Nada me dá mais prazer na vida do que calçar meu tênis (a preferência é sempre pelo par mais surrado que já poderia fazer o percurso sozinho) e sair para uma bela corrida. As sensações só possíveis após alguns pares de quilômetros são tantas e tão boas que é quase missão impossível descrever em apenas algumas palavras.
Mesmo após anos e milhares de quilômetros rodados, tem dia que nem com reza braba e um belo sol o pé quer ir além. Tudo depende sempre de uma série de fatores, é claro, e nem sempre dá para identificá-los numa boa. Em outros, a “meta inicial” parece mamão com açúcar e num fôlego só dá para ir uma, duas ou, com certa ousadia, até três vezes além.
A parte chata é que não importa o quão preparado e longe você vá, uma hora ou outra é preciso tomar um ar. Recentemente, durante meu período longe da cobertura de mercados, eu atingi um novo recorde pessoal — 17 km em uma tacada só. O Ibovespa também andou testando o seu fôlego na minha ausência e avançou quase 8 mil pontos em oito sessões, saindo do patamar dos 122 mil para além dos 131 mil pontos.
Mas, depois de oito altas consecutivas e seguidos recordes, o investidor brasileiro parou para tomar um fôlego, não só porque o caminho percorrido já foi grande, mas também porque o restante do trajeto não será fácil — nos próximos dias, temos dados importantes da economia americana para serem divulgados e o mercado já se prepara para a próxima reunião de política monetária do Federal Reserve; já no Brasil, a questão fiscal nubla o cenário e a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial parece cada vez mais certa.
A queda do Ibovespa foi liderada pela Vale e o setor bancário e, no fim, o índice recuou 0,76%, aos 129.787 pontos. Os bons dados do varejo acabaram puxando as ações das empresas do setor. No câmbio, o dia foi de grande instabilidade, pressionado principalmente pelas questões fiscais e o compasso de espera por novidades relativas à inflação. Depois de subir mais de 0,60%, o dólar à vista fechou a sessão estável, em leve queda de 0,05%, a R$ 5,0345.
As declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo trabalha com a possibilidade de prorrogar o auxílio emergencial por dois ou três meses movimentou o mercado de juros. As principais taxas minimizaram a tendência de queda e fecharam o dia praticamente estáveis. Confira:
- Janeiro/2022: de 5,11% para 5,12%
- Janeiro/2023: estável em 6,72%
- Janeiro/2025: de 7,79% para 7,76%
- Janeiro/2027: de 8,32% para 8,30%
Compasso de espera
Com os dirigentes do Federal Reserve em período de silêncio antes da decisão de política monetária, resta ao mercado buscar sinais sobre o futuro da política monetária do país nos números da economia. Nas últimas semanas, dados mistos vêm alimentando a visão de que o Fed deve manter as coisas como estão por mais algum tempo.
Hoje foi dia de conhecer os números do relatório Jolts, divulgado pelo Departamento do Trabalho dos EUA. O documento mostrou a abertura de 9,286 milhões de vagas em abril, maior nível da série histórica que teve início em dezembro de 2000.
Em Nova York o dia foi de viés de baixa ao longo de toda a sessão, mas, no fim, as bolsas em Wall Street fecharam mistas. O Nasdaq avançou 0,31%, o S&P 500 subiu 0,02% e o Dow Jones recuou 0,09%. Os investidores também seguiram acompanhando o desenrolar das negociações para o novo pacote de infraestrutura proposto por Biden.
Corrida com obstáculos
Ainda que o ministro da Economia tenha reforçado que qualquer prorrogação de estímulos como o auxílio emergencial será feita respeitando a saúde fiscal, a notícia não pegou bem no cenário macro.
Além disso, o Ibovespa sentiu o peso do desempenho negativo da Vale e do setor bancário, em dia fortemente marcado pela realização de lucros. No caso dos bancos, além da natural rotação de setores, as empresas também repercutiram a notícia de uma nova rodada de captação realizada pelo Nubank e que aproxima o banco digital dos grandes players do mercado tradicional.
Confira as maiores quedas do dia:
CÓDIGO | NOME | ULT | VAR |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 56,49 | -6,16% |
B3SA3 | B3 ON | R$ 16,45 | -4,86% |
ASAI3 | Assaí ON | R$ 83,98 | -3,18% |
IRBR3 | IRB ON | R$ 6,10 | -3,17% |
IGTA3 | Iguatemi ON | R$ 44,94 | -3,15% |
O auxílio emergencial preocupa, mas garante mais alguns meses de economia aquecida enquanto a vacinação no país começa a chegar a um público mais amplo. Com isso, as empresas do setor de varejo respiram um pouco mais aliviadas.
A notícia por si só já seria suficiente para impulsionar o segmento, mas novos dados da economia brasileira deram um empurrãozinho extra. O IBGE divulgou pela manhã que as vendas do varejo subiram 1,8% em abril, acima do esperado pelos analistas. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | ULT | VAR |
VVAR3 | Via Varejo ON | R$ 15,30 | 4,44% |
AZUL4 | Azul PN | R$ 48,64 | 3,05% |
PETR3 | Petrobras ON | R$ 29,33 | 2,12% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 28,00 | 1,97% |
HGTX3 | Cia Hering ON | R$ 32,65 | 1,56% |