A presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), desembargadora Therezinha Cazerta, derrubou na noite de sexta-feira, 21, a liminar que suspendia as negociações entre as empresas Boeing e Embraer.
A medida havia sido publicada na última quarta-feira, 19, pela 24ª Vara Cível Federal de São Paulo, suspendendo qualquer ato de transferência entre as fabricantes de aeronaves.
Já na sexta-feira, a Advocacia Geral da União (AGU) entrou com um pedido de derrubada da liminar, alegando que a paralisação do negócio poderia gerar grave lesão à ordem público-administrativa e à economia pública. A AGU também questionou sobre o princípio da livre iniciativa, uma vez que a liminar configuraria "intervenção estatal em momento de tratativas comerciais entre empresas privadas".
Em sua decisão, Therezinha Cazerta concordou que a liminar, ao travar o negócio, impedia a União de usar seu poder de "golden share" para avaliar a fusão entre as empresas. "É nesse ponto que os efeitos da decisão se constituem em abalo à ordem administrativa, na medida em que o que fez o juízo a quo foi, ele mesmo, exercer o poder de veto da golden share, substituindo-se à atuação do Poder Executivo Federal", justificou.
Sindicatos retrucam
A liminar concedida na quarta-feira havia sido uma resposta a uma ação civil pública movida por sindicatos de metalúrgicos de São José dos Campos, de Botucatu e de Araraquara - que representam funcionários da Embraer -, e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos.
Após receberem a notícia do fim da proibição nas negociações, as entidades informaram que irão recorrer da medida ainda neste fim de semana.
Em nota oficial, os sindicatos apontam a inconstitucionalidade do fato de a Advocacia Geral da União (AGU) ter entrado com dois recursos simultaneamente para o mesmo caso. Os recursos foram encaminhados ao TRF, com sede em São Paulo. Um deles foi dirigido à própria presidência do tribunal.
As entidades alegam também que pedidos dirigidos diretamente a presidentes de tribunais são considerados inconstitucionais por muitos juristas. Para o diretor do sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, a AGU parece ter se esquecido de seu papel de defesa de interesses públicos e está assumindo a defesa de empresas privadas. Sua função, avalia, é advogar em favor dos brasileiros, e não de acionistas e muito menos dos americanos.
*Com Estadão Conteúdo.