Site icon Seu Dinheiro

Ouro continua renovando recordes — e a culpa agora é do tarifaço de Trump

Ouro granulado em grande quantidade

Ouro atinge novos patamares em meio ao tarifaço de Trump

Nem tudo que reluz é ouro. Mas, neste caso, é. E ele não precisou de crise bancária ou fuga para a segurança para renovar recordes nesta sexta-feira (8).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Bastou uma carta da alfândega dos Estados Unidos, revelada pelo Financial Times, confirmando que barras de 1 quilo e 100 onças — padrão no comércio internacional — passarão a pagar tarifa de importação de 39%.

A medida atinge em cheio as exportações da Suíça, maior refinadora mundial, e reacende temores de ruptura no fluxo global do metal, levando os contratos futuros negociados na Comex, em Nova York, a renovarem o recorde intradiário: US$ 3.534,20 por onça troy — unidade padrão internacional para negociação de metais preciosos, equivalente a 31,1 gramas.

No fechamento de hoje, os contratos mais líquidos, com vencimento em dezembro, encerraram a sessão a US$ 3.491,30 por onça, variação de +1,09% no dia. Na semana, o metal avançou 3,5%. No acumulado de 2025, a alta é de 31%.

Alvo dourado

A Suíça domina o mercado global de barras de ouro, fundindo o metal em tamanhos padronizados para negociação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Somente no primeiro trimestre de 2025, exportou 450 toneladas para os EUA, em grande parte devido ao receio de que tarifas pudessem surgir — receio que se concretizou agora.

Segundo Carsten Fritsch, estrategista de commodities do Commerzbank, se não for um erro de classificação, a medida terá “implicações sérias” para o comércio global.

Isso porque o ouro suíço não abastece apenas joalherias: ele é usado como lastro em operações financeiras e como base para contratos futuros.

Efeito dominó na Comex

Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank, lembra que a Comex — bolsa de metais de Nova York — é usada como ferramenta de hedge por bancos e produtores de ouro no mundo todo. A mudança tarifária rompe o fluxo tradicional Londres–Suíça–Nova York, eleva custos e já fez a indústria de refino suspender ou reduzir embarques.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Durante a pandemia, disrupções semelhantes travaram a chamada “ponte” transatlântica do ouro. Agora, Hansen alerta para a possibilidade de um “momento TACO” — sigla para Trump Always Chickens Out, expressão usada no mercado quando o presidente recua. Caso não haja recuo, o preço de referência pode precisar se ajustar de vez ao novo cenário.

Impacto no Brasil

A instabilidade causada pelas tarifas de Donald Trump não está afetando apenas a rota Suíça–EUA. No Brasil, as exportações de ouro cresceram 60% no primeiro semestre de 2025, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

De acordo com Julio Nery, diretor de Assuntos Minerários do instituto, a disparada nas vendas se deve, principalmente, à incerteza nos mercados internacionais e à busca pelo ouro como reserva de valor.

O preço médio do metal no período subiu 39,3%, impulsionando o faturamento do setor.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O Brasil também se beneficia do uso estratégico do ouro, empregado na fabricação de componentes eletrônicos, como placas de circuito e conectores, que recebem revestimento para garantir maior condutividade e resistência à corrosão.

Entre janeiro e junho, o saldo da balança mineral brasileira foi de US$ 16,01 bilhões — 53% do superávit comercial total do país no período.

Além das tarifas

O rali do ouro também é alimentado por outros fatores: expectativa de cortes nos juros pelo Federal Reserve, medo de estagflação nos EUA e forte demanda física da China. No primeiro semestre, a Suíça exportou US$ 47,5 bilhões em ouro para os EUA, ante US$ 12 bilhões no segundo semestre de 2024.

Para Simon J. Evenett, professor da IMD Business School, a fundição deve migrar para os Emirados Árabes Unidos, onde a tarifa é de 10%. Ele vê ainda um “golpe massivo” na balança comercial suíça, e possivelmente um passo para negociações futuras de tarifas mais baixas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

*Com informações da MarketWatch e da CNN

Exit mobile version