Assim como dizia Charles Darwin, o processo de seleção natural deixaria apenas os seres mais bem preparados e capazes de passar os melhores gens para os seus sucessores. Pois bem, não é só na parte animal que esse processo de selecionar os mais capacitados existe. Segundo dados retirados do site Deadcoin, mais de 930 projetos de criptomoedas foram por água abaixo apenas em 2018 por uma série de razões.
Mas o fato de tantas moedas terem deixado de existir não é de todo ruim. Ao conversar com o professor de mestrado em criptoeconomia da FGV, Luiz Calado, ele destacou que isso pode diminuir um pouco aquela euforia de 2017 (ano em que o bitcoin chegou a ter uma alta de mais 1.500% no preço do ativo) e melhorar o crivo dos investidores em busca das criptomoedas com as tecnologias mais aprimoradas.
Ao selecionar esse grupo, alguns dos maiores destaques de altcoins para 2019 são o Ethereum, Ripple e Iota, na opinião de Calado. Esse último é o mais novo das três opções.
Ele foi criado em 2015, mas vem ganhando cada vez mais força porque trabalha com internet das coisas, que seria a ideia de embutir sensores em objetos do dia a dia para coletar dados e tomar decisões por meio de uma rede.
Conhecendo a fundo
Para o professor, a aposta no Iota está ligada ao fato de que a rede criada pela criptomoeda é a que melhor se adapta a internet das coisas. Calado destaca que o foco dela é criar um novo método de conectividade entre dispositivos móveis de forma leve, o que possibilita a coleta e venda de dados.
"Outro ponto de destaque é o fato de que a Iota anunciou recentemente, parceria com a fabricante de engenharia e eletrônica, Bosch. Além disso, o especialista me disse que há muitas pessoas sérias no projeto e que inclusive um dos fundadores é um professor que leciona na Universidade Estadual de Campinas", afirma Calado.
O Ethereum, por sua vez, chama a atenção do professor por conta das vantagens que ele oferece. O interessante é que ele já vem com uma plataforma ideal para realizar aplicações descentralizadas, o que ajuda na hora de criar mercados digitais e de fazer a oferta inicial de moedas (ICOs), segundo o professor.
Ele também é usado para fazer contratos inteligentes ou smart contracts, que são acordos formais escritos em códigos de programação. A vantagem é que não é preciso ter intermediários como advogados, cartório etc, o que torna as transações mais baratas e menos burocráticas.
Já o último caso é o do Ripple. Ele é um ativo digital criado para fazer transferências internacionais e que pode ser usado como uma ponte entre moedas, o que aumenta a sua liquidez e a eficiência.
Segundo Calado, o ponto positivo é que a tecnologia do Ripple já está sendo utilizada pelo Santander. Por meio dele, a instituição consegue realizar transferências internacionais de remessas de câmbio em até duas horas, sendo que o normal é de dois dias.
Além disso, Calado destaca que o time internacional é bastante competente e formado por pessoas com bastante experiência no mercado financeiro, o que ajuda a entender melhor questões de demanda e procura.
Menos risco?
Mesmo que eles sejam as maiores apostas, um fato é claro: é difícil não falar sobre riscos quando o assunto é criptomoedas. Na visão de João Canhada, CEO de uma das maiores corretoras de moedas digitais do Brasil, a Foxbit, o investimento em criptomoedas precisa ser bem pensado.
Segundo ele, a decisão mais segura e aconselhável costuma ser começar pelo Bitcoin. Apenas em seguida seria interessante buscar as moedas alternativas.
"A razão é simples. As altcoins são novas e completamente distintas entre si. A valorização delas pode ser até maior, mas o risco é proporcional. Isso porque o Bitcoin já tem dez anos e já teve a sua tecnologia testada. Por outro lado, as novas moedas precisam ser testadas. Logo, é sempre uma aposta de maior risco", destaca Canhada.
Mas se ainda estiver disposto a se arriscar, a sugestão do CEO é olhar as dez moedas mais negociadas no mundo para ter uma ideia da liquidez delas. Geralmente, os maiores volumes de negociação são de Bitcoins, seguido pelo Ripple e depois pelo Ethereum. Já o Iota não está entre os primeiros, mas está nos "top 10".
Saudades, valorização
Apesar das apostas, a expectativa de alta para as criptomoedas ainda não é tão positiva. Mas há alguns fatores que podem trazer certa valorização para os ativos. Na opinião de Calado, se a SEC (órgão que regula as operações dentro das bolsas de valores norte-americanas e que função semelhante parecida com a nossa Comissão de Valores Mobiliários) aprovar a criação de um "pacote de fundos" conhecido como ETFs de criptomoedas, isso pode ajudar a trazer investidores mais institucionais. Com isso, o preço do ativo pode ficar maior.
Além disso, para o especialista, a maior aceitação de empresas e possíveis acordos com varejistas para compra de produtos por meio de criptoativos podem impactar positivamente.
Mas o cenário ainda é incerto. Isso porque há incertezas que pairam sobre a economia americana.
O especialista destaca que se o dólar se desvalorizar, os investidores podem procurar outros ativos e o bitcoin tem possibilidade de entrar na lista, o que poderia levar a uma apreciação no preço do ativo.
Segurança é o lema
Mas antes de sair por aí investindo, o melhor a fazer é pensar que você pode perder tudo. Por isso, a dica é investir o dinheiro da "pinga e não do leite", como explicou o nosso colunista André Franco aqui. Nada de trabalhar com extremos.
A vantagem das criptomoedas é que é possível investir muito pouco. Logo, vá aos poucos e tenha sempre o maior percentual da sua carteira aplicado em ativos um pouco mais seguros, como a renda fixa.