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Usiminas, CSN e Gerdau são afetadas pelas tarifas de Trump? Sim, mas bem pouco

Imagem mostra trabalhador de indústria siderúrgica, como CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5) ou Gerdau (GGBR4)

Indústria siderúrgica

Donald Trump amanheceu disposto a reescrever o roteiro da guerra comercial. De caneta em mãos — ou melhor, de celular em punho —, ele foi ao Twitter para resgatar um personagem esquecido da trama: as sobretaxas ao aço do Brasil. E, como consequência, CSN, Usiminas e Gerdau foram alçadas a protagonistas dos mercados.

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A dúvida dos agentes financeiros que estavam na plateia era bem simples: como esses três atores reagiriam a uma mudança súbita no desenrolar do enredo? Sua atuação seria prejudicada por essa reviravolta, ou elas se adaptariam às alterações do texto e continuariam sem se abalar?

Pois quem apostou que as siderúrgicas sentiriam a pressão dos holofotes, se deu mal: as ações das companhias fecharam em alta firme nesta segunda-feira (2). CSN ON (CSNA3), por exemplo, avançou 5,73%e teve o melhor desempenho do Ibovespa; Gerdau PN (GGBR4) e Usiminas PNA (USIM5) subiram 2,65% e 2,00%, respectivamente.

A atuação segura das protagonistas do pregão fez o Ibovespa receber aplausos calorosos: o principal índice da bolsa brasileira teve ganho de 0,64%, aos 108.927,83 pontos — confira aqui a cobertura completa dos mercados.

Eu conversei com alguns analistas do setor sobre as novas tarifas de Trump. Assumindo a posição de críticos teatrais, eles me explicaram as nuances dos papéis de CSN, Usiminas e Gerdau na peça do setor siderúrgico global. O veredito foi quase unânime: a mudança no roteiro exige poucas adaptações por parte das empresas brasileiras.

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Velhos clichês

Em primeiro lugar, há o fato de essa reviravolta não ser exatamente nova: em março do ano passado, Trump já havia determinado a aplicação de sobretaxas de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as compras de alumínio de diversos países, entre eles, o Brasil.

Mas, depois de muitas idas e vindas diversas na guerra comercial, diversos parceiros comerciais dos Estados Unidos acabaram recebendo uma isenção dessas tarifas — e o Brasil, novamente, foi incluído na lista. Assim, por mais que a notícia obviamente não seja positiva, também não há um elemento surpresa tão expressivo, como ocorreu em 2018.

https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1201455859731238912

"Brasil e Argentina estão promovendo uma desvalorização massiva em suas moedas, o que não é bom para os nossos fazendeiros. Assim, com efeito imediato, eu vou reinstaurar as tarifas sobre todas as importações de aço e alumínio vindos desses países", escreveu o presidente americano.

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Um segundo ponto relevante é o de que o anúncio em si faz muito barulho, mas, em termos práticos, pouco afeta o desenvolvimento dos personagens — no caso, CSN, Usiminas e Gerdau. As exportações de aço aos Estados Unidos não são tão relevantes assim, o que diminui o potencial negativo da sobretaxação.

O caso mais gritante é o da Gerdau. A companhia possui um braço bastante relevante nos EUA — as operações de negócios na América do Norte responderam por 37,1% da receita líquida e 29% do Ebitda da empresa nos últimos 12 meses.

Naturalmente, todo o aço produzido pela Gerdau em território americano não está sujeito às tarifas, já que ele não está sendo importado. E qual o tamanho das exportações da empresa brasileira aos EUA? Bem, esse dado não é aberto pela companhia, mas é possível obter alguma dimensão numérica.

Veja só: as exportações da Gerdau — para os EUA e todos os outros mercados — chegaram a R$ 752 milhões no terceiro trimestre deste ano. Considerando a receita líquida total da empresa no período, de R$ 9,931 bilhões, chega-se à conclusão de que as vedas externas responderam por apenas 7,5% da receita da companhia.

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E, considerando que os Estados Unidos não são o principal comprador internacional de aço da Gerdau, é razoável concluir que essa elevação das tarifas não representa uma grande preocupação para a empresa.

Participação por operação de negócio (ON) da Gerdau na receita da companhia - Imagem: Gerdau

Sem drama

Ok, a Gerdau possui operações nos Estados Unidos e consegue passar sem arranhões pelo aumento das tarifas. Mas e CSN e Usiminas, como ficam?

Bem, elas também passam praticamente inabaladas. A Usiminas exporta uma quantia relativamente pequena de sua produção siderúrgica: do 1,033 milhão de toneladas de aço vendidos no terceiro trimestre deste ano, apenas 88 mil toneladas — ou 8,5% — foram destinadas ao mercado internacional.

A empresa ainda revela que, entre julho e setembro, apenas 16% das exportações foram destinadas aos EUA. Fazendo uma conta rápida, chegamos ao total de 14 mil toneladas vendidas aos americanos — ou 1,3% das vendas totais ao exterior.

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Vendas da Usiminas ao exterior - Imagem: Usiminas

 

A CSN também tem motivos de sobra para não se deixar abalar pelo novo roteiro da guerra comercial. Em primeiro lugar, porque possui um braço relevante de mineração, que ajuda a compensar eventuais instabilidades no mercado de aço; em segundo, porque o mercado americano também não tem um grande apelo para a companhia.

Vamos nos focar apenas nas operações de siderurgia: ao todo, a CSN vendeu 1,072 milhão de toneladas de aço no terceiro trimestre deste ano, dos quais apenas 15 mil toneladas foram exportados — o equivalente a 1,4% do total.

Vendas da CSN no terceiro trimestre de 2019 - Imagem: CSN

 

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Estímulo externo

Há mais um fator que ajuda a dar segurança às ações das três empresas: a China. O gigante asiático é o principal consumidor mundial de aço e produtos para as indústrias de base — assim, sinais de que a economia chinesa vai bem acabam dando ânimo as siderúrgicas brasileiras.

E foi exatamente isso o que aconteceu nesta manhã: mais cedo, foram divulgados dados animadores do setor industrial da China, mostrando o quarto mês seguido de expansão na atividade — o que afasta os temores de desaceleração no país e abre espaço para um aumento na demanda por produtos siderúrgicos.

Assim, considerando o volume relativamente pequeno de exportações de CSN, Gerdau e Usiminas, há a notícia negativa dos EUA, mas também há um fator positivo da China. E, levando em conta que os chineses são clientes mais importantes que os americanos para as siderúrgicas, o saldo é azul.

Reação da plateia

Por mais que o mercado tenha ignorado a sobretaxação anunciada por Trump, associações ligadas ao setor siderúrgico e o próprio governo brasileiro mostraram-se descontentes com a movimentação dos Estados Unidos.

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Em nota, o Instituto Aço Brasil — entidade que reúne as principais empresas brasileiras produtoras de aço — diz ter recebido a notícia com "perplexidade" e afirma que não há qualquer iniciativa por parte do governo para desvalorizar artificialmente o real.

"A decisão de taxar o aço brasileiro como forma de 'compensar' o agricultor americano é uma retaliação ao Brasil, que não condiz com as relações de parceria entre os dois países", diz o Instituto. "tal decisão acaba por prejudicar a própria indústria produtora de aço americana, que necessita dos semiacabados exportados pelo Brasil".

Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores, da Economia e da Agricultura diz já estar em contato com interlocutores em Washington sobre as taxações ao aço.

"O governo trabalhará para defender o interesse comercial brasileiro e assegurar a fluidez do comércio com os EUA, com vistas a ampliar o intercâmbio comercial e aprofundar o relacionamento bilateral, em benefício de ambos os países".

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