🔴 EVENTO GRATUITO: COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE

Estadão Conteúdo
Tá na hora de pensar fora da caixa

Em crise, montadores buscam reinvenção

Planos das empresas incluem desde venda de operações deficitárias ou de baixo retorno financeiro até aplicação de novas tecnologias

Montadora de carros e veículos
Demissões estão no radar das montadorasImagem: Shutterstock

O processo de reestruturação global da indústria automobilística que fez da Ford do ABC paulista sua primeira vítima no Brasil já levou ou levará em breve ao fechamento de pelo menos 20 fábricas, a maior parte na Europa e nos EUA. Em busca de receitas para aplicar em tecnologias e produtos para atender a uma nova demanda de consumidores, as multinacionais estão se desfazendo de operações deficitárias ou de baixo retorno financeiro. Novas baixas vão ocorrer nos próximos anos.

O efeito sobre o emprego será "brutal", diz o presidente da Associação Europeia de Fabricantes de Veículos (Acea), Carlos Tavares, também presidente da francesa PSA Peugeot Citroën.

Segundo ele, só neste ano, foram anunciadas 30 mil demissões. Para Tavares, as mudanças estão sendo feitas rápido demais para atender as novas legislações, principalmente, nos países europeus.

Paralelamente, as montadoras se preparam para acompanhar as mudanças tecnológicas se juntando a empresas que dominam mais o tema. Na última década, adquiriram 443 startups em especial dos setores de manufatura 4.0, eletrificação, compartilhamento e conectividade.

Um exemplo é a General Motors, que vai fechar dez fábricas na América do Norte, Ásia e Austrália. Por outro lado, investiu em 44 startups, das quais 22 ligadas à eletrificação e manufatura digital, segundo estudo da consultoria KPMG.

No Brasil, após concluir negociações com governos, funcionários, revendas e fornecedores para reduzir custos, a GM anunciou, semana passada, novo plano de investimento de R$ 10 bilhões.

Em janeiro, a presidente mundial da empresa, Mary Barra, disse que não continuaria investindo na América do Sul "para perder dinheiro" e exigiu a volta da lucratividade este ano.

Para o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, "a indústria automobilística mundial passa por um furacão e trava uma luta pela sobrevivência".

O que impressiona, diz ele, é que o setor enfrenta quatro ameaças simultâneas: a posse do carro já não é desejo de muitos jovens; o modelo de negócios deixa de ser só de produção e venda de carros e inclui prestação de serviços; a mudança do motor a combustão para os elétricos e, depois, autônomos; e o uso maior da tecnologia embarcada. "São quatro linhas de mudanças globais definitivas que exigem desafio gigantesco".

Ociosidade

Além de atender a uma nova demanda voltada a utilitários-esportivos (SUVs) e picapes, e no médio e longo prazos à produção voltada a elétricos e autônomos, o movimento de reestruturação tenta aliviar a alta ociosidade das fábricas.

Dados da PricewaterhouseCoopers (PwC) mostram que, neste ano, 41,8 milhões de veículos vão "sobrar" nas fábricas de todo o mundo (ver quadro). Desse total, 2 milhões são no Brasil, onde a indústria tem capacidade para 5 milhões de veículos.

No mundo, as montadoras têm capacidade para 139,7 milhões de automóveis e comerciais leves, mas a produção prevista para este ano é de 98 milhões. A ociosidade de 40% começará a regredir até chegar em 28% em 2025.

Ainda assim, haverá "sobra" de 32 milhões de veículos, pois a capacidade produtiva continuará crescendo, ainda que em ritmo menor. Segundo Mendonça de Barros, mesmo sem o fenômeno dos elétricos e autônomos, que exigirá profunda mudança no jeito de se produzir veículos, "teria de ocorrer uma concentração porque há mais fábricas do que demanda, no Brasil e no mundo".

Novo negócio

"Há uma necessidade das grandes fabricantes de se reposicionarem para um ambiente de negócios muito diferente do atual", afirma Ricardo Bacellar, diretor da KPMG. "Elas precisam buscar novos negócios para oferecer serviços de mobilidade e, para crescer numa área precisa tirar de outra."

No caso da Ford, a decisão da matriz foi abandonar a produção de sedãs e focar em SUVs e picapes, modelos mais atraentes ao consumidores e mais lucrativos. Também desistiu dos caminhões, o que levará ao fechamento da fábrica do ABC.

"Infelizmente estamos vendo a indústria automotiva mundial num processo de reestruturação, com fechamento de unidades, o que é muito preocupante", diz Valter Sanches, secretário-geral do IndustriALL, entidade que reúne 608 sindicatos de 140 países. "O impacto vai muito além dos trabalhadores e suas famílias, pois impostos deixam de ser arrecadados, o que é ruim para os países."

Além do Brasil, a Ford fechará fábricas em vários países. Em 2018, o grupo fez uma aliança global com a Volkswagen para o desenvolvimento de picapes, vans e novas tecnologias.

Trabalho de pai para filho

Tomas Ormundo tinha um ano quando o pai, migrante recém-chegado da Bahia, conseguiu emprego na Ford como supervisor de manutenção e lá trabalhou por 30 anos até se aposentar. Ele sempre admirou o trabalho do pai e, aos 20 anos, seguiu seu caminho e ingressou na montadora como mecânico de manutenção.

Hoje, aos 51 anos, é analista de processos e teme a demissão. É com seu salário e o da mulher, Alessandra, que consegue manter o sustento da família, da casa e da escola dos quatro filhos: Rafaela, de 9 anos, os gêmeos Pedro e Maria Júlia, de 10, e Isabela, de 19.

Toda a família, quando pode, acompanha Ormundo nas manifestações contra o fechamento da fábrica e pela manutenção dos empregos dos cerca de 3 mil funcionários diretos e 1,5 mil terceirizados. "Conversamos abertamente com as crianças sobre a situação e elas sabem dos problemas que podemos ter."

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o salário médio dos funcionários é de R$ 6 mil, similar ao de outras montadoras da região.

Quem também seguiu o exemplo do pai - operário da Ford por 18 anos - e do tio - na empresa há 28 anos - é o montador Ramon Voga, de 38 anos. Formado em Farmácia, trabalhou por sete anos na área, mas sonhava em produzir carros. Em 2008, conseguiu a vaga e, desde então, vinha crescendo profissionalmente. "Eu amo o que faço", diz. "A notícia do fechamento chocou a todos, pois muitos sonhos serão interrompidos." Pai de gêmeas de 3 anos, Voga teme pela perda de renda e diz que a direção da empresa é desrespeitosa com os trabalhadores da forma como está agindo.

Jailson dos Santos, de 48 anos, trabalhou em três fábricas da Ford nos últimos 24 anos. Começou em 1995 na unidade de fundição em Osasco (SP), que fechou as portas três anos depois. Foi transferido para a de caminhões no bairro do Ipiranga, onde ficou até 2001, quando a Ford vendeu a área e concentrou a produção em São Bernardo. Hoje, teme pelo que vem pela frente, pois não há mais chance de transferência. "Se perder esse emprego dificilmente consigo outro igual", diz.

Ele mora em Carapicuíba (SP) com a mãe e três irmãos, um deles especial. "Me preocupo muito, pois pago caro por um convênio bom para ele e, sem trabalho, o impacto nas despesas será grande."

*Com o jornal "O Estado de S. Paulo".

Compartilhe

AGORA VAI?

Sabesp (SBSP3): Câmara de São Paulo retoma debate da privatização, mas vereador contrário à proposta defende plebiscito

23 de abril de 2024 - 19:47

O projeto de lei que possibilita a privatização foi aprovado em primeira votação no dia 17 deste mês, mas não há data prevista para a segunda votação, que será definitiva

CONFORME O COMBINADO

Acionistas da Cielo (CIEL3) rejeitam novo laudo de avaliação em oferta de Bradesco e Banco do Brasil para fechar o capital da empresa

23 de abril de 2024 - 19:26

A rejeição ocorre após um acordo entre parte dos minoritários e os bancos que elevou para R$ 5,60 o preço por ação na OPA, uma alta 4,67% ante a oferta original

A MÁGICA DO BILIONÁRIO

Elon Musk é um encantador de investidores? Por que a Tesla tem o menor resultado em três anos e as ações TSLA sobem forte em Nova York

23 de abril de 2024 - 18:55

A fabricante de carros elétricos anunciou lucro e receita piores do que o esperado no primeiro trimestre de 2024 e viu seus papéis avançaram quase 10% no after market; entenda o que animou os investidores

OPERAÇÃO APROVADA

Weg (WEGE3) recebe sinal verde dos investidores para aumentar o capital em R$ 1 bilhão

23 de abril de 2024 - 18:29

A operação será feita por meio da incorporação de parte do saldo de reserva e retenção de lucros para investimentos da empresa

SOBRETAXA NA SIDERURGIA

Novo imposto do aço: Governo aumenta taxa para importação em meio a apelo das siderúrgicas. Vem impacto na inflação?

23 de abril de 2024 - 17:45

A alíquota subirá para 25% quando as cotas estabelecidas pelo governo forem ultrapassadas; veja os produtos que podem ser sobretaxados

DE OLHO NAS REDES

Novo Ozempic? “Cópia” da caneta emagrecedora será distribuída no Brasil por small cap que já disparou 225% — Ambev sofrerá? 

23 de abril de 2024 - 15:55

As ações desta small cap brasileira chegaram a disparar mais de 70% com a notícia: um medicamento similar ao Ozempic será distribuído no Brasil. Em seis meses, a alta já ultrapassa os 225% na bolsa.  “O remédio é um dos maiores temas do mercado de uns tempos para cá — ao lado da inteligência artificial”, […]

REAÇÃO AO RESULTADO

Mais um trimestre para esquecer? Usiminas cai forte na B3 após balanço do 1T24. Saiba o que o CEO da siderúrgica disse sobre os resultados

23 de abril de 2024 - 13:59

“2024 começou com forte importação e competição desleal”, afirmou o CEO da Usiminas, Marcelo Chara, em teleconferência com analistas

A CALORIA QUE VALE A PENA

Vai um Assaí aí? Por que esse bancão resolveu mudar a recomendação das ações ASAI3 — papéis reagem e sobem na B3

23 de abril de 2024 - 12:45

O JP Morgan elevou a recomendação para as ações do Assaí, com preço-alvo de R$ 17,50 para dezembro de 2024 — os papéis chegaram a ocupar o terceiro lugar no pódio de altas do Ibovespa; saiba por que chegou a hora de comprar

FRUTOS DO MATRIMÔNIO

3R Petroleum (RRRP3) e Enauta (ENAT3): esse bancão diz o que esperar da fusão entre as petroleiras juniores da B3 — e qual ação comprar agora

22 de abril de 2024 - 18:44

Na projeção do banco, o casamento entre as junior oils pode ser concluído até o fim do 3T24 — e já conta o que os investidores devem esperar pela frente

TER OU NÃO TER

Lula liberou os dividendos extraordinários da Petrobras (PETR4) e pode vir mais por aí — chegou a hora de comprar as ações para aproveitar a oportunidade?

22 de abril de 2024 - 13:55

Cinco bancões revisitaram as indicações para os papéis da estatal depois do anúncio de sexta-feira (19); saiba o que fazer com os ativos agora

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar