Depois de semanas sob pressão, a Ambipar (AMBP3) finalmente conseguiu virar o jogo na B3. O “jeitinho” dado pela companhia de soluções ambientais? Reprecificar sua ação, ampliando o alcance na bolsa, com um desdobramento na proporção de 1 para 10 que caiu nas graças do mercado.
Aprovada em assembleia geral extraordinária (AGE) na véspera, a operação entrou em vigor nesta terça-feira (5), com os papéis já sendo negociados com preço ajustado: de mais de R$ 100, AMBP3 passou a ser cotada a cerca de R$ 17 — e chegou a subir 17,31% no início da sessão, antes de entrar em leilão por oscilação máxima permitida.
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O desdobramento ampliou a base acionária da Ambipar para 1,67 bilhão de ações ordinárias. Apesar da multiplicação de papéis, o valor de mercado da companhia não se altera, e os acionistas seguem com os mesmos direitos, inclusive sobre dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) que venham a ser declarados.
Segundo a empresa, o objetivo da operação é tornar as ações AMBP3 mais acessíveis ao investidor pessoa física e destravar liquidez na bolsa, dois pontos que vinham no radar da companhia após sucessivas movimentações nos bastidores do mercado.
Movimento técnico, mas com timing estratégico
Ainda que o desdobramento seja uma operação essencialmente técnica — já que não altera o valor de mercado da empresa nem dilui a participação dos investidores —, o timing da decisão chama a atenção.
A Ambipar vinha sob pressão desde que a área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou possíveis irregularidades envolvendo a negociação das ações.
Segundo parecer da autarquia, o controlador da companhia, Tércio Borlenghi Junior, teria atuado de forma coordenada com fundos ligados ao empresário Nelson Tanure e ao Banco Master para inflar artificialmente a cotação do papel, com o objetivo de usá-las como garantia no leilão da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia).
A área técnica da CVM recomendou a realização de uma oferta pública de aquisição (OPA), mas a diretoria rejeitou a proposta, decisão que gerou desconforto e abriu espaço para críticas.
O caso ganhou ainda mais repercussão porque pode estabelecer um precedente delicado.
A decisão da CVM — que contrariou a recomendação técnica — abriu margem para que o Banco Master, envolvido nas negociações com a Ambipar, também adote a mesma linha de defesa em outro processo que corre na autarquia. A conduta do banco no mercado de capitais também está sendo analisada com base nos mesmos fundamentos levantados no caso Ambipar.
Contexto conturbado, reação positiva
Mesmo com essa sombra regulatória no horizonte, a estratégia da Ambipar de desdobrar ações parece ter surtido efeito imediato, ao menos na percepção do mercado: o papel ganhou tração, volume e segue no centro dos holofotes da B3 nesta terça-feira (5).
Por volta das 16h (horário de Brasília), as ações AMBP3 eram negociadas com alta de quase 19%, cotadas a R$ 17,36.
Por ora, o desdobramento deu fôlego à Ambipar e ajudou a companhia a retomar parte do controle sobre a narrativa. Outros processos que ainda estão em curso na CVM mantêm a ação sob vigilância — e caberá ao mercado decidir se a reação positiva veio para ficar ou se foi só fogo de palha.