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Guerra entre os Poderes derruba Ibovespa ao menor nível desde março, em queda de quase 4%, e pressiona dólar e juros

Ruído vermelho: gráfico pesa do lado negativo

Se nos últimos meses as ameaças do presidente Jair Bolsonaro ao Executivo e Judiciário ainda contavam com o benefício da dúvida de parcela do mercado, as manifestações do dia 7 de setembro servem como um divisor de águas — a guerra entre os Três Poderes está oficialmente declarada, e o Ibovespa deve ser um sangrento campo de batalha. 

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O discurso agressivo do presidente Jair Bolsonaro durante as manifestações não trouxe surpresas, mas serviu para ampliar a tensão na capital federal. Depois de novos ataques feitos principalmente aos ministros da Suprema Corte, hoje foi dia de tensão e réplica dos demais Poderes, após meses de banho-maria. 

Em seu pronunciamento, o presidente da Câmara, Arthur Lira, pregou harmonia entre os Poderes, e disse que a Câmara dos Deputados deve atuar como um agente pacificador das tensões entre Executivo e Judiciário. 

Lira também voltou a defender a Constituição e o modelo eletrônico de votação, reforçando que o voto impresso, pauta de reivindicação bolsonarista, já está superado. O presidente da Câmara reforçou compromisso com a agenda de reformas e afirmou que as redes sociais 'superdimensionam' a crise atual e que a solução virá em 2022, com novas eleições. 

Luiz Fux, presidente do STF, adotou um tom mais duro. Fux sinalizou que os ataques feitos por Bolsonaro categorizam crimes de responsabilidade e cobrou medidas do Congresso. Além disso, foi categórico ao reafirmar o compromisso do Judiciário com a Constituição e ao afirmar que ninguém fechará o STF. 

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O clima de aprovação para as reformas já era quase inexistente, mas agora pautas como as reformas administrativa e tributária dificilmente sairão do lugar. A guerra entre os Poderes também torna a ameaça de rompimento do teto de gastos mais real. 

Para Nicolas Borsoi, economista da Nova Futura Investimentos, a crise entre Executivo e Judiciário reflete diretamente na questão dos precatórios, já que a equipe econômica esperava contar com a “boa vontade” do STF para conseguir manobrar o pagamento dos R$ 89 bilhões previstos para o fim do ano. 

Para os investidores, o que antes era um temor finalmente virou realidade. Com muitos meses de antecedência, Brasília entra de vez em clima de eleição, e os próximos movimentos de Bolsonaro para tentar reconquistar a população geram temor de mais gastos públicos. 

Com o exterior também no negativo, o Ibovespa registrou o menor nível desde março, aos 113.412 pontos, após uma queda de 3,78%. Se nos últimos tempos a expectativa de alta da Selic conseguiu segurar o câmbio, hoje não deu. O dólar à vista subiu 2,89%, aos R$ 5,3291. A elevação do risco político pressionou também os juros futuros, com os investidores recalibrando as apostas para a próxima reunião do Copom, que acontece no dia 22.

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Com o político falando mais alto, o noticiário corporativo ficou em segundo plano. Confira os destaques:

Sem clima para governar?

As palavras proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro durante as manifestações que marcaram o dia 7 de setembro foram os grandes estressores da bolsa nesta quarta-feira, mesmo após o pronunciamento de Lira.

Longe de apresentar um discurso conciliador, Bolsonaro agravou a tensão política que cerca a capital federal. Uma ruptura institucional não parece provável, mas a tensão entre os governos segue se elevando de forma drástica. 

O chefe do Executivo voltou a atacar os demais Poderes e sinalizou que não irá acatar as decisões da Suprema Corte, citando nominalmente o ministro Alexandre de Moraes. Além disso, o presidente voltou a levantar dúvidas, sem provas, sobre a vulnerabilidade das eleições do próximo ano. 

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A resposta dos demais Poderes não demorou e sacramenta o cabo de guerra que é jogado em Brasília e, para a maior parte do mercado, não existe clima e nem disposição do Congresso em aprovar as tão sonhadas reformas. 

Na leitura de Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Capital, a movimentação vista ontem, sustentada pela base eleitoral de Bolsonaro, deve seguir dando força para que o presidente continue a ‘guerra institucional’, que compromete as pautas na Câmara.

Para Bruno Madruga, da Monte Bravo Investimentos, Lira e Pacheco podem até continuar sinalizando que as reformas irão acontecer, mas o mercado segue mesmo de olho nas rusgas entre os Poderes. 

Sob suspeita

Nos Estados Unidos e na Europa, o medo de que a variante delta atrapalhe o crescimento econômico faz com que os investidores tirem o pé do acelerador. Assim, os índices americanos tiveram um dia azedo. 

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Depois do relatório de emprego, o payroll, decepcionar, as atenções do mercado estão voltadas para outros dados do mercado de trabalho. Hoje foi a vez da divulgação do relatório Jolts, que mostrou a abertura de 10,934 milhões de postos de trabalho em julho.  

Embora os dados recentes mostrem uma recuperação mais lenta do que o esperado, os dirigentes do Federal Reserve continuam vendo o mercado de trabalho com uma recuperação robusta.

No Livro Bege, divulgado nesta quarta-feira (08), o banco central americano também sinalizou que a economia segue sendo impactada pela variante delta, o que reduz o ritmo do crescimento. 

Confira o fechamento dos principais índices americanos:

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Sobe e desce do Ibovespa

Com o cenário político deteriorado, não houve muito espaço para que as empresas do Ibovespa brilhassem hoje, e os analistas acreditam que as coisas devem continuar tensas nos próximos dias. 

Segundo Nicolas Borsoi, da Nova Futura Investimentos, o clima de guerra em Brasília em um primeiro momento deve puxar uma queda generalizada da bolsa, mas depois as empresas mais ligadas à economia doméstica — que deveriam se beneficiar do movimento de reabertura pós-pandemia — e as estatais devem concentrar o mau humor dos investidores. 

Os maiores destaques do dia ficaram com as ações da Localiza e da Unidas, após o Cade dar um sinal verde para a aprovação da fusão entre as companhias. A leitura do mercado é que a operação deve ser aprovada sem grandes restrições. 

Com o cenário interno prejudicado, as companhias com maior exposição à economia global ficam mais favorecidas. É o caso das exportadoras e frigoríficos, que também se beneficiam de uma alta expressiva do dólar. Confira as maiores altas do dia: 

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CÓDIGONOMEVALORVAR
RENT3Localiza ONR$ 60,008,24%
LCAM3Unidas ONR$ 26,827,71%
SUZB3Suzano ONR$ 62,361,43%
QUAL3Qualicorp ONR$ 22,470,85%
MRFG3Marfrig ONR$ 21,930,18%

Confira também as maiores quedas do dia:

CÓDIGONOMEVALORVAR
CASH3Meliuz ONR$ 31,12-11,59%
ELET3Eletrobras ONR$ 34,38-9,05%
LAME4Lojas Americanas PNR$ 5,65-8,87%
AMER3Americanas S.AR$ 40,29-8,74%
VIIA3Via ONR$ 9,09-8,64%
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