Não é só o brasileiro que gosta dos juros altos da renda fixa local. O investidor estrangeiro também entrou nessa onda e está colocando cada vez mais dólares nesses investimentos. Mais precisamente: US$ 29,2 bilhões até setembro.
Esse montante é equivalente a algo em torno de R$ 156,87 bilhões — o maior volume de captação de dívida brasileira no mercado externo desde 2014, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
E não deve parar por aí. Até o final de 2025, Guilherme Maranhão, presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da Anbima, acredita que mais dinheiro estrangeiro deve entrar por meio de captação de renda fixa.
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“A captação internacional continua muito forte e a tendência é atingir o valor volume de todos neste ano. No final do ano, depois do Dia de Thanksgiving [celebrado neste ano em 27 de novembro], uma nova janela deve se abrir e consolidar o ano”, disse Maranhão.
Segundo os dados da Anbima, o apetite internacional está bom para os diferentes emissores brasileiros: empresas, instituições financeiras e o Tesouro Nacional. Entretanto, a renda fixa corporativa teve mais entrada de dólares, seguida pelos títulos públicos.
Captação de renda fixa pelos estrangeiros:
- Empresas: US$ 17,1 bilhões;
- Tesouro Nacional: US$ 8,5 bilhões;
- Instituições Financeiras: US$ 3,6 bilhões.
Embora o volume total seja significativo, o Tesouro Nacional é o que se saiu melhor com a captação de renda fixa no mercado externo.
Em 2021, as empresas superaram os US$ 17 bilhões deste ano ao captar US$ 20 bilhões. No entanto, o montante de US$ 8,5 bilhões dos títulos públicos é recorde total, superando o recorde do ano passado, de US$ 6,5 bilhões.
Hora das debêntures
Ainda no mercado de renda fixa — mas agora para os investidores locais — as debêntures vivem mais um ano extraordinário.
No trimestre passado, os diretores da Anbima afirmavam que seria difícil para o setor superar o recorde do ano anterior. Entretanto, ao fechar os números até setembro, o discurso mudou:
“São números positivos e já conseguimos, ainda que por pouco, superar o mesmo período de 2024. Acho que estamos observando uma mudança de patamar. Algo estrutural. Um novo volume de ofertas que veio para ficar, e que nunca tínhamos visto”, disse César Mindof, diretor da Anbima.
Entre janeiro e setembro, o volume de captação das debêntures atingiu R$ 317,6 bilhões. No ano passado, no mesmo período, a captação foi de R$ 315,6 bilhões.
Para se ter uma ideia da predominância do instrumento, esse volume de debêntures representa 65% de todas as captações de renda fixa corporativa no ano, mapeadas pela Anbima.
Os títulos incentivados, com isenção de imposto de renda, são o destaque dentro do destaque. Os ativos superaram a marca de R$ 100 bilhões em captação pela primeira vez, ao fechar o acumulado do ano até sempre em R$ 113,6 bilhões.
“É uma quebra de recorde relevante. As incentivadas já representam um terço do mercado, e isso é mais significativo quando se olha para o prazo desses instrumentos, com uma média de 13 anos”, diz Maranhão.
Vai continuar bombando
Para o diretor na Anbima, a força das debêntures chegou para ficar. Mindof afirmou em conversa com os jornalistas nesta segunda-feira (20) que o Brasil tem contratado para o futuro uma série de projetos grande no setor de infraestrutura.
“Quando se olha para o estrutural, para esse volume grande de projetos à frente, dá para confiar que as debêntures vão manter esse volume relevante e tem espaço para crescer ainda”, disse Mindof.
Maranhão ainda acrescentou que uma parte significativa do volume desses títulos de renda fixa para a carteira de fundos, que também estão crescendo. Ou seja, a demanda não é só de investidores, mas de institucionais também.
E ambos se encontram no mercado secundário — negociação entre investidores e instituições na plataforma de corretoras —, onde as debêntures trocam de mãos entre investidores.
Para a Anbima, o crescimento das negociações de debêntures no mercado secundário é mais um sinal de crescimento desse ativo de renda fixa.
Entre janeiro e setembro, as emissões cresceram ligeiramente frente a 2024. Já o secundário aumentou 22,6% no mesmo período, para R$ 651,4 bilhões em negociações no mesmo período.