Talvez se trate do botão mais caro de todos os tempos. E nem foi por causa do frete. A Amazon desembolsou US$ 2,5 bilhões para encerrar um processo que já estava em andamento nos Estados Unidos. A queixa contra a empresa? A ausência de um botão “clique aqui para cancelar” que facilitasse a saída do Amazon Prime.
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De acordo com a acusação a empresa empurrou milhões de consumidores para dentro do Amazon Prime sem explicar direito os termos para depois, transformar o cancelamento em um labirinto digital quase impossível de sair.
Desse valor, US$ 1,5 bilhão vai para o reembolso de cerca de 35 milhões de clientes americanos afetados entre 2019 e 2025. O valor médio individual é baixo, pouco superior a US$ 42. A devolução chega no máximo a US$ 51. Para quem usou pouco os benefícios do programa, o reembolso é automático; para quem usou até dez vezes, só mediante pedido formal.
A assinatura que não acabava nunca
Nos EUA, o Prime custa US$ 139 por ano ou US$ 14,99 por mês. No Brasil, custa R$ 19,90 por mês. A oferta inclui frete grátis, streaming de filmes e outros serviços. Mas, segundo a Comissão Federal de Comércio (FTC), a Amazon escondia as armadilhas em botões enganosos e pop-ups insistentes.
O famoso “Não, não quero frete grátis” não significava exatamente isso. O teste gratuito de um mês se transformava em cobrança automática. E a saída? Difícil o bastante para garantir mais receita.
Andrew Ferguson, presidente da FTC, foi direto: a empresa teria usado “armadilhas sofisticadas” para manipular consumidores e tornar o cancelamento quase impossível. A multa é a maior penalidade civil já aplicada pela agência.
A companhia não admitiu culpa, mas também não negou. Preferiu dizer que “sempre seguiu a lei” e que o acordo serve para “seguir em frente”. O porta-voz Mark Blafkin garantiu que a empresa já trabalha para tornar os processos de adesão e cancelamento “mais claros e simples”.
Além disso, a Amazon concordou em reembolsar automaticamente os clientes que utilizaram os benefícios Prime menos de três vezes ao longo de um ano após a inscrição.
Na prática, a Amazon terá de mexer nos botões, rever as mensagens e criar uma saída menos labiríntica para quem quiser encerrar a assinatura.
Política, mudanças de comando e críticas à FTC
O processo contra a Amazon começou em 2023, ainda sob o governo Joe Biden, comandado por Lina Khan na FTC — conhecida por defender uma postura mais rigorosa em relação às big techs.
A briga seguiu por dois anos e só terminou agora, já sob a gestão de Andrew Ferguson, nomeado por Donald Trump, que também assumiu a agência com discurso de linha dura contra gigantes da tecnologia.
No fim das contas, a FTC conseguiu a maior multa civil de sua história.
Mas nem todo mundo comemorou. Críticos dizem que o acordo foi tímido. O motivo? A agência abriu mão de insistir na regra do “Clique para Cancelar”, que obrigava as empresas a oferecer uma saída simples para assinaturas online.
Essa regra havia sido aprovada no governo Biden, mas foi derrubada por um tribunal de apelações em 2025.
Para gente como Nidhi Hegde, diretora do Projeto de Liberdades Econômicas Americanas, aceitar o acordo sem resgatar a regra é como brincar de “acertar a toupeira”: resolve um caso aqui, outro ali, mas o problema estrutural continua.
Nos EUA, a conta saiu cara: US$ 2,5 bilhões e a promessa de facilitar o cancelamento do Prime.
Mas fica o ponto de interrogação: será que a Amazon também vai simplificar a vida dos clientes em outros mercados, como o Brasil e o Reino Unido? Ou continuaremos presos no labirinto digital onde cancelar custa mais esforço do que assinar?
Procuramos a Amazon mas, até o momento, não obtivemos resposta. O espaço está aberto para manifestação da empresa.