Em algum momento, todo mundo se pergunta como será lembrado. Alfred Nobel não precisou esperar a morte para descobrir: em 1888, quando seu irmão Ludvig morreu em Cannes, jornais franceses teriam se confundido e publicado o obituário de Alfred.
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Segundo versões repetidas ao longo da história, a manchete de um deles trazia uma ironia cruel: “Le marchand de la mort est mort” (“O mercador da morte está morto”). O texto afirmava que Nobel havia enriquecido ao descobrir maneiras de matar mais pessoas mais rápido do que nunca.
Não há registro documental seguro desse obituário, mas a lenda ganhou força e ecoa até hoje como símbolo da má fama que o inventor carregava.
Químico, engenheiro, industrial e dono de mais de 350 patentes, Alfred Nobel viu sua invenção mais famosa, a dinamite, nascer para abrir túneis e canais — e rapidamente transformar-se em arma de guerra.
A fortuna de Alfred Nobel
Desde jovem, Nobel trabalhava com nitroglicerina na fábrica do pai, em São Petersburgo. Em 1864, uma explosão matou seu irmão Emil. A tragédia familiar o levou a buscar uma fórmula mais estável. Três anos depois, ele patenteava a dinamite, que logo seria produzida em escala industrial.
Nobel abriu fábricas na Europa e na América do Norte. Mais tarde, adquiriu a siderúrgica sueca Bofors, transformando-a em referência mundial em armamentos. Também esteve ligado aos negócios da família na empresa petrolífera Branobel, em Baku, então parte do Império Russo e hoje capital do Azerbaijão.
A combinação de explosivos, petróleo e indústria bélica consolidou uma fortuna avaliada em 31,5 milhões de coroas suecas à época de sua morte — algo que, em valores atualizados, equivaleria a algumas centenas de milhões de dólares.
O testamento que virou redenção
Há quem diga que a reputação de “mercador da morte” pode ter influenciado Nobel em seus últimos anos de vida.
Em 1895, em Paris, ele assinou um testamento que deixava a maior parte de sua fortuna para a criação de prêmios anuais destinados a quem conferisse “o maior benefício à humanidade”.
A execução não foi simples. Boa parte dos ativos estava presa a bancos franceses e a participações industriais em vários países.
Coube ao assistente Ragnar Sohlman e ao engenheiro Rudolf Lilljequist transferir títulos e liquidar a participação de Nobel em negócios que iam de minas de ouro a fábricas de dinamite.
Em versões populares da história, conta-se até que viajaram armados para garantir a missão — detalhe que nunca foi comprovado.
No fim, o fundo reuniu os 31,5 milhões de coroas suecas, aplicados em títulos. A renda passou a sustentar, a partir de 1901, os prêmios em Física, Química, Medicina, Literatura e Paz. O de Economia só seria criado em 1969, por iniciativa do banco central da Suécia.
Da pólvora ao prestígio: o prêmio Nobel
Alfred Nobel morreu em 1896, aos 63 anos, vítima de um derrame cerebral, em San Remo, na Itália. Um ano depois, a fundação que levava seu nome já estava em operação.
Ao longo do século seguinte, a reputação que em vida ele tanto temia — a de mercador da morte — cedeu lugar à de benfeitor da humanidade.