No fim do ano passado, o Spotify fez uma previsão considerada ousada pelo mercado: queria encerrar 2019 com, no mínimo, 245 milhões de usuários mensais ativos. O número representava um crescimento de 18% em sua base — na ocasião, a companhia contava com 207 milhões de clientes por mês.
Pois quem duvidou do Spotify, se deu mal: ao fim do terceiro trimestre de 2019, a empresa já contava com 248 milhões de usuários mensais ativos, superando a meta com três meses de antecedência. E essa não foi a única boa notícia para os acionistas da companhia.
A gigante dos serviços de transmissão de áudio reportou um inesperado lucro líquido de 241 milhões de euros entre julho e setembro deste ano, contrariando as previsões dos analistas, que enxergavam mais um trimestre no vermelho. A receita cresceu na base anual e a margem operacional ficou no campo positivo.
Os números surpreendentemente fortes geraram um estrondo na bolsa de Nova York: as ações do Spotify (SPOT) dispararam 16,17% hoje, a US$ 140,20, voltando aos níveis de preço de agosto. No ano, os papéis acumulam ganhos de mais de 22%.
Muitos fatores ajudam a explicar o bom desempenho da companhia no trimestre, mas um deles se destaca: a febre dos podcasts. A própria administração do Spotify mostrou-se surpresa — e, naturalmente, empolgada — com a explosão de popularidade desse tipo de conteúdo em suas plataformas.
A era de ouro
Por mais que os podcasts não sejam produtos exatamente novos, eles certamente estão passando por uma onda de crescimento em 2019. E a companhia percebeu esse movimento ainda em seus estágios iniciais, puxando para si a figura de principal plataforma de compartilhamento desses produtos.
Basta fazer uma pesquisa rápida no aplicativo do Spotify para descobrir um mundo de podcasts a serem explorados, com temas, formatos e durações variadas. Pílulas de notícias, discussões filosóficas, pensatas a respeito da cultura pop, debates sociológicos, conversas sobre a vida e a morte, discussões literárias — há de tudo.
Há, inclusive, o Touros e Ursos, podcast do Seu Dinheiro: na última edição, conversamos com o mestre Ivan Sant'Anna a respeito da crise de 1929 — se você ainda não escutou, é só clicar aqui.
Pois bem: entre julho e agosto desse ano, o Spotify reportou um crescimento de 39% no total de horas escutadas de desse tipo de conteúdo em relação ao resultado do trimestre anterior. "Há indícios preliminares de que o engajamento nos podcasts esteja gerando um círculo virtuoso, com mais participação ativa e conversão cada vez maior de usuários gratuitos em pagos", diz a companhia, em mensagem aos acionistas.
O Spotify ainda destaca que cerca de 14% da base de clientes ativos mensais consome podcasts — os Estados Unidos respondem pela maior parte das transmissões desses produtos, mas a fatia de usuários que ouvem esse tipo de conteúdo está crescendo em outros países. "É um fenômeno crescente no mundo", diz a empresa.
A companhia diz que, considerando essa base de usuários que ouve músicas e podcasts, a taxa e conversão para os serviços premium é "quase boa demais para ser verdade". O Spotify diz estar trabalhando para melhorar a análise de sua base de dados, de modo a provar causalidade, e não apenas correlação entre os resultados.
"Ainda assim, nossa intuição é a de que os dados estão mais certos que errados, e que estamos vendo algo especial".
Salto nos números
O boom dos podcasts ajuda a explicar os fortes dados financeiros e operacionais registrados pelo Spotify no trimestre. Como já foi dito, o total de usuários mensais ativos chegou a 248 milhões no terceiro trimestre deste ano, um crescimento de 30% em relação à base do mesmo período de 2018.
Desses clientes, 141 milhões optam pelos serviços com propagandas, sem a cobrança de mensalidade — quantidade 29% na base anual. Os 113 milhões restantes aderiram a alguma modalidade de serviço premium, ou seja, pagam uma taxa mensal para ter acesso ao conteúdo sem propagandas (+31%).
Do ponto de vista financeiro, o Spotify terminou o trimestre com um lucro líquido de 241 milhões de euros — entre julho e setembro do ano passado, a empresa teve um prejuízo de 76 milhões de euros. A companhia vinha de dois trimestres no vermelho.
Em termos de lucro por ação — uma métrica muito utilizada para analisar os balanços corporativos no exterior — o Spotify encerrou o trimestre com um ganho de 0,36 euro, contrariando os analistas consultados pela Bloomberg, que previam um prejuízo por ação de 0,25 euro.
A receita líquida chegou a 1,73 bilhão de euros, crescendo 28% na base anual. Com isso, a empresa também conseguiu terminar o trimestre com um lucro operacional de 54 milhões de euros, revertendo a perda de 6 milhões de euros registrada há um ano. A margem operacional ficou em 3,1%.
Também em mensagem aos acionistas, o Spotify disse sentir-se confortável em relação à concorrência. "Em relação à Apple, os dados disponíveis mostram que estamos captando quase o dobro de assinantes por mês que eles", diz a empresa.
E, após um trimestre tão positivo, quais as perspectivas para o futuro? Agora, a companhia pretende chegar a uma marca entre 255 milhões e 270 milhões de usuários mensais ativos nos três últimos meses do ano, com receita líquida de, ao menos, 1,74 bilhão de euros.