Comprados e vendidos estão, novamente, em uma acirrada disputa no mercado de dólar. A linha a ser observada nessa batalha é a barreira técnica e psicológica de R$ 4,20, que marca a máxima histórica nominal do mercado de câmbio.
Nesta quinta-feira, tivemos um ajuste de baixa na abertura no mercado à vista, algo não surpreendente tendo em vista que houve um descolamento como mercado futuro no pregão de ontem, provocado, vejam só, por anúncio do Banco Central do Chile.
Depois de ver o peso fazer mínimas históricas, o BC chileno anunciou atuação no mercado, no volume de US$ 4 bilhões em operações de swap. Quem reagiu prontamente foi o dólar futuro no mercado brasileiro, que reduziu bruscamente o ritmo de alta.
Por aqui, como já dissemos, segue a expectativa com relação ao que o nosso Banco Central (BC) poderá fazer caso essa linha de R$ 4,20 seja rompida para cima. No mercado futuro, no começo da tarde, a cotação bateu R$ 4,203. No mercado à vista, a máxima do dia foi renovada em R$ 4,1988. Por volta das 15h10, o dólar comercial subia 0,22%, a R$ 4,1947 (veja nossa cobertura de mercados).
Já dissemos, mas não custa reforçar, que o BC não atua para defender linha de preço ou tentar mudar a tendência do mercado. O BC entra no câmbio quando detecta movimentos de falta de liquidez ou variações muito dispares de moedas semelhantes ao real.
No entanto, no mercado, a linha é de R$ 4,20 é o que determina compras e vendas e a eventual atuação do BC é que ditará o alívio do vendido ou tristeza do comprado.
Aqui temos uma assimetria de percepção, por assim dizer. Se o BC atua no R$ 4,20, como fez em agosto, cria uma "quase certeza" no vendido, que ele sempre será "salvo". Se não atua, corre o risco de ver uma arrancada na cotação, com vendidos cobrindo posição e comprados dobrando a aposta.
Olhando além do famoso “bate carteira” do dia a dia, temos que o conjunto de vetores que influi na formação de preço é desfavorável ao real. A liquidez em dólar no mercado local está escassa e não é de hoje.
Já mostramos que o fluxo cambial, em 12 meses, capta a maior saída de dólares do país desde que abandonamos o regime de bandas cambiais em 1999, coisa na casa dos US$ 40 bilhões. Boa parte da saída reflete a troca de dívida externa por interna de empresas, entre elas a Petrobras.
Há também o quase fim das operações de arbitragem de juros com real, reflexo da queda da Selic e no estreitamento entre juros locais e externos.
Mais recentemente, no lado das expectativas, tivemos uma perspectiva de ingresso de dólares frustrada com o leilão do pré-sal, o que obrigou boa parte dos agentes a rever posicionamentos. Junto disso, tivemos agravamento de problemas políticos na região, notadamente no Chile (e vimos com isso pesa na cotação) e Bolívia.
Além disso, estamos entrando em um período sazonalmente negativo em termos de fluxo. Empresas e investidores fecham balanços e elevam as remessas para fora do país. Junto disso, a balança comercial, que já não está nada vibrante, também tem desempenho mais fraco nesse período do ano (sazonalidade de safras).