A gestora Verde, de Luis Stuhlberger, publicou uma carta extraordinária nesta sexta-feira (20) admitindo que "cometeu um erro importante" ao começar a comprar ativos muito cedo.
Na carta de gestão publicada no início de março, a casa havia baseado sua posição em três pilares: o de que os mercados se estabilizariam conforme as taxas de crescimento do número de casos da doença causada pelo coronavírus desacelerassem; o de que a doença refluiria conforme as temperaturas no hemisfério norte subissem; e o de que as políticas monetárias e fiscais dos governos teriam um papel importante em mitigar pânicos no mercado.
Na ocasião, a gestora havia afirmado que estava aumentando sua posição em ações gradualmente, focada no mercado americano, que considerava "o mais resiliente e que deve voltar primeiro, quando as condições acima tiverem sido preenchidas".
Porém, segundo a carta de hoje, embora em grande medida sua visão continue válida, a casa considera que começou a comprar cedo demais e que subestimou algumas coisas, dentre as quais destaca:
- Ter atribuído peso relevante aos fatores climáticos (temperatura e umidade) para a disseminação do coronavírus, com base no baixo número de casos em países como Tailândia, Singapura e Indonésia. "Com isso, acreditávamos que por volta de maio o número de casos ia retrair de maneira importante, e portanto, os mercados iam conseguir atravessar o período mais agudo de março-abril sem grande pânico", diz a carta de hoje.
- O comportamento do Covid-19 na Coreia do Sul versus o caso da Itália. A gestora destaca que, enquanto a Coreia teve um padrão exemplar em termos de gestão governamental da crise, e a doença atingiu uma população razoavelmente jovem, na Itália foi a população idosa é que foi atingida "de maneira brutal". E quando ficou claro que a única solução era a paralisação completa, já era tarde e o sistema de saúde não aguentou. "O caso italiano virou benchmark [referência] para o mundo ocidental, e isso fez os mercados precificarem o sudden stop [paralisação súbita] econômico de todos os países.
Corrida por liquidez
A gestora argumenta que os fundamentos do seu erro se somaram ao fato de que os mercados globais passam por uma enorme crise de liquidez, em que mesmo os ativos considerados "seguros" (como ouro e títulos do Tesouro americano) estão se desvalorizando junto com os ativos de risco (ações e títulos de dívida privada).
Trata-se de uma "corrida desenfreada por liquidez", em que os preços baixam em função de um movimento generalizado de vendas e resgates a qualquer preço.
"O ciclo vicioso de crédito piorando, e machucando o mercado acionário e vice-versa, também se faz presente. Tudo isso exacerba de maneira importante a deterioração de sentimento de preços", alerta a Verde.
A gestora diz ainda que a reação dos governos tem sido forte, após um período inicial de hesitação. Mas que "a incerteza econômica trazida pelos seguidos lockdowns mundo afora faz com que o horizonte de investimentos de todos seja reduzido ao máximo".
"Já vimos isso em 2008 e outras crises. Esta é a oportunidade. Obviamente teremos impactos econômicos sérios. Mas para nós, a correção dos mercados mais do que reflete tais impactos."
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE- carta da Verde Asset.
Para a gestora, as ações de distanciamento social, surgimento de tratamentos e, eventualmente, vacinas, além das medidas fiscais e monetárias, servirão como "ponte capaz de atravessar o período de volatilidade atual".
'Portfólio simples'
A Verde conclui a carta dizendo que seus fundos multimercados mantém "um portfólio simples", e que têm aumentado a exposição ao mercado americano de forma sistemática, mas com parcimônia.
"Vemos ali a melhor combinação de poder de fogo fiscal e monetário com lucratividade das empresas", diz o texto. A gestora mantém, ainda, posições em ações brasileiras e títulos atrelados à inflação (NTN-B) de médio e longo prazos.