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O copo meio cheio do PIB: Entenda por que a bolsa sobe com vigor apesar da recessão técnica da economia brasileira

Montagem de gato espantado com seta em movimento de queda para o PIB

A economia brasileira registrou uma queda de 0,1% no terceiro trimestre de 2021 em relação aos três meses anteriores. O segundo resultado negativo consecutivo do PIB coloca o Brasil em um cenário qualificado em economês como “recessão técnica”.

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Nesse contexto, salta ainda mais aos olhos a forte alta do Ibovespa hoje. Por que isso acontece? Afinal, a bolsa é formada pelas maiores empresas do país, cujo resultado é ligado diretamente ao desempenho da economia.

É fato que o dado do PIB não foi bom, mas também não foi uma tragédia. Diante de uma leitura mais ou menos alinhada com as projeções, os investidores aproveitam para ajustar suas carteiras aos preços altamente descontados na bolsa, que em novembro registrou o quinto mês consecutivo de queda acumulada, e às perspectivas para a PEC dos Precatórios.

Bolsa não é PIB

Vale observar também que, como costumam destacar os analistas, "bolsa não é PIB". Ou seja, embora as empresas listadas na B3 sejam afetadas pelo desempenho da economia, não existe uma correlação direta entre o PIB e o preço das ações.

Primeiro, porque a bolsa é formada pelas maiores empresas do país, algumas delas com negócios no exterior e mais preparadas para aguentar os solavancos da atividade econômica. E depois porque o dado do PIB em geral fala sobre o passado, e o mercado por natureza olha para frente e tenta se antecipar aos movimentos.

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Ou seja, a alta de hoje do Ibovespa não significa que os investidores tenham gostado do que viram. Mas vamos aos números.

Raio-X da economia no terceiro trimestre

O PIB do terceiro trimestre caiu 0,1% em relação aos três meses anteriores, ante projeção de estabilidade.

Para piorar, a queda do PIB do segundo trimestre foi revisada para baixo pelo IBGE, de -0,10% para -0,35%.

Na análise do banco Goldman Sachs, os gastos com investimento, as exportações líquidas e a redução dos estoques puxaram a atividade econômica para baixo, enquanto o consumo das famílias e os gastos do governo proporcionaram um contrapeso.

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Agro pesa e ofusca serviços

O desempenho do agronegócio voltou a ser determinante para o resultado do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2021.

Ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, porém, o agro pesou para baixo (-8%), neutralizando a recuperação registrada pelo setor de serviços no período (+1,1%).

“Apesar do número negativo no geral, a abertura do dado contém alguns aspectos positivos no que se refere ao retrato da economia brasileira ao fim do terceiro trimestre”, disse Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total, em entrevista ao Seu Dinheiro.

Fonseca enfatizou a recuperação do setor de serviços, beneficiado pela reabertura depois de ter sido duramente castigado pela pandemia. Outro aspecto benigno, segundo ele foi a alta de 0,9% no consumo das famílias.

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O problema não é o cenário atual, mas o futuro

Ao mesmo tempo em que vê um resultado ligeiramente positivo pelo lado da demanda no terceiro trimestre, Marcelo Fonseca mostra-se preocupado com o desempenho da economia de agora em diante.

De acordo com ele, o aperto promovido pelo Banco Central ainda não chegou ao PIB. Além disso, o surgimento da variante ômicron do coronavírus, as pressões inflacionárias e o ano eleitoral devem se somar à defasagem temporal da política monetária e inibir a confiança da classe empresarial para investir.

Ele aponta que a queda de 0,1% na Formação Bruta de Capital Fixo, que contempla investimento em maquinário e estruturas, já mostra efeitos negativos do aumento dessa incerteza econômica.

“Olhando à frente, o resultado de hoje prenuncia as conhecidas dificuldades para a economia brasileira. O forte aperto monetário em curso ainda deverá se fazer sentir sobre o crédito, e juntamente com a alta inflação, pesará sobre o consumo das famílias. O investimento continuará com desempenho decepcionante, após alguns trimestres de forte recuperação, à luz das incertezas fiscais e do aumento dos juros.”

Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total
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