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A JBS do futuro? Small cap que entrou na bolsa com ‘barriga de aluguel’ quer passar o rodo no agro em crise

Quais empresas brasileiras de proteína animal com capital aberto você conhece? Provavelmente a JBS (JBSS32), que migrou para os EUA recentemente, a BRF (BRFS3) e a Marfrig (MRFG3), que estão se unindo e criando a MBRF, e a Minerva (BEEF3). Mas tem mais uma, ainda pouco conhecida e que talvez você não tenha ouvido falar: a Fictor Alimentos (FICT3).

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Ela não teve uma estreia tradicional na bolsa, com direito a IPO (oferta inicial de ações) — a Fictor Alimentos usou uma chamada “barriga de aluguel” ou um “IPO reverso”. Além disso, o processo foi realizado em 19 de dezembro de 2024, poucos dias antes do Natal. 

A “barriga de aluguel” usada foi a Atom Participações (ATOM3), que pertencia à empresária Carol Paiffer e à revista Exame. A Fictor Alimentos adquiriu o controle da Atom, mudou a razão social da companhia, o ticker (de ATOM3 para FICT3), a sede (de Sorocaba para São Paulo), o grupo de controle (para Fictor Holding e AQWA Capital) e o principal: seu objeto social, ou seja, a descrição do que a empresa faz. 

“Saiu do setor de educação e passou a atuar no setor de criação e processamento de proteína animal dos mais variados tipos: aves, pescados, frutos do mar, suínos e bovinos”, conta André Vasconcellos, diretor de Relações com Investidores da Fictor Alimentos, em entrevista ao Seu Dinheiro

“Fizemos uma troca de pneu de um carro em movimento”, compara ele. O objetivo principal de entrar na bolsa, segundo o executivo, foi acessar capital. A opção pelo IPO reverso foi não precisar esperar por uma nova janela de IPOs se abrir no país, além de ter custos e prazos reduzidos em relação a um IPO convencional.

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Novo player de proteína animal: oportunidade no mercado?

O movimento de redução de players do setor de proteína animal na bolsa brasileira, com a ida da JBS para os EUA e a fusão entre BRF e Marfrig, é visto como uma oportunidade pelo executivo da Fictor.

“Isso facilita que o mercado, sejam os analistas e os próprios investidores, possa avaliar novos players nesse setor tão promissor para a economia brasileira, que tem um potencial de crescimento gigantesco no curto e no médio prazo”, afirma ele.

Segundo Vasconcellos, a empresa tem hoje pouco mais de 5 mil acionistas pessoas físicas, além de alguns bancos e grandes fundos. 

O executivo explica que houve uma grande mudança na base acionária da companhia após a migração de Atom para Fictor. “Hoje, dos nossos 30 maiores investidores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, nenhum deles estava entre os 30 maiores na época de Atom.”

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Uma das grandes diferenças entre os dois papéis, de acordo com o diretor de RI, é que o da Atom era mais procurado para movimentações de curto prazo, enquanto o da Fictor tende a ser olhado mais para o longo prazo.

A ação FICT3 é hoje negociada na casa dos R$ 3,10, com valor de mercado de R$ 74,27 milhões e no zero a zero na bolsa de valores neste ano. 

André Vasconcellos, diretor de RI da Fictor Alimentos

‘Passando o rodo’ em meio à crise do agro

A ideia da Fictor é aproveitar o ciclo de baixa do agronegócio, em que há muitas empresas em dificuldade e em recuperação judicial, para “passar o rodo” em ativos baratos. 

“A empresa está dedicada à aquisição de ativos estressados”, explica Vasconcellos. “Um momento desafiador como esse, de crises das mais diversas, envolvendo questões tarifárias ou gripe aviária, por exemplo, torna os ativos subavaliados no Brasil, e essa subavaliação melhora a atratividade desses ativos.”

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A primeira aquisição foi anunciada no final de abril, da Mellore Alimentos, de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Tornou-se a primeira subsidiária da companhia: a Fictor Alimentos Betim.

E o objetivo é continuar crescendo de forma inorgânica por enquanto. “Estamos avaliando outros M&As, especialmente nos setores que fazem parte do nosso principal know-how hoje, que é aves e suínos.”

Como muitos dos ativos avaliados são de empresas em recuperação judicial ou em risco falimentar, a aquisição depende de decisão judicial, o que tira totalmente a celeridade e até a previsibilidade do negócio, aponta o executivo.

E quando essa maré ruim do agro inverter? Para o executivo, no médio e longo prazo a Fictor já poderá combinar o crescimento inorgânico com o orgânico, graças aos ativos incorporados ao longo do caminho. Além disso, pesa a favor da empresa a diversidade de seu objeto social.

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“Nosso objeto social é amplo, vinculado ao setor de proteína animal, o que permite que a gente, dependendo das variáveis macroeconômicas, possa priorizar determinado setor em detrimento de outro”, explica. Ou seja: se os ativos de avicultura estiverem caros, eles podem apostar, por exemplo, em peixes ou frutos do mar.

As próximas aquisições devem se concentrar na região centro-sul do país, segundo o diretor, por conta de aí estar localizada a maioria das plantas “sifadas”, ou seja, com registro no Ministério da Agricultura.

Além disso, a empresa também considera a questão da logística e da sinergia entre as unidades que serão adquiridas.

“Por exemplo, se eu já fiz uma aquisição de uma planta na região da Grande BH, em Betim, é óbvio que as demais plantas sifadas que existam em Minas Gerais se tornam atrativas”, diz ele. “Eu tenho ali uma possibilidade de aproveitar os canais de escoamento, aproveitar a logística, a produção, enfim, até mesmo aproveitar a própria capacidade produtiva.”

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Efeito da taxação dos EUA contra o Brasil

O foco da Fictor no momento é a atuação no mercado nacional, primeiro regionalmente, por meio da marca Mellore e de outras que poderão futuramente ser processadas na unidade de Betim. Por esse motivo, a companhia avalia que não deve sofrer grandes impactos diretos da taxação dos EUA contra o Brasil.

“A gente pode ter um efeito indireto por um aumento dos produtos do mercado nacional, mas é natural que o próprio mercado se readeque, reduzindo eventualmente a oferta dos produtos, até para preservar as suas margens, que já são bastante espremidas.”

Patrocínio ao Palmeiras e à Festa do Peão de Barretos

Se você já viu o nome Fictor por aí, pode ter sido na camisa de um jogador do Palmeiras ou em destaque na Festa do Peão de Barretos, realizada no mês passado no interior paulista. A holding Fictor, controladora da Fictor Alimentos, é a responsável por esses patrocínios. 

No caso do clube de futebol, o acordo de R$ 30 milhões por temporada foi anunciado em março e tem duração de três anos, prorrogáveis para quatro. 

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A marca da empresa passou a ser estampada nos uniformes das categorias de base e também do time principal, masculino e feminino, do time alviverde. O projeto também envolve o naming rights de um torneio Sub-17 organizado pelo clube, que passou a se chamar Copa Fictor.

Vasconcellos lembra que, só no dia do anúncio do patrocínio, as ações se valorizaram 67%. “A gente teve uma visibilidade muito grande do papel em decorrência dos palmeirenses”, conta ele.

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