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Por onde anda Eike Batista: da exploração do petróleo ao grafeno

Eike Batista

Eike Batista

Um colorido balão de unicórnio sustentado por gás hélio compõe a decoração da sala de reuniões na Praia do Flamengo, com uma linda vista para o mar. Também na parede da TV em que se passa a apresentação em Power Point, encontra-se uma grande tabela periódica.

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Unicórnio é o nome que Eike Batista dá às inovações em que vê potencial para ganhos exponenciais. Ele se apresenta como consultor de cerca de dez delas hoje, a maior parte ligada à exploração de um material a custos baixos.

Eike ainda prefere manter em sigilo a maior parte dos seus projetos – talvez pelo trauma envolvendo a captação para empresas pré-operacionais de exploração de petróleo via OGX, que permeia a nossa conversa.

"Falhei no petróleo e foi minha desgraça, mas paguei todas as minhas contas com o BNDES e as empresas foram compradas, porque são ativos fantásticos mesmo. Foi minha forma de sair pela porta da frente."

Petróleo a preço de banana

Hoje fora do segmento de petróleo, a não ser pelos potenciais ganhos indiretos via Porto do Açu (construído pelo Grupo EBX), Eike me pede para anotar as projeções e olhar tudo isso sob perspectiva daqui a alguns anos.

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Ele sustenta que a festa do pré-sal ainda vai acontecer, ele apenas foi expulso dela. E mostra algum ressentimento pelo fato de os demais comensais terem pago preço de banana pelo ingresso. É o caso, para ele, do campo de Libra, cuja concessão foi concedida a um consórcio de empresas pela presidente Dilma Rousseff em 2015 por R$ 15 bilhões: "Tem US$ 900 bilhões nesse campo, vender a US$ 1 por barril é lesa-pátria".

O empresário segue estimando potenciais, frente ao mapa do pré-sal estampado na TV: "Os jovens brasileiros têm que entender que isso é a maior arena de exploração de petróleo do mundo. Isso aqui é 80% da Arábia Saudita, com seus 270 bilhões de barris de petróleo".

Ele comemora, olhando para o mar na janela – "Este Brasil paralelo é simplesmente extraordinário" – mas muda a rota: "Isso é negócio passado. Petróleo pra mim virou um negócio sujo, prefiro limpar o mundo. E vou te mostrar como", em referência a um dos projetos dos quais é consultor, de limpeza de rejeitos em escala.

O Power Point avança do pré-sal para o gigantesco Porto do Açu, com seus 47 berços de atracação, contra somente 6 do Porto de Macaé. "Se não tivesse o Porto do Açu, o pré-sal não seria viável", orgulha-se. E chega aos novos unicórnios. "Não me apaixono por qualquer ativo. Precisa ter pelo menos 70% de margem", diz.

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Do asfalto à cura do câncer

Dentre os projetos apresentados na reunião para mim e para o colunista do Seu Dinheiro Felipe Miranda, só consigo autorização para contar com mais profundidade o caso do grafeno. Insisto mais nesse caso porque me parece no momento a principal aposta de quem já integrou a lista Forbes dos homens mais ricos do mundo. É no material, uma das formas cristalinas do carbono, que a conversa de três horas concentra boa parte do tempo.

"Me dá sua mão, deixa eu te mostrar" – diz Eike. Ele tira o pequeno pote do bolso, bate no meu dedo e nada cai. "Ih, acabou", diz. Rapidamente, um dos executivos que acompanha a reunião traz outro potinho. Esfrego os dedos e sinto a textura de grafite escolar triturado, bem fininho.

Ele aponta para a tabela periódica: "Estamos entrando na era do grafeno, que é 200 vezes mais forte do que o aço, o melhor condutor do mundo de calor e eletricidade...".

A Carbonium 3, empresa de que Eike se apresenta como consultor, atua, além do grafeno, com a hidroxiapatita, as duas com promessas revolucionárias. Eike mostra algumas delas, como a de aumentar a vida útil do asfalto, compor uma pasta de dente que regenera o esmalte e a de ser a matéria-prima de próteses que substituem ossos no tratamento do câncer. Uma impressora 3D faria o novo osso, com a vantagem sobre os demais de crescer e decrescer com o corpo, tornando viável, por exemplo, o tratamento de uma criança. "Assim, todo hospital do mundo pode fazer osso, customizando o tratamento do câncer", diz.

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A indústria farmacêutica na certa vai torcer o nariz, espera. Já as seguradoras devem abraçar a possibilidade de uma prótese com vida longa. Isso não aconteceu ainda, segundo ele, por causa do custo, que chega a dez vezes ao de uma prótese normal.

Dentes mais brancos na Amazon

O grafeno e a hidroxiapatita já têm sido usados no mundo em mercados premium. O diferencial da Carbonium 3, segundo Eike, é o de conseguir chegar aos materiais com custo muito menor, segundo ele como diferentes rotas de produção, patenteadas. Para o mesmo volume produzido por uma empresa norueguesa a 800 euros, ele promete um custo de 10 dólares.

Segundo Eike, já existem algumas empresas brasileiras testando o grafeno, como Embraer, Gerdau e Moura. E em breve o consumidor brasileiro também vai poder conhecer os efeitos da hidroxiapatita, por meio de uma pasta de dente chamada Elysium, que promete repor o esmalte do dente. De acordo com o empreendedor, o creme dental chegará em breve à Amazon brasileira a uma fração do preço do produto similar lá fora: R$ 16 por 20 gramas, contra US$ 25 no exterior.

Na empresa Carbonium 3, Eike conta com o apoio de Bruno Pesca, surfista que já gravou séries de TV para canais como Multishow. Antes de começar a viajar o mundo surfando, ele formou-se em economia na UFRJ e trabalhou por cinco anos no mercado financeiro. Um dos usos do grafeno no mundo é aumentar a eficiência de materiais esportivos: o próprio Bruno está testando o grafeno na confecção de pranchas de surf.

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Eike Youtuber

Ao mesmo tempo em que atua como consultor, Eike tem gravado vídeos desde setembro do ano passado para o seu canal no YouTube, com 125 mil seguidores. O mais recente, postado neste mês, trata do grafeno. Veja abaixo.

E agora, quem vai financiar?

"Are you paying attention?" – questiona Eike ao defender o potencial de seus unicórnios.

Sim, existem planos de captar dinheiro para desenvolver os unicórnios. como por meio de títulos privados, fundos de private equity e de recebíveis. Não deve ser fácil captar depois da experiência frustrada de vários investidores com OGX e de uma prisão no currículo, resultado da investigação da Lava Jato no Rio.

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Seja como for, dado o mote – o jogo é claro: ganho zero ou exponencial – como investidor, há somente duas alternativas: não participar ou apostar pequeno.

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