Pergunte a qualquer pessoa próxima a você se ela conhece os efeitos da inflação e você ouvirá as histórias mais diversas.
Os com mais experiência se recordarão dos tempos de hiperinflação no Brasil. A turma millennial talvez repare mais no aumento dos gastos com as saídas de fim de semana.
Seja como for, o efeito da inflação, infelizmente, sempre foi algo presente na realidade do brasileiro. Em alguns períodos, de forma mais firme. Em outros, mais brandamente.
Fato é que parecemos tomar a inflação como um elemento subjacente à nossa existência. Viver no Brasil é sinônimo de viver uma constante alta nos preços.
Agora, converse com um cidadão americano sobre o mesmo tema e arrisco dizer que a percepção será outra. Inflação constante e, por vezes, de dois dígitos, não é algo tão comum assim nos EUA.
Justamente por isso a inflação que vem batendo à porta dos americanos, refletida pelo Consumer Price Index (CPI), tem assustado tanto.
Dados recentes mostraram uma alta na inflação em solo americano não vista há décadas, chegando à marca de 6,8% no ano.
Tal movimento não acontece à toa e, na verdade, não deveria ser uma surpresa. A impressão de dinheiro nos EUA para conter os efeitos arrebatadores da pandemia de Covid-19 aumentou em 47% desde 2019.
Jerome Powell segurou a barra pelo tempo que foi possível, mas, conforme o tempo passa, vai ficando mais difícil negar a realidade.
Restam duas alternativas: passar a aumentar a taxa de juros, em um movimento similar ao que o Copom tem feito no Brasil com a Selic, ainda que o ritmo americano de fazê-lo seja beeem diferente do brasileiro; ou "deixar rolar" e ver quais serão os efeitos da inflação mais alta.
A primeira opção é diretamente ruim para ativos de risco, em especial para ações de empresas que têm seus valuations dependentes de fluxos de caixa bem no futuro, como é o caso de techs emergentes. A segunda, por sua vez, tem impactos socioeconômicos relevantes.
O mercado, hoje, espera que o primeiro caminho seja seguido, o que pode trazer uma postura mais conservadora e de aversão a risco para o jogo.
De fato, é o que já vem acontecendo nas últimas semanas, com reflexos claros sobre o mercado de cripto.
Mas, espera. Não era o bitcoin a grande proteção contra inflação?
Sim, essa tese continua válida. Entretanto, trata-se de algo que só pode se materializar no longo prazo, especialmente com um mercado de cripto maior e mais estável. Hoje, ainda é uma narrativa interessante, mas que sofre com a dureza da realidade no curto prazo.
Por ora, então, no mercado cripto, podemos esperar uma correlação maior com o mercado tradicional, com volatilidade e mais cautela dos investidores.
Isso não abala, porém, minha convicção de que o mercado tem muito espaço para crescer nos próximos anos, tanto com a maior entrada de fluxo de capital quanto com o crescimento e consolidação de segmentos como finanças descentralizadas (DeFi), jogos e NFTs, e infraestrutura para a Web 3.0.
Mais uma vez a história se repete, e mais uma vez precisamos de paciência e serenidade para atravessar momentos de correção e consolidação, mantendo o olhar fixo em nosso objetivo, que é a expansão de um mercado que, apesar de ter crescido bastante, ainda está apenas no início de sua
história.
E não se esqueça: o bitcoin também tem sua própria inflação - uma vez que as moedas são emitidas ao longo do tempo -, mas decrescente e com produção total limitada por algoritmo. Inclusive, acabamos de alcançar a marca de 90% de todos os bitcoins produzidos.
Faltam apenas 10% para serem produzidos, sendo 5% até 2025 e o restante, até 2140.
Quem sabe, em 2025 ou 2140, quantos dólares serão impressos?