Apesar da empolgação do mercado com a proposta da Arezzo para comprar a Hering, o Goldman Sachs avalia que ainda não é o momento de adquirir os papéis de nenhuma das empresas.
Hoje, os papéis da Hering (HGTX3) fecharam em alta de 28,13%, a R$ 21,91, enquanto os da Arezzo (ARZZ3) subiram 8,35%, fechando a R$ 80,35. O movimento reflete uma expectativa de que as negociações podem não ter acabado.
Uma eventual fusão poderia levar a Arezzo a aumentar a receita em 60%, entre outros benefícios das sinergias entre as companhias. A Hering receberia ao menos R$ 3,3 bilhões na oferta - valor da proposta revelada ontem e que estava 14,3% acima do atual preço de mercado de então.
Mesmo reiterando as perspectivas otimistas com uma eventual fusão, analistas do Goldman Sachs ponderam que a Arezzo ainda deve ter dificuldades com a marca nos Estados Unidos, onde a empresa fechou lojas no ano passado.
As operações nos EUA e o investimento em logística, e-commerce e novas marcas podem levar a uma desaceleração nas vendas e em margens pressionadas, dizem os analistas, que ainda citam dificuldades no avanço da parceira da empresa com a Vans no Brasil.
Por outro lado, as mesmas iniciativas poderiam levar a Arezzo a um crescimento mais rápido, dizem os analistas do banco. Durante a pandemia, a empresa abriu novas frentes de crescimento - incluindo a compra da Reserva, especializada em moda masculina, por R$ 715 milhões.
A recomendação do Goldman Sachs para o preço dos papéis da companhia é neutra, com preço alvo de R$ 72 - baseado no método de fluxo de caixa descontado e num múltiplo P/E (preço/lucro) de 28,5 vezes.
Já a Hering tem recomendação de venda, com preço-alvo de R$ 14,20 - baseado em um múltiplo de P/E (preço/lucro) nos próximos 12 meses de 11 vezes e no método de fluxo de caixa descontado.
Apesar da recomendação, o banco lista apenas possibilidades que beneficiariam a empresa, incluindo um eventual bem-sucedido processo de reestruturação das operações no canal multimarca.
A companhia, que ainda depende muito do varejo físico, tenta há anos uma reestruturação, mas esbarra em dificuldades de execução, em meio a um baixo crescimento da receita nos últimos nove anos.
Os analistas do Goldman Sachs falam em melhorias na franquia Hering e na sua produtividade média, após a implantação do modelo de recomendação de sortimento de produtos e reabastecimento automático.
A proposta
A proposta apresentada pela Arezzo prevê a incorporação de ações da Hering, de forma que os acionistas receberiam:
- Um total de 26.751.575 novas ações ordinárias da Arezzo, representativas de 21,17% do capital social, pressupondo uma relação de substituição de ações de 0,1686 nova ação da Arezzo para cada uma ação ordinária da Hering; mais
- Uma parcela em dinheiro no total de R$ 1,3 bilhão.
De acordo com a Arezzo, a relação de troca equivale à atribuição de prêmio de 20% sobre o preço médio de fechamento ponderado por volume das ações da Hering no período de 90 dias anteriores a 7 de abril, quando a proposta foi apresentada.
Em carta enviada a Fabio Hering, CEO da empresa, a Arezzo argumentou que busca a união por conta da força que a companhia tem, reconhecida como um dos principais nomes do ramo de vestuário, oferecendo produtos de qualidade.
Segundo ele, a experiência da Hering na parte industrial resultará em ganhos expressivos à Arezzo, “permitindo a otimização de sua capacidade produtiva, especialmente com relação aos produtos das marcas da Reserva, dado que a malharia corresponde a aproximadamente 40% da sua produção”.
A Arezzo cita ainda como argumentos pela fusão potenciais ganhos de escala na compra de matéria-prima, sinergias operacionais, com a Hering aproveitando o conhecimento digital desenvolvido pela Arezzo, e melhorias na força de vendas.