O Itaú aprendeu com as críticas recebidas no passado por “empurrar” produtos de investimento aos clientes e hoje possui um modelo de incentivos a seus gerentes isento de conflitos de interesse.
Foi o que me disseram Felipe Wey, diretor do Itaú Personnalité, o segmento de clientes de alta renda do maior banco privado brasileiro, e Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência da instituição.
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Eu conversei com os executivos em uma videoconferência hoje para tratar da polêmica campanha publicitária lançada ontem pelo Itaú, na qual o banco questiona o modelo das corretoras que trabalham com agentes autônomos.
A XP Investimentos assumiu as dores, mas a intenção do banco não foi criticar qualquer instituição ou profissional, e sim colocar em pauta os diferentes modelos de distribuição de produtos de investimento, segundo Sanches.
“É importante que o cliente tenha transparência para saber que existem formas diferentes de atuação, e ele escolhe baseado na informação”, disse.
O diretor do Itaú entende que a forma como o banco atua evita potenciais conflitos de interesse por dois motivos. O primeiro é a remuneração dos gerentes, que não é mais baseada por produto vendido, e sim pelo volume de recursos que ele traz para o banco.
“Ele ganha a mesma coisa se captar 100 mil reais no Tesouro Direto, que não rende nada para o banco porque nós zeramos a taxa, ou num fundo sofisticado que cobra 2% ao ano de taxa de administração mais performance”, disse Sanches.
O outro ponto é a recomendação dada aos clientes, que hoje é feita de forma centralizada por um algoritmo que calcula os produtos com maior rentabilidade – que podem ou não ser do Itaú – com base no perfil de risco do investidor.
A motivação inicial para a campanha publicitária foi o aniversário de 25 anos do Personnalité, segundo Wey. O Itaú abriu a prateleira para produtos de investimento de fora do banco em 2017 e hoje possui 140 fundos de terceiros na grade, com R$ 80 bilhões de recursos de clientes no varejo.
Mas o diretor do Personnalité avalia que esses avanços ainda não eram percebidos pelos clientes. “O banco vinha comunicando pouco e mal.”
Participação maior
O ataque ao modelo das corretoras seria fruto de um “desespero” com o avanço das plataformas de investimento sobre os clientes do banco? O diretor do Itaú diz que não, até porque a instituição ainda não perdeu mercado apesar do acirramento da concorrência.
Em 2017, quando abriu a plataforma de investimentos no varejo, o banco tinha uma participação do banco era de 21,5%. Hoje esse percentual está em 22,5%, de acordo com dados da Anbima, que consideram o volume total de produtos de investimento para pessoas físicas (incluindo a caderneta de poupança). “Queremos ganhar ainda mais market share, mas também não estamos perdendo”, disse Sanches.