Depois de doze altas consecutivas da Selic, o Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa de juros inalterada na última quarta-feira (21).
Pela primeira vez em mais de um ano, o comitê não subiu os juros, o que naturalmente levanta perguntas do tipo: será que o ajuste para cima acabou? Quando a Selic voltará a cair?
Ao que tudo indica, as altas parecem ter acabado mesmo. Dado o tom ainda preocupado do BC, porém, os juros só devem começar a cair depois da metade de 2023.
Em termos práticos, isso significa que os custos dos empréstimos vão parar de subir, mas ainda devem demorar um pouco para cair.
Mas e quando isso começar a acontecer, quem serão os maiores beneficiados?
Os últimos serão os primeiros: indexados ao CDI
Com a alta da Selic, a maioria das dívidas corporativas se tornaram mais caras também. Um bom exemplo é a administradora de shoppings Iguatemi, que sofreu com o aperto monetário no Brasil.
Repare como o custo da dívida da companhia disparou nos últimos dois anos, acompanhando a alta da Selic.
Isso aconteceu porque cerca de 87% de toda a dívida da Iguatemi é indexada ao CDI.
Consequentemente, o gasto líquido com juros cresceu bastante também (no gráfico abaixo já estamos desconsiderando a desvalorização da Infracommerce, que também afeta as despesas financeiras).
Para uma empresa que deve entregar um Ebitda de R$ 700 milhões em 2022, estamos falando de quase 40% do resultado operacional do ano indo direto para as mãos dos bancos na forma de juros.
Mas quem sofreu com a alta também deve se beneficiar da queda, não é mesmo?
Com uma dívida líquida de R$ 1,7 bilhão e um custo de dívida equivalente a 106% do CDI, hoje cada -1 p.p. de queda na taxa Selic representa uma redução de quase R$ 20 milhões nas despesas com juros, o que ajudaria a Iguatemi a expandir o lucro e o FFO (funds from operations, resultado das operações do shopping que exclui venda de imóveis).
Sendo assim, é importante se atentar ao indexador. Companhias com dívidas majoritariamente pré-fixadas tendem a se aproveitar muito menos do que aquelas empresas mais endividadas e com suas obrigações indexadas à taxa Selic.
Um pouco mais sobre a Iguatemi
O setor de shoppings, de uma maneira geral, "pega" muito bem esse corte por vir na taxa de juros: todas as empresas estão alavancadas e com boa parcela das dívidas indexadas à taxa de juros.
Mas não se trata apenas de uma melhora nos resultados. As ações também tendem a negociar um pouco mais caras em ambiente de queda de juros também. Vale a pena notar no gráfico abaixo como as ações do setor negociavam com múltiplos muito maiores em janeiro de 2020, quando a Selic estava abaixo dos 5%.
Dentre elas, gosto mais de Iguatemi, focada em shoppings com localização premium e nos públicos das classes A e B, que tendem a ser mais resilientes em períodos econômicos difíceis como o que estamos vivendo. Aliás, mesmo com inflação, aumento dos juros e perda do poder de compra da população, a receita e o ebitda da Iguatemi não param de renovar recordes, o que mostra a resiliência dos seus resultados.
Em termos de valor, a companhia segue negociando próxima dos mesmos níveis de março de 2020, quando quase todos os seus shoppings estavam fechados e ninguém sabia ao certo se poderíamos voltar a frequentar estes estabelecimentos novamente.
Mas as vantagens vão além. Em termos de EV/m2, ela negocia abaixo de sua média, enquanto Multiplan (MULT3) não sofre o mesmo problema.
Falando em Multiplan, a diferença de desempenho no ano é gritante e injustificada, mesmo com a Infracommerce pesando nos resultados da Iguatemi.
Com dívidas concentradas no curto prazo e algumas oportunidades de aquisição, por enquanto, a Iguatemi não é uma grande pagadora de dividendos, mas isso deve mudar em breve, e por isso ela faz parte da série Vacas Leiteiras.
Se quiser conferir todas as outras ações que fazem parte da série, deixo aqui o convite.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy