Donald Trump já ameaçou Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), até de demissão — dizem que o republicano chegou a escrever o rascunho da carta para tirar Powell do comando do banco norte-americano. Mas nesta terça-feira (12), o chefe da Casa Branca inovou na pressão pelo corte de juros nos EUA.
Trump afirmou que pode processar Powell. O motivo é conhecido do público: a reforma bilionária da sede do Fed, em Washington.
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Em um post na rede Truth Social, Trump critica o presidente do banco central norte-americano, chamando-o de perdedor e atrasado demais, mas não deixa claro se o processo judicial a que se refere na mensagem já está em andamento. A Casa Branca não havia se manifestado sobre o assunto até a publicação desta matéria.
"Jerome 'Tarde Demais' Powell deve agora reduzir a taxa", escreveu Trump no post.
E não parou por aí. "Steve 'Manouychin' realmente me deu uma 'beleza' quando empurrou esse perdedor", escreveu Trump, aparentemente culpando Steven Mnuchin por incentivá-lo a nomear Powell como presidente do Fed em 2017. Mnuchin foi secretário do Tesouro de Trump no primeiro mandato.
"O dano que ele causou por sempre chegar tarde demais é incalculável. Felizmente, a economia está tão bem que passamos por cima de Powell e do complacente conselho", afirmou Trump.
"Estou, no entanto, considerando permitir que um grande processo contra Powell prossiga devido ao trabalho horrível e grosseiramente incompetente que ele fez na gestão da construção dos prédios do Fed."
"Três bilhões de dólares por um trabalho que deveria ter sido um conserto de US$ 50 milhões. Nada bom!", escreveu ele.
A polêmica reforma da sede do Fed
A reforma da sede do Fed entrou no radar da Casa Branca em junho, quando Powell foi prestar os depoimentos semestrais no Congresso norte-americano e foi questionado por legisladores do Senado sobre o que descreveram como atualizações luxuosas na sede do Fed.
A reforma estaria orçada em US$ 2,5 bilhões. Na ocasião, Powell disse que algumas das melhorias, como as colmeias italianas, não fariam parte da reforma — mas de pouco adiantou. A partir daquele momento, o chefe do Fed passou a ser criticado por membros do alto escalão do governo de Trump, com alguns acusando-o de mentir sob juramento.
As pressões sobre Powell não vieram apenas do Congresso. Dois dos principais candidatos à substituí-lo no comando do Fed — o diretor do Conselho Econômico Nacional (NEC), Kevin Hassett, e o ex-governador do Fed, Kevin Warsh — criticaram duramente a reforma bilionária.
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Um deles disse que Trump está analisando se tem autoridade para demitir Powell, e o outro afirmou que o projeto é um exemplo de como o Fed "perdeu o rumo".
Já o diretor de orçamento da Casa Branca, Russ Vought, juntou-se à campanha para levantar questões sobre a reforma do Edifício Marriner S. Eccles e de uma propriedade vizinha na Avenida Constitution, afirmando que Powell havia "administrado o Fed de forma grosseiramente ruim" como resultado do projeto.
A pressão foi tamanha que Powell precisou se explicar sobre a reforma. Em uma carta publicada na página do BC dos EUA, ele disse que o projeto é de grande escopo e envolve uma série de melhorias de segurança e remoção de materiais perigosos.
"Conforme explicado no site público do Conselho, levamos a sério a responsabilidade de sermos bons administradores dos recursos públicos ao cumprirmos os deveres que nos foram confiados pelo Congresso em nome do povo americano", escreveu Powell em sua carta a Vought.
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O que Trump quer é juros baixos
Os meses de pressão sobre Powell acontecem porque Trump quer que os juros caiam nos EUA. Powell tem se mantido firme na defesa da taxa na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano diante dos possíveis desdobramentos das tarifas comerciais para a economia dos EUA.
Do outro lado, Trump e seus secretários são defensores ferrenhos de juros mais baixos — os mais recentes comentários da Casa Branca sobre o assunto argumentam em favor de uma taxa um ponto percentual menor do que a atual.
Nesta terça-feira (12), a pressão sobre Powell veio acompanhada de dados de inflação. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de julho subiu 0,2% ante junho, segundo dados do Departamento do Trabalho. Na comparação anual, o CPI subiu 2,7%, repetindo a variação do mês anterior e levemente abaixo das estimativas.
O dado reforçou as apostas do mercado de corte de juros em setembro e de um corte total no ano de 75 pontos-base nos EUA. Você pode conferir aqui os detalhes e a reação do mercado.