A Desktop (DESK3) pode estar se preparando para dizer adeus à bolsa brasileira. A Claro, do grupo mexicano América Móvil, está em negociações avançadas para comprar a operadora de infraestrutura de banda larga, de acordo com informações do Brazil Journal.
Em meio aos rumores, as ações da Desktop chegaram disparar cerca de 15% ao longo da sessão da última terça-feira e encerraram o pregão com valorização de 9,71%, cotadas a R$ 11,30. Apesar da alta, os papéis ainda têm desempenho inferior aos pares do setor no acumulado do ano.
Em comunicado ao mercado, a Desktop confirmou que já teve conversas preliminares não vinculantes com a telecom sobre uma potencial transação. Porém, até o momento, a empresa diz que "não houve acordo sobre preço, estrutura e demais condições".
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Segundo o documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Desktop afirma avaliar "continuamente oportunidades que possam contribuir para o desenvolvimento de seus negócios e para a geração de valor".
O que está em jogo na proposta da Claro
De acordo com o site, a negociação com a Claro prevê a aquisição completa da Desktop, o que poderia levar ao fechamento do capital da empresa, tirando de vez as ações DESK3 da bolsa.
Neste momento, a Claro estaria conduzindo um processo de due dilligence — etapa fundamental para fusões ou aquisições —, mas ainda não fez uma oferta formal pela empresa, ainda de acordo com a publicação.
Caso a operação fosse para frente, esta seria a primeira vez que uma das três grandes operadoras de telecomunicações do país compraria um provedor de serviços de internet (ISP).
Para o BTG Pactual, o negócio seria estrategicamente relevante para a Claro Brasil e fortaleceria a posição competitiva da telecom, especialmente em São Paulo.
Porém, uma eventual transação seria relativamente pequena para a mexicana América Móvil (AMX) e teria impacto limitado sobre o nível de endividamento, segundo os analistas.
"A AMX tem acelerado a migração desses clientes para a fibra óptica (FTTH), a fim de protegê-los da concorrência das operadoras que oferecem exclusivamente fibra. A aquisição da Desktop aceleraria esse processo, pois traria 1,2 milhão de clientes já conectados por fibra e uma infraestrutura que a Claro poderia usar imediatamente para substituir a tecnologia legada", escreveram os analistas.
Além disso, a Desktop possui R$ 801 milhões em ágio (goodwill), que podem ser utilizados como escudo fiscal, tornando a transação ainda mais atrativa.
Para o BTG, mesmo que a mexicana precise pagar um prêmio sobre o preço de mercado atual da Desktop (DESK3), o impacto seria modesto, sem alterar significativamente a capacidade de continuar remunerando os acionistas nos próximos anos — e as possíveis sinergias do negócio também poderiam ajudar a compensar esse efeito.
Na avaliação do BTG, o desempenho no curto prazo das ações da Desktop dependerá dos próximos passos sobre a transação. Mas, mesmo depois da performance forte da última sessão, os analistas ainda veem espaço para valorização.
Segundo os analistas, apesar do rali, a Desktop é negociada a 4,2 vezes o valor de firma (EV) sobre o Ebitda estimado para 2026 e 7 vezes o preço/lucro projetado para o mesmo ano. Os múltiplos estão abaixo dos das teles globais (de cerca de 12 vezes o P/L para 2026), aquém do patamar da Brisanet (em torno de 14 vezes), e em linha com a Unifique.
Na visão do analista da Suno Research, Bernardo Viero, não há como saber exatamente em que fase estão as negociações e nem se a Claro aceitaria a autoavaliação da Desktop.
Nas contas do analista, a empresa apresentou um valor de mercado cerca de 123% superior ao atual, considerando a média de 7,5 vezes em que eles estariam se avaliando e descontando a dívida líquida ajustada do negócio.
Porém, segundo Viero, "o movimento serve como uma sinalização em prol do entendimento de que algumas ISPs estão relevantemente subavaliadas em bolsa ante o patamar de resultados vem sendo entregue, com possíveis transações entre ISPs e incumbentes podendo servir como gatilhos para o mercado passar a enxergar o valor dessas teses de investimento".
O histórico da Desktop
Esta não é a primeira vez que a Desktop negocia uma potencial transação com outra grande telecom.
No ano passado, a empresa já chegou a ter discussões com a Telefônica Brasil (VIVT3), dona da Vivo, para uma possível fusão. Porém, o presidente-executivo da Telefônica afirmou que ainda haviam questões que precisavam ser analisadas na época, como a sobreposição de redes.
A Desktop estreou na B3 em 2021 com a captação de R$ 715 milhões. Desde a abertura de capital, as ações da companhia amargam perdas da ordem de 55%. Hoje, a empresa é avaliada em pouco mais de R$ 1,3 bilhão na bolsa.
A empresa se apresenta como líder de mercado de telecomunicações no Estado de São Paulo e um dos maiores do Brasil
Sob a ótica financeira, a empresa registrou um segundo trimestre morno e dentro das expectativas, resultado da estratégia de se preparar para a desaceleração esperada no setor desde o ano passado, com foco reforçado na retenção de caixa.
Confira os principais indicadores do 2T25:
- Lucro líquido ajustado: R$ 35 milhões (-34% a/a);
- Receita líquida: R$ 297 milhões (+6% a/a);
- Ebitda ajustado: R$ 154 milhões (+7% a/a);
- Margem Ebitda ajustada: 52% (+0,4 p.p. a/a);
- Caixa Total (EoP): R$ 661 milhões em 30 de junho de 2025.
Ao fim de junho, a empresa contava com uma rede disponível a 4,78 milhões de residências (HPs) e 1,17 milhão de casas conectadas (HCs), com uma infraestrutura própria de rede de fibra óptica com 57 mil quilômetros.
Na época, a Empiricus Research classificou o resultado como "honroso" e manteve recomendação de compra para as ações DESK3. "Enquanto o setor de fibra é atrapalhado pelas condições macro, Desktop continua entregando resultados sólidos, mantendo disciplina de caixa e endividamento controlado", escreveram os analistas.