Esqueça Brasília, quem dita o rumo do Brasil e do mundo é a China, diz Volpon do UBS
Em livro recém-lançado, economista do UBS e ex-diretor do BC, Tony Volpon, também nos conta que a crise financeira não foi culpa dos homens de olhos azuis nem da tal ganância dos mercados
Quando falo "esqueçam Brasília" é no sentido de que precisamos entender que nem tudo de bom ou de ruim vem de Brasília. Comparada ao resto do mundo, a capita federal é muito menos importante do que o senso comum acredita.
Escolho esse raciocínio do economista-chefe do UBS para o Brasil, Tony Volpon, para começar a contar a história de como a China se tornou o grande fato do nosso tempo, de como a crise financeira é o grande evento da nossa época e como isso desenhou respostas domésticas não só em termos econômicos, mas também políticos.
No recém-lançado "Pragmatismo Sob Coação: Petismo e Economia em um Mundo de Crises" (Alta Books), Volpon nos apresenta a narrativa de como os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tiveram muito de seu sucesso e fracasso em função das decisões de política da China e como isso ainda não foi compreendido por aqui.
Além de detalhar sua tese que dá título à obra, Volpon também releva interessantes episódios de quando esteve na diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), comandado por Alexandre Tombini na época.
Pobres financiando ricos
Vamos começar pela China e suas decisões de política econômica, que formam o pano de fundo para a grande crise financeira (GCF).
De acordo com Volpon, a entrada na China da economia global, no começo dos anos 2000, trouxe um choque de oferta positivo para o mundo. Mas o modelo escolhido pelos chineses, de “repressão ao consumo”, privilegiando a demanda externa, resultou em uma enorme acumulação de reservas internacionais, que beirou os US$ 4 trilhões.
Essa poupança precisava ser investida e o dinheiro acumulado pelo chinês foi parar nos títulos do Tesouro americano. No entanto, o que o excesso de poupança chinesa precisava financiar eram os consumidores americanos, não o governo.
A saída veio pelo mercado financeiro, que ficou com o risco de crédito dos consumidores americanos, que se financiaram com o dinheiro que os chineses deixam de usar no seu consumo doméstico.
Por isso a explosão de instrumentos financeiros, securitização, crescimento dos bancos de investimentos e do que se chama de “shadow banking”, ou seja, instituições fora do sistema financeiro que acabavam atuando como bancos.
Segundo Volpon, essa é a verdadeira razão da crise, apesar da narrativa prevalente moralizar a questão e colocar a crise como resultado dos excessos de um sistema financeiro fora de controle. (Lembram que o Lula disse que a crise foi causada por gente branca de olhos azuis?)
O início do ciclo financeiro é sempre positivo, mas ele cria sua própria fragilidade. Os riscos foram se acumulando, a qualidade dos ativos caindo (lembra da hipoteca subprime?). O retorno para cada unidade de risco cada vez menor.
Junto disso, tivemos o aumento no custo do dinheiro (funding). O mundo vinha do estouro da bolha das “pontocom” e dos atentados de 11 de setembro, que tinham levado o Fed a deixar o juro baixo. Mas em 2007, a taxa já tinha voltado para a linha dos 5%.
A resposta dos Bancos Centrais e suas consequências também ajudam a entender o ressurgimento dos movimentos políticos populistas. A política de juro zero e afrouxamento quantitativo, que agora voltam a ser retomadas, favoreceu demais os mais ricos, mesmo que tenhamos visto melhora no crescimento.
“O populismo vem dessa estagnação e concentração de renda. Acredito piamente que a resposta dada pelos BCs foi um dos fatores que piorou a distribuição de renda. Eles tentaram levantar a atividade via mercado financeiro, via efeito riqueza”, explica.
Lula e Dilma nesse contexto
O sucesso de Lula vem muito do dinamismo chinês, que basicamente fez o Brasil ganhar cada vez mais pelas coisas que sempre produziu (os chamados ganhos nos termos de troca).
Além disso, explica Volpon, Lula foi “vítima” do pragmatismo sob coação, ao ter de fazer um início de governo bastante ortodoxo, para lidar com distorções causadas pelo temor com sua própria eleição.
Sua guinada mais à esquerda no segundo mandato decorre justamente da melhora de ambiente global, que, segundo Vopon, dá mais liberdade para um governo de esquerda, ser de esquerda.
Um ano emblemático, segundo Volpon, foi 2010. Crescimento de 7,5%, pré-sal entrando como um “bilhete premiado”, o Cristo Redentor decolava na capta da “The Economist”. Aqui, diz Volpon, faltou o entendimento que muito disso foi reflexo do crescimento da própria China e não exclusivamente em função das políticas anticíclicas adotadas pelo governo de plantão.
Segundo Volpon, 2015 marcou o fim do modelo chinês de crescimento de até então. O país asiático enfrentou sua própria crise, com desvalorização forte de sua moeda. Foi neste ano, segundo o economista, que nasceram duas tendências que perduram até hoje: queda nos termos de troca e redução no fluxo de investimentos para emergentes.
“O governo Dilma teve o azar de pegar esse movimento. Ela herdou o governo sobre expectativas irrealistas. Mercado e mundo político acharam que a economia iria crescer 4% para sempre. Chega 2011 e a economia cresce 2%. Ela entra em pânico e reverte seu início de mandato ortodoxo”, diz o economista.
Volpon nos explica que ao contrário de Lula, Dilma pegou uma economia já aquecida, com restrições de oferta, e um movimento global negativo. A resposta, via nova matriz macroeconômica – forçar juro para baixo, câmbio para cima e um fiscal mais solto – foi, segundo Volpon, uma tentativa de reverter o imposto negativo que estava vindo da China.
De acordo com Volpon, o entendimento completo daquilo que nos levou à grande recessão de 2014 a 2016, que dura até hoje, passa por compreender que a raiz começa na China e passa por resposta inadequada do governo, que achava que a resposta estava em Brasília, quando não estava.
Para encerrar, uma forma de entender o conceito de “pragmatismo sob coação” é lembra que no Brasil os investidores locais também são atores políticos, com “skin in the game”, pele no jogo. Exemplo disso é que cerca de 90% de nossa dívida está com investidores locais. Por isso que não vemos rompimentos tão agudos quando o da Argentina. Aqui, diz Volpon, o viés é de resolver problemas fiscais via ajustes não disruptivos (inflação ou calote).
“No brasil tem ‘skin in the game’. Isso gera o pragmatismo de coação nos governos”, finaliza.
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