Existe um elemento que pode fazer com que as ações da Usiminas (USIM5), que caem 11% no ano, virem o jogo. Segundo o UBS BB, é possível que as ações tenham salto até maior do que 50% daqui para a frente, caso dê tudo certo. O trunfo é a aprovação de medidas antidumping para as importações de aços planos no Brasil.
Em junho, o Departamento de Defesa Comercial (Decom), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), abriu uma investigação sobre as exportações de 25 grupos de produtos de aço (classificados por diferentes NCMs, na sigla do comércio exterior) vindos da China.
O processo foi motivado pela suspeita de prática de dumping — ou seja, pela venda de aço no mercado brasileiro a preços inferiores aos praticados no mercado interno chinês. Essa diferença de preços poderia causar dano à indústria nacional, pressionando margens e reduzindo a competitividade das siderúrgicas locais, como a Usiminas.
A investigação pode durar de 10 a 18 meses. Após o encerramento, caso seja determinada a existência de prática de dumping, dano à indústria brasileira, o governo pode aplicar direitos antidumping por um prazo de até cinco anos.
- VEJA TAMBÉM: BOLSA em alta: OPORTUNIDADE ou voo de galinha? O que você PRECISA saber - assista o novo episódio do Touros e Ursos no Youtube
Será que dá liga?
Ainda há muita incerteza sobre essa investigação. Segundo o UBS BB, embora haja um otimismo crescente quanto a uma decisão favorável nos processos em andamento (que englobam o aço laminado a frio e o galvanizado), os analistas ainda consideram o resultado amplamente binário e dependente de vontade política.
“Mesmo que avance, ainda há pouca clareza sobre a alíquota que seria aplicada a cada linha de produto, se as tarifas seriam repassadas aos preços, se haveria triangulação de produtos ou se, de fato, as importações diminuiriam”, escreve o time de análise composto por Caio Greiner, Arthur Biscuola e Fernanda Sardinha.
Ainda assim, os analistas enxergam que uma decisão favorável se desenha uma possibilidade real hoje e isso não parece estar precificado nas ações da companhia nos níveis atuais.
“Calculamos que o papel esteja embutindo apenas uma margem Ebitda de aço de cerca de 8% para 2026, o que implica, em nossa visão, nenhum ganho de preço vindo de tarifas”, diz o relatório.
O banco detalha que, considerando o valor de mercado atual (EV) da Usiminas de cerca de R$ 8,5 bilhões e uma faixa de múltiplo justo entre 3,5 vezes e 4 vezes EV/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), o cálculo é que o Ebitda implícito da companhia estaria na faixa de R$ 2,2 bilhões a R$ 2,4 bilhões — em linha com estimativa base do UBS BB para 2026.
Para que isso se confirme, as margens do segmento de aço ficariam próximas de 8% no próximo ano, ante cerca de 6% em 2025, o que implica pouco ou nenhum ganho de preço em relação aos níveis atuais — cenário razoável na hipótese de ausência de medidas antidumping.
A casa deixa claro que, caso as tarifas sejam implementadas, ainda não há como saber o impacto exato sobre a indústria siderúrgica brasileira, mas parece justo supor que haveria alguma melhora nas margens das produtoras locais.
“Por exemplo, se a Usiminas conseguir elevar seus preços realizados entre 3% e 6%, ampliando suas margens Ebitda do aço para 11% a 13% em 2026, o projetado é um upside de 25% a 50% no Ebitda total em relação ao cenário base — o que teria impacto relevante sobre o valor das ações, de 30% a 60% (ou mais)”, diz o relatório.
Os analistas reforçam que esse é um exercício simplificado, que não considera mudanças significativas em volumes ou custos, nem incorpora o defasagem dos contratos da Usiminas.
Ainda assim, na visão da casa, isso demonstra que um desfecho favorável no processo antidumping não parece estar precificado nas ações.
O que fazer com as ações?
A casa mantém recomendação neutra para os papéis. “Embora os riscos pareçam inclinados para o lado positivo para as ações, ainda não vemos conforto em elevar a recomendação em um ambiente tão binário”, dizem os analistas.
No cenário sem medidas antidumping, o setor siderúrgico brasileiro continuaria sob forte pressão das importações chinesas e, nesse caso, o esperado é uma recuperação gradual das margens para níveis normalizados entre 12% e 15% — frente aos atuais 10% — o que poderia levar alguns anos.