Saudades de fortes movimentos de queda e nervosismo exacerbado nos mercados?
Não mais — afinal, esta quarta-feira (28) foi exatamente sobre isso.
Em meio à consolidação da segunda onda de casos de coronavírus na Europa e também nos Estados Unidos, os investidores continuaram a fugir de ativos de renda variável, naturalmente mais arriscados, e confiaram no bom e velho dólar.
Desta forma, a tensão nos mercados voltou a dar as caras. Ontem, o Ibovespa já tinha tido uma sessão bem negativa (queda de 1,4%), e o dólar tinha avançando aos maiores níveis desde maio (alta de 1,26%, para R$ 5,68), já reagindo à piora do cenário da covid-19 nessas duas regiões.
Hoje, no entanto, houve um adicional crítico a essa mistura: o aumento recente nos casos do coronavírus na Europa não apenas prossegue, mas volta a forçar novos lockdowns — caso da Alemanha e da França até agora, ambos anunciados hoje. Deste modo, os agentes financeiros passam a duvidar da extensão da recuperação econômica global.
No velho continente, as principais praças da Europa marcaram desempenhos fortemente negativos, com as bolsas de Frankfurt, Paris e Londres fechando o dia com queda de ao menos 2,55%, nervosas com a perspectiva de novas medidas de isolamento social.
Nos EUA, o caldo de novos casos de covid, eleição presidencial e ausência de estímulos fiscais também trouxe aflição persistente aos investidores, azedando as bolsas.
No fim do dia, os principais índices acionários americanos sustentaram fortes quedas, de ao menos 3,4% — S&P 500 caiu 3,5%; o Dow Jones, 3,4%; e o Nasdaq, 3,7%.
No cenário corporativo americano, CEOs de big techs foram ao Senado depor frente à comissão de comércio. Nomes como Mark Zuckerberg, do Facebook, Jack Dorsey, do Twitter, e Sundar Pichai, da Alphabet, falaram a congressistas a respeito de controversa lei que isenta essas empresas da maneira como elas policiam as suas plataformas.
Repercutindo a tensão geral dos mercados globais, o principal índice da B3 fechou em tombo de 4,25%, cotado aos 95.368,76 pontos, na mínima intradiária.
Foi a maior queda percentual do índice desde 24 de abril, quando o Ibovespa lutava para voltar aos 80 mil pontos — na ocasião, caiu 5,45%.
Hoje, a agenda local após o pregão também mantém a atenção dos investidores. No pós-mercado ocorre a divulgação de balanços de pesos-pesados do Ibovespa e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic.
Aéreas e CVC entre as maiores perdas
Papéis penalizados desde o início da crise da pandemia, que assolou os mercados principalmente em março, Azul PN (AZUL4) e Gol PN (GOLL4), junto com CVC ON (CVCB3), ficaram entre as maiores quedas percentuais do Ibovespa.
IRB ON (IRBR3), papel que já caiu mais de 80% no ano, também caiu forte hoje, mais uma vez.
Petrobras ON (PETR3) e Petrobras PN (PETR4) tombaram 6,1% e 6,1%, respectivamente, na esteira do desempenho negativo do petróleo no mercado internacional — o preço do barril do Brent recua 3,8%. A gigante estatal divulga seus números do terceiro trimestre mais tarde.
As ações da PetroRio foram outras que caíram fortemente hoje, reagindo à queda do petróleo — PetroRio ON (PRIO3) caiu 7,4%.
Outro que solta seu balanço trimestral é o Bradesco. Bradesco ON (BBDC3) e Bradesco PN (BBDC4) tiveram quedas de 6% e 5,7%. Vale ON (VALE3), que fecha a tríade das gigantes a reportarem balanço após o fechamento dos mercados, caiu 3,6%.
Papéis da Cielo marcaram o maior tombo percentual do dia. Cielo ON (CIEL3) tombou 11,7%, em dia de divulgação do balanço da empresa pela manhã. Confira as cinco principais baixas do Ibovespa:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CIEL3 | Cielo ON | 3,41 | -11,66% |
CVCB3 | CVC ON | 12,77 | -9,88% |
AZUL4 | Azul PN | 23,40 | -9,58% |
IRBR3 | IRB ON | 6,09 | -9,51% |
GOLL4 | Gol PN | 16,92 | -9,03% |
Nenhuma ação do índice hoje terminou em alta. Mas houve os desempenhos menos negativos, por assim dizer: NotreDame Intermédica ON (GNDI3) teve perdas limitadas, com a visão positiva de investidores sobre o setor de saúde.
Exportadoras como JBS ON (JBSS3) e Marfrig ON (MRFG3) também tiveram sessão de perdas pequenas, frente ao que viram outras empresas. Veja também as menores quedas do índice hoje:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
TAEE11 | Taesa units | 28,39 | -1,25% |
GNDI3 | Intermédica ON | 65,93 | -1,41% |
NTCO3 | Natura ON | 48,45 | -1,74% |
MRFG3 | Marfrig ON | 14,24 | -2,00% |
CRFB3 | Carrefour Brasil ON | 19,70 | -2,14% |
Dólar dispara
Em um contexto de aversão ao risco, os ativos considerados "porto seguro" ganham força entre os investidores. O dólar é um deles. Como fica demonstrado pelo Dollar Index (DXY), índice que compara a divisa a uma cesta de moedas como euro, libra e iene, a moeda se apreciou globalmente hoje, avançando 0,55%.
A moeda americana fechou em forte alta, subindo 1,39% frente ao real, cotada a R$ 5,7619. Na máxima, chegou a alcançar R$ 5,7925, disparando 1,93%, operando nos maiores níveis desde maio.
Ontem, a divisa já havia fechado a sessão em um patamar elevado, a R$ 5,68, em alta de 1,26% — o maior nível de encerramento desde 20 de maio.
No começo do pregão de hoje, o Banco Central atuou no mercado de câmbio. A intervenção evitou que a moeda chegasse aos R$ 5,80. O BC fez um leilão de venda de dólar no mercado à vista, no valor de US$ 1,042 bilhão.
Os juros, por sua vez, tiveram um dia de flutuação. As taxas intermediárias fecharam em alta hoje, em meio ao avanço galopante do dólar e à espera para a decisão do Copom, enquanto os curtos e os mais longos marcaram pequenos movimentos, terminando perto da estabilidade.
O comitê divulga hoje, após as 18h, a sua decisão sobre a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que deve continuar parada na mínima histórica, de 2%.
Agentes financeiros deverão buscar no documento indicações sobre a avaliação do BC quanto à inflação de curto prazo, além da visão sobre o risco fiscal — fatores que geram desconforto no mercado neste momento. Veja as taxas dos principais vencimentos:
- Janeiro/2021: de 1,96% para 1,965%
- Janeiro/2022: de 3,47% para 3,51%
- Janeiro/2023: de 4,99% para 5,03%
- Janeiro/2025: estável em 6,70%
Lockdown na Alemanha e perspectiva de medidas na França elevam nervosismo
No exterior, em primeiro plano segue o medo de que novas medidas de isolamento social serão cada vez mais inevitáveis — como foram no primeiro trimestre — na Europa e nos Estados Unidos.
A Alemanha divulgou mais cedo que realizará um lockdown parcial, com a duração de um mês. A decisão fechará restaurantes, bares, academias, espaços para shows e teatros a partir da próxima segunda-feira (2). Também foram proibidas aglomerações de mais de 10 pessoas no país.
Na França, o presidente Emmanuel Macron comunicou hoje novas medidas de restrição para todo o país. O lockdown será retomado na sexta (30) e durará até dezembro. As escolas se manterão abertas, sendo que serviços essenciais e atividades ao ar livre serão liberados.
O presidente ressaltou que a França utilizará métodos inovadores para realizar a testagem dos franceses para a covid-19.
Nas últimas duas semanas, 46 milhões de franceses — ou dois terços da população — entraram no sistema de toque de recolher, inicialmente válido para cidades maiores, como Paris.
Tanto Estados Unidos como Europa têm registrado novos recordes diários de infecções. Nos EUA, o país voltou a marcar 70 mil casos de covid-19 por dia, após, na sexta e no sábado, registrar mais de 80 mil casos da doença.
No domingo, a França marcou 52 mil novos casos da doença — nos últimos dias, o país vem batendo recordes de novos casos.
As bolsas europeias terminaram o dia em fortes quedas, com CAC-40 caindo 3,4%; o DAX, 4,2%; e o FTSE 100, 2,55%.
A necessidade de distanciamento diminui o ímpeto da recuperação econômica global, pesando sobre a confiança dos investidores.
A escalada do número de infecções se soma ao cenário tenso às vésperas das eleições americanas e a falta de acordo nos EUA sobre um novo pacote de estímulos fiscais no país.
De olho em Copom e balanços
Os investidores possuem uma agenda cheia após o fechamento.
Primeiro, os olhos se voltarão para a decisão de política monetária do Copom. A expectativa do mercado é de que o BC mantenha a taxa Selic na mínima histórica.
Mas a instituição está sob pressão. Com o avanço da inflação e as incertezas em torno da trajetória das contas públicas, os agentes financeiros esperam que o comunicado da decisão seja muito mais duro do que o das reuniões anteriores.
Além da divulgação da decisão de política monetária do Copom, temos uma agenda com a divulgação de balanços importantes para a bolsa brasileira.
Antes da abertura, foi a vez da siderúrgica Gerdau. Após o fechamento, as gigantes Vale, Petrobras e Bradesco divulgam os seus números. Confira aqui uma prévia do que esperar.
Desde a noite de ontem, Cielo, Localiza, Smiles e Telefônica divulgaram os seus balanços do terceiro trimestre. Confira os principais números.
Lá fora, Visa, Ford e Gilead reportam balanços após o fechamento dos mercados.