🔴 [EVENTO GRATUITO] COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE AQUI

O fundo que ficou conhecido como calça de veludo ou bunda de fora

Uma história de um projeto de alto risco que fez sucesso no mercado

4 de dezembro de 2018
16:25 - atualizado às 14:43
Calça rasgada
Imagem: Shutterstock

Na época em que eu era diretor da distribuidora de valores FNJ, no Rio, resolvemos criar um fundo fechado de alto risco. O próprio nome já dizia tudo: Fundo de Investimentos FNJ de Alto Risco.

Para não ser objeto de reclamações de investidores (“especuladores” seria o termo mais adequado para o perfil dos cotistas que desejávamos captar), no próprio termo de adesão o interessado tinha de declarar que sabia que poderia perder todo o dinheiro aplicado. E que as chances de isso acontecer eram muito grandes.

A estratégia era comprar calls e puts super out of the money (ou “fora do dinheiro”, como se abrasileirou agora) e com pequeno time value, portanto, prestes a vencer. Nosso objetivo era ter um lucro fenomenal. Se não conseguíssemos, paciência.

Curiosamente, muita gente aderiu ao fundo. A maior parte dos cotistas era composta de traders da própria FNJ e de profissionais de outras instituições financeiras. Gente que topava arriscar uma merreca para tentar dar uma porrada.

Logo o fundo ganhou um apelido: Calça de veludo ou bunda de fora, ou simplesmente Calça.

“Como está a cota do Calça?”, um aplicador ligava perguntando.

“Ih, ferrou, cara. A maior parte das calls e puts virou pó. A cota fechou ontem a dois centavos. O caixa que sobrou não dá para aplicar em nada. Estamos aguardando a entrada de novos recursos para fazermos alguma coisa.”

Como só tinha profissa, ninguém reclamava. Com o passar do tempo, o Calça deixou de ser novidade e a entrada de recursos diminuiu muito. Mas sempre vinha algum. Afinal de contas, era melhor pôr dinheiro ali do que, por exemplo, apostar na loteria esportiva.

Então aconteceu...

Eu havia aplicado todos os recursos do fundo numa opção de compra de Vale do Rio Doce que venceria no pregão seguinte. Para que desse exercício, precisaria que a Vale subisse no mínimo uns seis por cento. Passou de onze!!!

Tudo por causa de uma inesperada maxidesvalorização do cruzeiro. Eu não me lembro exatamente dos números, mas a cota subiu algo como de cinco centavos para 25 cruzeiros. Ninguém ganhou uma fortuna porque ninguém aplicava muito. Mas muita gente pôde, com isso, comprar um carro zero ou passar férias na Europa. Por conta do Calça.

Mesmo aqueles que já tinham perdido quase tudo em lances anteriores, mantinham um ínfimo resíduo de cotas, cujos valores nunca chegavam a zero. Pois até esses conseguiram tirar uma graninha para algo como viajar para um resort do Nordeste no fim de semana.

Como seria de esperar, a partir daquela tacada, choveu dinheiro no Fundo FNJ... no Calça.

Costuma-se dizer que o mercado é uma combinação de ganância e medo. Pois deveríamos acrescentar a inveja. Entre os traders do Rio e de São Paulo, os que ficaram de fora daquela parada (vale dizer, quase todo mundo) resolveram aplicar forte.

“Se aquele cagão do Abelardo aplicou 50 mil cruzeiros (equivalentes a cem dólares; sim giovinezza, nós já tivemos uma baita inflação) e ganhou cinco milhões (dez mil dólares)”, deduziu um ‘ganancio-invejoso’ , “basta eu pôr uma quina (meio milhão) e ficar repetindo isso todo mês. Na hora que o Calça der a próxima porrada, vou ficar rico.”

Honestamente, quando começou a chover dinheiro, nós, os gestores, ficamos com medo. Porque sabíamos que a possibilidade de acontecer novamente era muito remota. E agora os caras estavam entrando pra valer. Por isso, mudamos o approach. Nossos out of the money já não eram tão outs assim. As chances de um acerto se repetir ficaram maiores. Mas o resultado seria muito menor.

Fomos salvos pelo Banco Central, que proibiu expressamente fundos de alto risco (já estavam surgindo outros) e determinou que todos os fundos fechados, independentemente de quaisquer cláusulas aceitas pelos cotistas, teriam de cumprir as regras dos fundos em geral: diversificação, limites por empresa, etc.

Devolvemos o dinheiro dos aplicadores e fechamos o Calça de veludo, não sem uma ponta de tristeza. Isso não impediu que eu continuasse com o meu Calça particular, pois sempre fui chegado a uma call ou put out of the money e até mesmo a algumas deep out of the money. Isso até acontecer uma das maiores frustrações de minha vida de trader.

Decepção

Em 1987, eu estava convicto de que a Bolsa de Valores de Nova York sofreria um crash. Naquela ocasião, eu escrevia uma newsletter mensal, a Relatório FNJ, e antecipei esse crash para meus assinantes. Me baseara em um artigo do economista John Kenneth Galbraith que jurava que a queda seria similar à de 1929.

Para o vencimento Setembro, apliquei o que tinha e o que não tinha em puts fora do dinheiro (pronto, estou me abrasileirando) do S&P 500 na bolsa de futuros de Chicago.

Chegou o vencimento e, como a bolsa não caiu, minhas opções viraram pó. Só me restava fazer a rolagem, comprar puts para dezembro. Só que aí o time value tinha muito valor, que se refletia no preço das opções. Resolvi esperar um mês, um mês e pouco, para adquirir as puts.

Veio então a sexta-feira 16 de outubro de 1987 e o mercado levou um tombo colossal. Mais importante: fechou nas mínimas do dia, da semana, do mês, do ano. Quem examinou os gráficos após o fechamento percebeu que o crash do Galbraith aconteceria na segunda-feira, dia 19. E eu, zerado. Amanheceu a segunda, que até hoje os historiadores do mercado chamam inimaginosamente de Black Monday, e o S&P já abriu com um gap de 25%. Isso mesmo, 25% abaixo do fechamento da sexta.

Se eu tivesse rolado minha posição um mês antes, pagando o pedágio do tempo, teria ganho alguns milhões de dólares.

Perdi completamente o entusiasmo pela profissão de trader que, àquela altura, já exercia há 29 anos. Concluí que o mercado era claramente dividido entre winners e losers e que eu pertencia à segunda classe.

Fui salvo pelo grande bull market da soja, menos de um ano depois, quando dei a grande tacada de minha vida. Foi meio por sorte, meio por desespero.

O certo é que multipliquei meu dinheiro e o dos clientes cujas carteiras administrava por 50, isso em pouco mais de um mês.

Sem que o Banco Central pudesse fazer nada a respeito, o Calça de Veludo ressuscitara.

Compartilhe

QUERIDINHO DO MOMENTO

A hora e a vez dos fundos imobiliários de tijolo — Santander recomenda os FIIs com maior potencial de valorização

4 de setembro de 2022 - 12:32

Um dos grupos que mais sofreu desde o início da pandemia e, em seguida, com aumento da taxa de juro, os FIIs que compram, vendem e gerenciam ativos reais voltam a brilhar

ENTREVISTA

Gauss vê preferência do mercado por Bolsonaro contra Lula e aposta em dólar forte — menos contra o real

23 de agosto de 2022 - 6:17

Fabio Okumura, sócio-fundador da Gauss e responsável pela gestão de R$ 2,5 bilhões, tem visão favorável para o país, mas diz que não tomaria posição de longo prazo com base no resultado das eleições

FUNDOS

Squadra acerta com aposta na queda de Nubank e IRB, mas tem perda com ações da XP

15 de agosto de 2022 - 10:44

A aposta na queda das ações do Nubank rendeu a maior contribuição dentro do portfólio short (vendido) da Squadra no primeiro semestre

COMPRANDO MAIS

TC — antigo Traders Club — compra gestora Pandhora Investimentos por R$ 15 milhões

10 de agosto de 2022 - 10:16

Desde o IPO feito em julho de 2021, TC (TRAD3) vem aproveitando o dinheiro para fazer uma série de aquisições no mercado

FII do mês

Dupla de FIIs de logística domina lista dos fundos imobiliários mais recomendados para agosto; confira os favoritos de 10 corretoras

8 de agosto de 2022 - 11:01

Os analistas buscaram as oportunidades escondidas em todos os segmentos de FIIs e encontraram na logística os candidatos ideais para quem quer um show de desempenho

A BOLHA ESTOUROU?

Investidor de Nubank e Inter, Softbank tem maior prejuízo trimestral da história

8 de agosto de 2022 - 10:47

Com o naufrágio das empresas de tecnologia na bolsa, o grupo japonês registrou prejuízo trimestral equivalente a R$ 122 bilhões

Market Makers

Gestor de um dos fundos mais voláteis — e rentáveis — do mercado teme “terceiro turno” na disputa entre Lula e Bolsonaro

5 de agosto de 2022 - 16:43

Gestor-trader Cláudio Coppola calcula probabilidade de 20% de Bolsonaro pedir recontagem após segundo turno acirrado contra Lula

Também tem risco!

Melhor momento para investir em renda fixa ainda está por vir – mas convém evitar emissores desses setores

28 de julho de 2022 - 21:02

Ulisses Nehmi, da Sparta, e Marcelo Urbano, da Augme, gestoras especializadas em crédito privado, falam das perspectivas para a renda fixa e os setores mais promissores ou arriscados

AUTORREGULAÇÃO

Populares, mas pouco transparentes? Anbima vai criar novas regras para fundos que investem em criptomoedas

21 de julho de 2022 - 12:54

O patrimônio de fundos que investem em ativos digitais disparou 680% de dezembro de 2020 a abril de 2022, para os atuais R$ 4,7 bilhões

FOME DE AQUISIÇÕES

Vinci Partners quer levantar US$ 1,4 bilhão para novos fundos de private equity e de energias renováveis

13 de julho de 2022 - 10:45

O fundo atual da Vinci, gestora formada por ex-sócios do atual BTG Pactual, possui na carteira empresas como rede de pizzarias Domino’s e o banco digital Agi

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar