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O caminho ao Canadá: vistos, cidadania, desafios e estratégias para brasileiros

Canadá consolidou sua imagem como um dos destinos mais desejados por brasileiros que sonham em viver no exterior

Canadá consolidou sua imagem como um dos destinos mais desejados por brasileiros que sonham em viver no exterior

Nos últimos anos, o Canadá consolidou sua imagem como um dos destinos mais desejados por brasileiros que sonham em viver no exterior. Seja pela qualidade de vida, pela segurança, pelas oportunidades de trabalho ou pelo sistema educacional, o país norte-americano se tornou um polo de atração para quem busca novas perspectivas. Estima-se que milhares de brasileiros iniciem anualmente algum processo migratório para o Canadá, seja por meio de vistos de estudo, programas de trabalho temporário ou rotas diretas de imigração permanente.

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Mas o caminho está longe de ser simples. As regras mudam com frequência, os processos são competitivos e os custos, elevados. A busca pela residência permanente ou pela cidadania exige preparo, planejamento e, sobretudo, clareza sobre as diferentes opções disponíveis. Se antes o Canadá era percebido como um país de portas abertas, hoje o cenário é mais seletivo: o governo canadense mantém a necessidade de atrair imigrantes, mas impõe barreiras adicionais para equilibrar a demanda com sua capacidade de absorção, especialmente nas áreas de moradia, saúde e mercado de trabalho.

Para os brasileiros, essa realidade representa tanto desafios quanto oportunidades. De um lado, a concorrência global é cada vez maior e exige diferenciais como alta qualificação profissional, fluência em inglês e francês e experiência comprovada. De outro, surgem caminhos alternativos que, com a estratégia correta, podem acelerar o processo – como programas provinciais, estudos no Canadá que abrem portas para o mercado local e até mesmo profissões técnicas em alta demanda.

A seguir, especialistas em imigração detalham o que mudou nos últimos anos, quais são as principais rotas para o Canadá, os erros mais comuns que podem comprometer uma aplicação e as estratégias que realmente fazem a diferença para aumentar as chances de sucesso.

Vistos temporários e permanentes: as duas portas de entrada

Para um brasileiro que deseja se mudar para o Canadá, o processo começa com a escolha do visto adequado. Existem duas categorias principais: vistos temporários e vistos permanentes. Eduardo Flit, CEO da agência Canadá com Você, explica a diferença fundamental entre eles. “O Visto Temporário permite a entrada no país para fins específicos, como realizar um curso ou atender a uma oferta de trabalho já recebida”.

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A outra via é o Visto Permanente, conhecido como Permanent Residence (PR). Flit o descreve como “o equivalente ao Green Card americano”, pois permite que a pessoa já chegue ao Canadá com o status de residente. 

Esse processo é chamado de imigração direta. Um residente permanente tem quase todos os direitos de um cidadão, com exceção do direito de votar e de possuir um passaporte canadense.

Express Entry: o sistema de pontos para imigração direta

O principal programa federal de imigração do Canadá é o Express Entry, que opera com base em um sistema de pontos. Para conseguir imigrar diretamente, o candidato precisa alcançar uma pontuação elevada, que tem se mantido em patamares altos nos últimos anos.

Eduardo Flit detalha os fatores que mais acumulam pontos no sistema. “A idade, já que candidatos mais jovens recebem mais pontos. A formação acadêmica também é crucial, com níveis mais altos, como um mestrado, rendendo mais pontos”. 

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Vancouver

Outros elementos decisivos incluem “experiência de trabalho”, onde mais anos de atuação geram maior pontuação, e a “proficiência nos idiomas”, sendo o conhecimento de inglês e francês, as duas línguas oficiais do país, um fator crucial. “Ter parentes no Canadá também pode somar pontos à candidatura”, completa Flit.

Marilene Quintana, co-fundadora e consultora sênior de imigração da e-Visa Immigration, reforça que o sistema não favorece nenhuma nacionalidade específica. No entanto, ela aponta uma vantagem para os brasileiros: “A facilidade de aprendizado do francês pela semelhança com o português”. 

Segundo Quintana, os fatores que mais pesam na pontuação são a proficiência no idioma, o nível acadêmico, a idade e a experiência profissional. Para comprovar a habilidade linguística, é necessário realizar exames de proficiência, sendo os mais comuns o IELTS e o teste canadense CELPIP.  O tipo de teste varia, existindo um de inglês acadêmico para fins de estudo e outro de inglês geral para imigração.

O caminho alternativo: estudar e trabalhar no Canadá

Para aqueles que não atingem a alta pontuação exigida pelo Express Entry, o caminho dos estudos se apresenta como uma alternativa comum e estratégica. Marilene Quintana afirma que, “apesar de não ser um programa de imigração em si, quando bem planejado, abre portas para o processo de imigração”.

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Eduardo Flit concorda, destacando que ir ao Canadá fazer um curso, como um mestrado ou uma pós-graduação, oferece vantagens. Uma delas é a obtenção de um “diploma canadense, muito valorizado no mercado de trabalho local”. Além disso, o período de estudos permite a “construção de uma rede de contatos” e a possibilidade de “trabalhar legalmente enquanto estuda”. 

Após a conclusão do curso, o estudante pode aplicar para o PGWP (Post-Graduation Work Permit), uma permissão de trabalho que pode durar até três anos. Flit ressalta que “a experiência de estudo e trabalho no Canadá concede muitos pontos no Express Entry, facilitando a obtenção da residência permanente posteriormente”.

Quintana adverte, no entanto, que a escolha do curso é uma decisão crítica. Segundo ela, “a principal armadilha é escolher um curso sem considerar se o tipo de programa, a localização e as perspectivas vão realmente abrir portas no futuro”. Por isso, ela enfatiza que “contar com planejamento junto a um consultor de imigração especializado é essencial”.

Outra via é a permissão de trabalho atrelada a uma oferta de emprego específica. Diferente do PGWP, que oferece mais flexibilidade, este visto de trabalho é restrito ao empregador. “Se a pessoa perde o emprego, ela também perde o visto”, alerta Flit. Contudo, após alguns anos de trabalho no país por essa via, também é possível solicitar a residência permanente.

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Profissões em demanda: onde estão as oportunidades

O Canadá busca ativamente profissionais em setores específicos para suprir as necessidades de seu mercado de trabalho. Flit destaca a alta demanda por profissionais em áreas de STEM (ciência, tecnologia e engenharia). Além disso, há uma grande valorização dos chamados Skilled Trades, que incluem profissões como “carpinteiro, eletricista, encanador e soldador”. As áreas de “saúde, agricultura e educação também são importantes”.

Marilene Quintana concorda, afirmando que “o mercado é favorável para profissionais qualificados, especialmente nas áreas de saúde, serviços sociais, educação e os trabalhos técnicos e especializados”. A profissional, no entanto, faz uma ressalva importante: em setores como saúde, educação e alguns ofícios técnicos, “pode ser necessário obter certificações canadenses para exercer a profissão”.

Banff

Programas provinciais: uma rota regional para a imigração

Além dos programas federais, as províncias e territórios do Canadá possuem autonomia para criar seus próprios programas de imigração, conhecidos como Provincial Nominee Programs (PNP). Esses programas permitem que as províncias recrutem imigrantes de acordo com suas necessidades econômicas e demográficas específicas. Eduardo Flit explica como o PNP pode ser uma alternativa valiosa. 

“Através do Provincial Nominee Program, uma província pode, por exemplo, selecionar um candidato do sistema Express Entry que não atingiu a nota de corte federal, mas que possui uma profissão em demanda local, e conceder pontos extras para facilitar sua imigração”. 

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Marilene Quintana também lista os programas regionais, como o RCIP (Rural Community Immigration Program), o FCIP (French Community Immigration Program), e o AIP (Atlantic Immigration Program), como caminhos legais importantes para brasileiros.

Planejamento financeiro e erros a evitar

O custo do processo de imigração é um fator que exige planejamento cuidadoso. Para quem opta pela via dos estudos, o custo médio de um curso é de aproximadamente 20 mil dólares canadenses por ano. Flit pondera que “existem cursos mais baratos, na faixa de 15 mil dólares canadenses, e outros mais caros, que podem chegar a 50 mil dólares canadenses ”. Além do valor do curso, “é preciso considerar outros custos, como visto, passagem e moradia inicial”.

Quintana oferece estimativas mais detalhadas dependendo da estratégia. Para um plano focado em estudos de francês, o custo pode variar “entre 7 mil dólares canadenses e 10 mil dólares canadenses, incluindo assessoria e taxas governamentais”. No caso de um curso superior no Canadá, o valor médio é de “15 mil dólares canadenses por ano, mais cerca de 1.000 dólares canadenses para vistos, traduções, exames médicos e taxas governamentais”.

No processo de aplicação para a residência permanente, erros simples podem comprometer todo o projeto. Os requisitos atuais envolvem proficiência em inglês ou francês, formação acadêmica e experiência profissional, que pode ter sido adquirida no Brasil. Quintana lista os erros mais comuns: 

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“Problemas em traduções, documentos incompletos ou fora do padrão exigido, validade vencida de documentos, escolha incorreta do NOC (National Occupational Classification), provas inconsistentes da experiência profissional, não declarar recusas anteriores e erros no Atestado de Antecedentes Criminais”.

Quando um pedido é negado, é fundamental entender o motivo da recusa. Quintana explica que, em muitos casos, “é possível corrigir os pontos apontados pelo oficial e reaplicar”. Em outras situações, “vale mudar de estratégia e aplicar por outro programa”. 

Se houver indícios de erro ou injustiça na decisão, é possível “pedir reconsideração ou até um Judicial Review”. Ela aconselha que “o segredo é não desanimar: perder uma batalha não significa perder a guerra”.

A etapa final: da residência permanente à cidadania

Após obter a residência permanente, o caminho para a cidadania canadense se abre. Para se tornar elegível, é preciso residir no Canadá por um período determinado. Marilene Quintana detalha os prazos atuais: “Após o PR, é preciso morar no país por dois anos, se veio como estudante ou trabalhador temporário; ou três anos, se já chegou como residente permanente”.

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O processo de cidadania inclui “uma prova de conhecimentos sobre a história, geografia e sistema político do Canadá, seguida por uma cerimônia oficial”. Após a aplicação, o trâmite é relativamente rápido, levando de seis meses a um ano, segundo os profissionais. Ao se tornar cidadão, a pessoa adquire todos os direitos, incluindo “o de votar e ter um passaporte canadense”.

Ottawa

As recentes mudanças na política de imigração

O Canadá não está fechando suas portas, mas ajustando o fluxo de novos imigrantes para garantir um “crescimento sustentável”, como define Eduardo Flit. É que, após a pandemia, o país recebeu um número de imigrantes e estudantes acima de sua capacidade de absorção, o que pressionou serviços como moradia e saúde. “Como resultado, o governo implementou medidas para controlar esse fluxo, tornando o processo mais exigente. A necessidade de imigrantes continua, pois a economia do país depende deles”.

Entre 2023 e 2025, o cenário da imigração para o Canadá passou por uma série de mudanças significativas, detalha Marilene Quintana. “Em 2023, foram criadas categorias específicas nas rodadas do Express Entry e houve alteração na forma de comprovar fundos para estudo”, conta a profissional.  

Já em 2024, o governo reduziu a meta de imigrantes, estabeleceu uma quota para residentes temporários, modificou as regras do Post-Graduation Work Permit (PGWP) e impôs novas restrições ao processo de obtenção de uma oferta de trabalho validada por meio do Labour Market Impact Assessment (LMIA). 

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Em 2025, as mudanças continuaram, como conta Quintana: foram alterados os critérios de elegibilidade do visto de trabalho para cônjuges e introduzidas novas categorias no Express Entry, que retirou algumas profissões de TI da lista e incluiu novas ocupações na área de Skilled Trades.

A agente observa que “essas mudanças impactaram quem já estava no Canadá, alterando planejamentos em andamento”. Para quem inicia o planejamento agora, com as regras já estabelecidas, porém, é possível traçar “um plano mais consistente”.

O panorama dos brasileiros no Canadá

Dados recentes ilustram o fluxo contínuo de brasileiros para o Canadá. Em 2024, 5.985 cidadãos brasileiros obtiveram a residência permanente, posicionando o Brasil como a 19ª maior nação de origem de novos imigrantes, segundo a Immigration.ca

Informações oficiais do governo canadense, de 2020 a 2024, confirmam essa presença constante por meio de residência permanente, vistos de estudo e de trabalho. Embora o Brasil se mantenha entre os 20 principais países de origem, sua posição tem flutuado, o que indica uma crescente competição global por um lugar no Canadá, conforme a pesquisa Top 10 Source Countries Of New Permanent Residents Of Canada In 2024, da mesma instituição. 

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Um fenômeno interessante é a estratégia de usar cursos de idiomas como porta de entrada. O Brasil se destaca não nas universidades, mas nas escolas de línguas. Em 2024, o país foi a segunda maior fonte de estudantes para escolas de línguas associadas à Languages Canada, com 10.685 matrículas, de acordo com o report Canada's Official Languages Programs 2024 - Annual Survey Report.

Essa tendência aponta para uma estratégia de pathway (caminho preparatório). Muitos brasileiros chegam para aprimorar o inglês ou o francês, um passo crucial para se qualificarem para programas de imigração econômica como o Express Entry. Após o curso de idiomas, é comum que transitem para faculdades que oferecem a permissão de trabalho de pós-graduação (PGWP), que funciona como uma ponte essencial para a residência permanente.

Para maximizar as chances de sucesso, Quintana recomenda um “planejamento estratégico com plano A e B”, mapeando pontos fortes e riscos. Ela também aconselha “contar com suporte profissional de qualidade para cada etapa” e “estar atento às oportunidades e agir rápido, sem perder prazos”. O erro mais comum, conclui, “é deixar para correr atrás tarde demais – e perder oportunidades que poderiam ter sido aproveitadas”.

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