O calendário da mesa mudou e os votos de esperança já são coisa do passado. Os economistas começaram 2022 reduzindo a expectativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) e sinalizando que a inflação promete continuar dando dor de cabeça também em 2023.
O primeiro boletim Focus do ano divulgado pelo Banco Central não trouxe grandes mudanças, mas as poucas alterações foram suficientes para pressionar a curva de juros e impedir que os ativos locais acompanhassem a alta moderada vista no exterior.
Os analistas pioraram a projeção do PIB deste ano, reduzindo o crescimento de 0,42% para 0,36%, e indicaram que a inflação em 2023 deve se afastar ainda mais do centro da meta do BC (3,25%), fechando o ano que vem a 3,41%.
Ruídos em Brasília sobre o futuro do teto de gastos e as incertezas geradas pela prorrogação da desoneração da folha de pagamentos sancionada pelo governo federal na reta final de 2021 também fizeram a sua parte. Isso sem falar na variante ômicron, que ameaça a recuperação pós-pandemia.
Com o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos vindo ligeiramente abaixo do esperado, o dólar se fortaleceu em escala global, mas por aqui a pressão na curva de juros e a perspectiva de mais deterioração fiscal no horizonte deixaram o real na lanterninha de desempenho mais uma vez.
Para Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, as perspectivas domésticas ruins contribuíram para a possibilidade de uma fuga de capital do país, pressionando o câmbio e levando o dólar à vista a encerrar a sessão em alta de 1,56%, a R$ 5,6627.
Diante de tantas pressões, o clima positivo do Ibovespa durou mais ou menos o mesmo tempo que boa parte das resoluções feitas na noite da virada — a primeira hora do primeiro dia útil do ano.
O bom desempenho das ações do setor bancário e da Petrobras, que acompanhou a volatilidade do petróleo, não foi suficiente para fazer a bolsa brasileira acompanhar o exterior positivo. O Ibovespa encerrou o primeiro pregão do ano em queda de 0,86%, aos 103.922 pontos.
O primeiro dia do ano também é um bom momento para você ficar ciente das mudanças de 2022: a B3 passará a funcionar nos feriados municipais da cidade de São Paulo. Confira o calendário completo.
Fiscal no radar
No panorama doméstico, o cenário fiscal seguiu sendo a grande estrela. A desoneração da folha de pagamento para 17 setores econômicos, considerados os que mais geram vagas de empregos no País, foi prorrogada até o fim de 2023.
O alívio tributário está em vigor desde 2011 e beneficia as empresas ao diminuir encargos trabalhistas. Pela desoneração da folha, as empresas beneficiadas recolhem alíquotas de 1% a 4,5% sobre o faturamento, em vez de 20% sobre a folha de salários.
A sanção ficou travada porque a equipe econômica cobrou a exigência de compensação, com aumento de outros impostos, pela redução da tributação para as empresas desses setores. A compensação está prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e o Orçamento de 2022 foi aprovado sem levar em conta o impacto da desoneração.
Apesar do impasse, o governo informou ontem que fez uma consulta ao Tribunal de Contas da União (TCU) e que o órgão orientou que não há necessidade de nova medida compensatória.
O texto da lei prevê o aumento apenas da alíquota de Cofins-Importação durante a vigência da medida, em um ponto porcentual, o que não é suficiente para compensar toda a renúncia fiscal. A justificativa é que "se trata de prorrogação de benefício fiscal já existente" e que a medida havia sido considerada no Relatório de Estimativa de Receita do Projeto de Lei Orçamentária de 2022, feito pelo Congresso.
Por outro lado, foi preciso editar uma medida provisória para revogar a necessidade de a União compensar o valor da desoneração para o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) por transferência orçamentária. O setor bancário se beneficiou dessa decisão. Uma das alternativas estudadas pelo governo era a elevação do imposto sobre transações financeiras.
Boletim médico
Além de permanecerem atentos aos surtos de covid-19 e gripe que atingem diversas cidades brasileiras, os investidores permanecem atentos a quaisquer notícias sobre a saúde do presidente da República, Jair Bolsonaro. Na madrugada desta segunda, Bolsonaro deu entrada no hospital Vila Nova Star, em São Paulo, com dores abdominais.
Em sua conta no Twitter, o presidente da República afirmou que fará uma série de exames pela manhã para avaliar a necessidade de uma nova cirurgia.
Sobe e desce do Ibovespa
A estreia da CSN Mineração na carteira teórica do Ibovespa foi com o pé direito. A companhia foi na contramão do setor de mineração e liderou os ganhos do índice nesta segunda-feira (03).
As ações dos bancos subiram em bloco, em forte recuperação do movimento visto na última semana do ano. O temor era de que a desoneração da folha de pagamentos anunciada pelo governo federal levasse a um aumento do Imposto sobre operações financeiras (IOF), mas o governo conseguiu aprovar a medida sem que fosse preciso alterar as práticas vigentes. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
CMIN3 | CSN Mineração ON | R$ 7,05 | 4,60% |
BRFS3 | BRF ON | R$ 23,22 | 3,11% |
ITUB4 | Itaú Unibanco PN | R$ 21,51 | 2,75% |
PETR3 | Petrobras ON | R$ 31,52 | 2,67% |
SANB11 | Santander Brasil units | R$ 30,74 | 2,54% |
A pressão na curva de juros voltou a prejudicar o desempenho das ações do setor de consumo, em especial as varejistas. Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
CYRE3 | Cyrela ON | R$ 14,52 | -7,98% |
ALPA4 | Alpargatas PN | R$ 34,30 | -7,00% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 6,72 | -6,93% |
MULT3 | Multiplan ON | R$ 17,45 | -6,78% |
JHSF3 | JHSF ON | R$ 5,21 | -6,63% |