Site icon Seu Dinheiro

Uma volta na Europa evidencia nossa miséria cambial

Torre Eiffel, em Paris

Torre Eiffel, em Paris

Não por gosto, mas por necessidade, estive na Europa faz duas semanas. Digo por necessidade, pois por mais que viajar seja bom, com euro a R$ 5 nem a máxima “quem converte não se diverte” se aplica. Um café expresso a R$ 15. Desavisado, pedi uma água com gás, em Paris, a R$ 35. Mas o ápice da miséria cambial foram dois lanches completos no McDonald’s a módicos R$ 125!

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Tudo bem que a economia está em recessão, que temos graves problemas fiscais a serem resolvidos e outras tantas mazelas. Mas fica difícil achar razões fundamentais para tamanha disparidade de preços para produtos triviais. Há superávit comercial, há sobra de dólares no mercado à vista, o Banco Central está sentado em US$ 380 bilhões de reservas cambiais, o déficit externo é baixo e facilmente financiado pelo investimento externo.

Pode até parecer clichê ou preguiça intelectual, mas quando a incerteza prevalece, pouco importa quão bom sejam os seus “fundamentos”. E a incerteza da nossa parte vem da eleição e qual será o rumo de política econômica adotado.

Não bastasse o vetor local há questões internacionais que também deixam os chamados emergentes mais fragilizados. Notadamente ajuste da política monetária nos Estados Unidos e desdobramentos da guerra comercial.

Quando o mercado não consegue enxergar ou atribuir uma relação de preço x probabilidade aos eventos futuros, uma antiga máxima entra em ação: “na dúvida, compre dólar!”. E isso pode servir para qualquer um, inclusive para mim e para você, já que em períodos de incerteza, seja local ou doméstica, o dólar invariavelmente sobe.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Depois é que surgem as explicações e ponderações que podem acalmar os ânimos. E mais, a definição da eleição pode não ser o ponto final. Dependendo do resultado a incerteza será: o que esse presidente vai fazer?

Há algo fora do lugar

O que é perceptível é que tem algo fora do lugar no preço do dólar ou do euro. Ao comentar a triste experiência monetária europeia no bar, um amigo prontamente respondeu. “Então já subiu demais, está na hora de vender dólar/euro”.

Essa visão de "algo errado" também pode ser extraída de fontes mais formais. O Focus, que capta as projeções de 100 analistas, sugere dólar a R$ 3,9 no fim do ano. O Banco Central (BC) tem suas projeções internas que por razões óbvias não revela a ninguém. Mas a forma de atuação e o comunicado da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sugerem que o dólar da autoridade monetária para o fim do ano não seria esse R$ 4,20 que chegamos a ver. Por isso mesmo, o BC manteve a Selic em 6,5%, apesar de as projeções de inflação já autorizarem uma elevação. É fato que o BC mudou o tom, acenando a possibilidade de alta, mas optou por esperar o desfecho da eleição e a resposta do mercado às urnas.

Haddad sobe e desce; Bolsonaro desce e sobe

O economista da 4E Consultoria Bruno Lavieri explica que a formação de preço do real tem o agravante das eleições. O preço é dado pelo valor esperado para a moeda multiplicado pela probabilidade de vitória de cada candidato. Com o mercado ganhando confiança no vencedor, a taxa de câmbio vai antecipar a expectativa de uma vez por todas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Segundo Lavieri, ainda está difícil de definir o cenário, mas a indicação do momento é de que Bolsonaro e Haddad devem fazer o segundo turno. A novidade é que Haddad tem feito acenos, ao menos ao mercado, de que não terá uma postura radical de esquerda. Ainda assim, explica o economista, o candidato não teria condições de levar adiante reformas profundas. Por isso, a taxa associada ao petista seria um pouco mais alta que a atual (dólar estava na casa de R$ 4,1 quando conversamos).

Já Bolsonaro é visto como muito positivo pelo mercado. Mas Lavieri pondera que a 4E Consultoria não vê o capitão com tanto otimismo assim, pois ele teria dificuldade para colocar em prática a agenda econômica de Paulo Guedes. Ainda assim, o câmbio ficaria mais apreciado caso ele vença. E a reação do câmbio às pesquisas eleitorais já mostrou essa relação.

Assim, Laviere acredita que em caso de vitória de Bolsonaro, a taxa volte para a casa de R$ 3,9 no fim do ano. Mas que a relação real/dólar voltaria a piorar nos próximos anos em função de uma agenda econômica e fiscal que não se concretizaria.

No caso de vitória de Haddad, diz o especialista, a taxa iria para R$ 4,3 a R$ 4,4 em um primeiro momento. Mas a tendência seria de melhora posterior, já que o candidato caminharia para o cenário de ajuste sem “jogar tudo para cima”. Nomeando figura mais conhecida para comandar o Ministério da Fazenda e a agenda econômica.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Já no caso de Ciro Gomes assumir o Planalto, a projeção da consultoria é de dólar “seguramente” acima de R$ 4,5 a R$ 4,6. O candidato é visto como o “mais radical” e com menor probabilidade de ajuste fiscal.

Em tempo, a 4E Consultoria está entre os Top Five em acertos do Focus.

Exit mobile version