance de qualquer cidadão do país.
Para ter acesso à versão piloto do aplicativo, os usuários devem residir nas regiões de Shenzhen, Suzhou, Xiong’an, Chengdu, Xangai, Hainan, Changsha, Xi’an, Qingdao, Dalian e na área dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Além disso, está disponível para download em lojas de aplicativo como Qihoo 360, Xiaomi e Baidu.
Outra restrição é que, de acordo com a Reuters, o aplicativo ainda está em fase de testes e pode selecionar usuários para a versão beta somente através de prestadores de serviços de e-CNY autorizados.
Um olho na criptomoeda, um olho na China
A China tem acelerado os esforços para manter o controle fiscal sobre os cidadãos. Em setembro, o governo chinês chegou a banir atividades relacionadas à mineração de cripto ativos, prejudicando a atividade de diversas corretoras.
Quando esse cerco começou a se fechar, alguns especialistas chegaram a cogitar que a China estaria tentando abrir espaço para o yuan digital. Dessa forma, a Moeda Digital de Banco Central (CBDC, na sigla em inglês) do país não teria concorrência forte direta.
Apesar disso, as autoridades monetárias da China já afirmaram que o yuan digital deve ser voltado majoritariamente para o uso doméstico e não como moeda usada em transações internacionais. Para os especialistas dos Estados Unidos, entretanto, a CBDC chinesa segue como motivo de preocupação.
A rivalidade com os EUA e os Jogos de Inverno
Nem mesmo os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que acontecem no próximo mês, escaparam da rivalidade entre Estados Unidos e China quanto o assunto é moeda digital.
Depois que o banco central chinês indicou que a CBDC chinesa poderia ser usada durante o evento, a luz de alerta acendeu para os senadores americanos, que afirmaram que os atletas dos Estados Unidos não deveriam utilizar a moeda no evento realizado na China.
Enquanto isso, o Federal Reserve (Fed), como é conhecido o banco central americano, ainda avalia a introdução de uma CBDC nos Estados Unidos. Em setembro, o Fed sinalizou que os benefícios e impactos do dólar digital estavam sendo estudados, mas não deu prazo para a apresentação de uma conclusão sobre o assunto.