A Eletrobras não deu sorte: quem são os culpados pelo desempenho “xoxo” de ELET3 passados três anos da privatização?
Três anos depois da privatização, as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) estão praticamente no zero a zero. O que explica o desempenho e o que esperar agora?

Se a Eletrobras (ELET3) fosse uma pessoa, imagino que o dia 14 de junho de 2022 teria sido um daqueles nos quais a gente promete que, a partir dali, tudo vai mudar.
Enquanto para nós esse momento geralmente vem acompanhado de um novo projeto — dieta, início na academia ou emprego melhor — para a Eletrobras seria a concretização de um sonho antigo: a privatização.
O ânimo era grande. Gestores e analistas apontavam para uma valorização de até 50%, com preços-alvo chegando a R$ 60 para os papéis ordinários da companhia, ELET3, os emitidos na oferta que reduziu a participação da União para menos da metade.
Mas assim como acontece com a gente depois de uns dias de determinação otimista, a realidade foi se provando mais complexa do que os planos alegres. Com isso, os papéis da Eletrobras perderam o ímpeto.
Três anos depois, as ações ordinárias encerraram o pregão da última sexta-feira (6) a R$ 41,31. Ou seja, praticamente no zero a zero em relação à privatização, quando os papéis foram precificados a R$ 42.
Resta saber: o que impediu que a empresa realizasse os sonhos mais otimistas dos investidores? E mais importante: ainda existe essa esperança?
Leia Também
Um cliente, US$ 52 bilhões a menos: a saída inesperada que derrubou as ações da BlackRock; entenda o que aconteceu
Para o BTG, venda da Santa Elisa mostra pressa da Raízen (RAIZ4) em ganhar eficiência
Para responder essas perguntas, o Seu Dinheiro conversou com Hugo Cabral, analista da Nord Investimentos; José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School; Rafael Passos, analista da Ajax Asset Management e Ruy Hungria, analista da Empiricus.
- VEJA TAMBÉM: Onde estão as maiores oportunidades de investimento da bolsa para o mês? Confira todas as indicações aqui
O que afetou os papéis da Eletrobras nos últimos três anos
Os especialistas são unânimes em dizer que esse desempenho não é culpa da empresa. O que podia ser feito, a Eletrobras fez. Os reais vilões por trás da performance ‘xoxa’ são: governo e clima.
Comecemos por destrinchar o primeiro.
Desde a posse do presidente Lula, em janeiro de 2023, a privatização da elétrica foi constante alvo de críticas, alimentando a tensão entre investidores e o mercado.
O presidente não se conformava com o fato de que, mesmo detendo mais de 40% do capital da Eletrobras, a União tivesse seu poder de voto limitado a apenas 10% — uma trava imposta pelas regras da desestatização.
Em meio às críticas, o governo pressionava para que a Eletrobras honrasse um acordo firmado em 2022 com a Eletronuclear para investir na construção da usina nuclear Angra 3, uma obra que se arrasta desde a década de 1980.
O Planalto vê o projeto como estratégico para a matriz energética nacional, mas o investimento bilionário era avaliado como um passivo pesado demais para a empresa — e causava calafrios no mercado.
Isso virou uma disputa que foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF) e a conclusão chegou no final de fevereiro, depois de um ano de negociações.
O acordo selado garantiu à União três assentos fixos no conselho de administração da Eletrobras, além de participação no conselho fiscal. Em troca, o governo se comprometeu a não questionar mais o limite de 10% no poder de voto, e a empresa deixou de ter obrigação de aportar recursos em Angra 3.
Desde a solução do imbróglio, as ações ELET3 subiram cerca de 9,5% na bolsa de valores.
“Essa solução foi um dos principais gatilhos que ajudaram a retirar a pressão sobre o papel. No fim das contas, esse lado político estava pesando bastante”, explica Rafael Passos.
O clima pesou
A empresa também deu azar. A questão climática pesou.
Um dos grandes entraves que prejudicaram os resultados da Eletrobras nos últimos anos começou no governo Dilma, com a Medida Provisória 579, que obrigou a companhia a vender energia a preço de custo — o chamado sistema de cotas.
Na prática, a Eletrobras tinha que comercializar energia por valores abaixo dos praticados no mercado. Essa limitação comprometeu a rentabilidade da companhia por um longo período.
Durante o processo de privatização, foi desenhado um mecanismo para corrigir esse desequilíbrio: parte dos recursos levantados na operação seria usada para liberar as usinas do modelo de cotas, permitindo que a energia produzida fosse vendida a preços de mercado.
A expectativa era de que, uma vez livre para negociar sua energia, a Eletrobras aumentaria significativamente sua geração de caixa. Mas o timing foi um problema — e dos grandes.
Antes da privatização, o Brasil vinha de uma crise hídrica, com preços elevados no setor elétrico. O cenário era favorável. Mas, logo após a desestatização, tudo mudou.
O país registrou uma sequência de anos com muita chuva, o que elevou os níveis dos reservatórios e derrubou os preços da energia.
Além disso, o Brasil vivia um ‘boom’ de fontes renováveis. Incentivos do governo estimularam a construção de usinas solares, parques eólicos e fazendas fotovoltaicas. Ou seja, o mercado foi inundado com oferta.
Isso fez com que os preços da energia despencassem justamente quando a Eletrobras passou a ter liberdade para vender a preço de mercado.
Houve momentos em que a companhia teve que vender energia até abaixo dos preços de custo.
“Então, isso foi um dos fatores que pesaram muito, mas está totalmente fora do controle da companhia”, destaca Ruy Hungria.
O que mais afetou o desempenho
Os especialistas também apontam para o cenário fiscal do país. A explicação é que, com tantos ruídos fiscais, as curvas de juros abriram demais, em especial desde o ano passado.
“Até o fim de 2023, o mercado chegou a precificar um cenário quase interminável de alta da taxa básica, com a curva de juros futura rondando os 17%. Esse movimento impacta diretamente as decisões de alocação dos investidores, e o setor de utilities sente isso de forma mais intensa”, explica Passos, da Ajax.
Isso porque — por terem um fluxo de caixa futuro mais previsível, demanda estável mesmo em períodos de crise e contratos atrelados ao IPCA —, esses papéis são comparados a títulos públicos (bond proxies).
Quando a curva de juros se abre, essas ações tendem a sofrer: o investidor passa a exigir um retorno maior para correr o risco de estar na renda variável. Na prática, isso significa que os papéis se desvalorizam para que a taxa interna de retorno (TIR) volte a oferecer um spread competitivo em relação aos títulos de dívida.
ELET3 versus ELET6
Se as ações ordinárias da Eletrobras andaram de lado desde a privatização, as preferenciais, ELET6, contam outra história — e podem antecipar o que está por vir, diante do crescente otimismo em relação ao futuro da companhia, como explico a seguir.
Os papéis ELET6 registraram uma valorização de mais de 23% no mesmo intervalo. Rafael Passos explica o que está por trás dessa diferença: “A meu ver, o principal fator aqui foi o ruído político envolvendo o governo”, disse ele.
Isso porque, quando surgem sinais de uma possível interferência maior do governo na gestão da Eletrobras, quem tende a ser mais impactado são os acionistas das ordinárias (ELET3), já que esses papéis dão direito a voto — e, portanto, estão mais expostos às decisões políticas dentro do conselho da empresa.
Como o controlador pode tomar decisões que nem sempre priorizam a geração de valor para o acionista, o risco político é mais sentido por quem está “à mesa”.
Diante desse cenário, é natural que muitos investidores migrem para as ações preferenciais (ELET6), que não oferecem direito a voto, mas garantem prioridade no recebimento de dividendos. Ou seja, o foco passa a ser a remuneração, com menor exposição ao risco político.
Por isso, esse movimento de valorização maior das preferenciais parece estar diretamente ligado ao aumento do ruído político e à tentativa dos investidores de reduzir esse tipo de risco na carteira.
E agora, o que esperar da Eletrobras?
No geral, os especialistas estão otimistas sobre o futuro da empresa e acreditam que o pior já passou. A visão é de que a Eletrobras vem mostrando sinais consistentes de melhora no lado operacional.
Nos últimos trimestres, a companhia tem apresentado ganhos de eficiência — com destaque para a redução de custos e despesas administrativas. Para os analistas, essa racionalização se reflete diretamente no balanço, indicando uma gestão mais enxuta e focada em rentabilidade.
A evolução também pode ser vista na gestão de passivos. “A cada trimestre, a empresa tem reduzido dívidas na casa dos R$ 200 milhões a R$ 400 milhões, um esforço contínuo para reforçar sua estrutura de capital”, explica Passos.
Para ele, esses avanços são consequência direta da privatização. “Agora, sob controle privado, a companhia tem mais agilidade nas decisões. A ausência da obrigatoriedade de licitações permite negociar diretamente com fornecedores e fazer ajustes contratuais de forma mais eficiente”, ressalta o analista.
A gestão da dívida também está sendo revista com foco em uma melhor alocação de capital, por meio de reperfilamento e renegociação dos vencimentos.
Sobre os preços da energia, Hungria espera uma recuperação.
“Desde a privatização, a Eletrobras tem reforçado sua área de comercialização com o objetivo de melhorar a gestão do portfólio e identificar oportunidades mais rentáveis de venda de energia", diz o analista.
Para ele, embora o ambiente de preços baixos nos últimos anos tenha limitado o potencial de receita, a companhia vem se preparando para aproveitar o momento em que o cenário voltar a ser mais favorável — algo que já começa a se desenhar.
Os subsídios para a expansão das energias renováveis já não têm mais o mesmo espaço no orçamento público. Além disso, o próprio sistema elétrico começa a sentir os efeitos da instabilidade gerada por essas fontes.
Mas o risco político ainda paira. Para o professor Coelho Filho, 2026 pode não ser um ano fácil para a empresa, graças às eleições presidenciais. Isso porque, apesar do acordo selado, a União segue como acionista relevante da companhia.
Recomendações para a ação
Os analistas desta reportagem recomendam a compra dos papéis. Abaixo, listamos as recomendações dos grandes bancos aos quais o Seu Dinheiro teve acesso:
Instituição | Ticker | Recomendação | Preço‑alvo |
BofA | ELET3 | Compra | R$ 53 |
Citi | ELET3/ELET6 | Compra | R$ 54 |
BTG Pactual | ELET3 | Compra | R$ 58 |
BB Investimentos | ELET3 | Compra | R$ 43,18 |
XP Investimentos | ELET3 | Compra | R$ 50 |
Heineken sobe preço da cerveja no Brasil e Ambev (ABEV3) brinda com alta das ações
Os papéis da gigante das bebidas surgem entre as maiores altas do Ibovespa nesta quarta-feira (16) na esteira da notícia de que a holandesa vai reajustar preços depois de um ano
Ações da Aura Minerals chegam a Wall Street, mas IPO fica abaixo da meta de US$ 210 milhões
A mineradora canadense desembarcou nesta quarta-feira (16) com as ações AUGO na bolsa norte-americana Nasdaq
Família Coelho Diniz abocanha mais uma fatia do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3); confira os detalhes
O movimento que eleva a participação da família para quase 18%; saiba como fica o cenário do controle acionário da varejista
Carteira ESG: sai Mercado Livre (MELI34), entra Rede D’Or (RDOR3); veja as escolhas do BTG que aliam lucro e sustentabilidade em julho
A seleção do BTG Pactual aposta em ativos com valuation atrativo e foco em temas ambientais, sociais e de governança — e traz novidades importantes para o investidor ESG neste mês
MRV (MRVE3) lidera as quedas do Ibovespa: o que desagradou os analistas na prévia operacional do 2T25?
Apesar da MRV&Co ter saído do vermelho, com geração de caixa no 2T25, outras linhas ofuscaram os pontos positivos da prévia operacional do segundo trimestre
Marfrig (MRFG3) concentra 75% das ações nas mãos dos controladores; saiba o que está por trás desse movimento
A mudança acontece um dia após a Previ, maior fundo de pensão do país, zerar sua posição histórica na BRF (BRFS3)
Raízen (RAIZ4) fecha negócio de R$ 1 bilhão na missão para reduzir sua dívida — São Martinho (SMTO3) é uma das envolvidas na transação
A Raízen anunciou que pretende descontinuar as atividades na Usina Santa Elisa. Para isso, fechou negócio para vender 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, e a São Martinho está entre os compradores
Agora vai? BRF e Marfrig remarcam (de novo) as assembleias de fusão. Entenda as críticas dos minoritários e o que esperar da votação
As assembleias gerais extraordinárias (AGE), que definem o futuro da combinação de negócios dos frigoríficos, serão realizadas no dia 5 de agosto
Dividendos e JCP: Telefônica (VIVT3) vai distribuir R$ 330 milhões em proventos; confira os prazos
Telefônica vai distribuir proventos aos acionistas na forma de juros sobre capital próprio, com pagamento programado somente para próximo ano
Previ vende R$ 1,9 bilhão em ações da BRF (BRFS3) e zera posição de 30 anos; veja o que motivou o fundo de pensão
Vendas aconteceram ao longo da última semana, enquanto fundo trava uma disputa com a empresa na Justiça
MRV (MRVE3) ensaia retorno aos bons tempos com geração de caixa no 2T25 e até Resia fica no azul — mas nem tudo foi festa
De acordo com a prévia operacional divulgada nesta segunda-feira (14), a MRV&Co voltou a gerar caixa no 2T25 — mas a operação principal ainda ficou no vermelho
BRB entra na mira da CVM — e nova investigação não tem nada a ver com o Banco Master, segundo jornal
Todo o comando do Banco de Brasília está sendo processado pela autarquia por irregularidades financeiras; entenda
Ações da Embraer (EMBR3) caem 11% em uma semana e JP Morgan diz que o pior ainda está por vir
O banco norte-americano acredita que, no curto prazo, a fabricante brasileira de aeronaves continuará volátil, com ações sendo usadas como referência para o risco tarifário
Dupla listagem do Méliuz (CASH3): bilhete premiado ou aposta arriscada? O BTG responde
A plataforma aposta na listagem na OTC Markets para aumentar liquidez e fortalecer sua posição no mercado de criptomoedas, mas nem tudo são flores nessa operação
Petrobras indica nova diretora de sustentabilidade e passa a ser comandada por maioria feminina
Com a nomeação da engenheira Angélica Garcia Cobas Laureano, funcionária de carreira da Petrobras, a diretoria executiva da companhia passa a ter 55% de mulheres
Um novo vilão para o Banco do Brasil (BBAS3)? Safra identifica outro problema, que pode fazer as coisas piorarem
Apesar de o agronegócio ter sido o maior vilão do balanço do 1T25 do BB, com a resolução 4.966 do Banco Central, o Safra enxerga outro segmento que pode ser um problema no próximo balanço
Marfrig (MRFG3) avança na BRF (BRFS3) em meio a tensão na fusão. O que está em jogo?
A Marfrig decidiu abocanhar mais um pedaço da dona da Sadia; entenda o que está por trás do aumento de participação
SpaceX vai investir US$ 2 bilhões na empresa de Inteligência Artificial de Elon Musk
Empresa aeroespacial participa de rodada de captação da xAI, dona do Grok, com a finalidade de impulsionar a startup de IA
Taurus (TASA4) é multada em R$ 25 milhões e fica suspensa de contratar com a administração do estado de São Paulo por dois anos
Decisão diz respeito a contratos de fornecimento de armas entre os anos de 2007 e 2011 e não tem efeito imediato, pois ainda cabe recurso
Kraft Heinz estuda separação, pondo fim ao ‘sonho grande’ de Warren Buffett e da 3G Capital, de Lemann
Com fusão orquestrada pela gestora brasileira e o Oráculo de Omaha, marcas americanas consideram cisão, diz jornal