Se a Inteligência Artificial se tornou o coração do mercado financeiro global, o Brasil tem chance de virar uma das veias que o alimentam. De acordo com um relatório do BTG Pactual, o caminho para isso são os data centers, essenciais para o avanço dessa tecnologia.
Isso porque, para funcionar, a IA depende de uma quantidade massiva de processamento de dados — o que, por sua vez, demanda energia (e muita). Segundo o banco, essa tecnologia tem crescido de maneira exponencial, o que já está sobrecarregando a cadeia de suprimentos necessária para fazer essa roda girar.
A cadeia de suprimentos necessária para fazer a roda da IA girar
“Energia, equipamentos de TI (chips, servidores, redes), materiais de resfriamento e controle ambiental, UPS (baterias), geradores de backup, turbinas a gás e equipamentos de rede de utilidades estão todos enfrentando alta de preços (e, em muitos casos, atrasos nas entregas)”, diz o relatório.
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Dados apresentados pelos analistas indicam que a demanda por data centers, só nos EUA, deve crescer de 31 gigawatts (GW) em 2024 para 83 GW em 2030. Para você ter uma noção, 1 GW é o bastante para alimentar 1 milhão de residências durante um mês. Hoje, os maiores centros como esse são de 2GW.
“Um vídeo curto de 6 segundos gerado por Inteligência Artificial consome energia suficiente para carregar 8 celulares ou dois laptops. Embora a eficiência energética possa melhorar no futuro, a atual corrida do ouro da IA já está colocando uma pressão significativa sobre várias cadeias de suprimentos, começando pela cadeia de fornecimento de energia”, afirmam os analistas.
Assim, seria natural que esse impacto deixasse de ser concentrado nos EUA e passasse a ser distribuído ao redor do mundo.
Além disso, cada interação com o ChatGPT ou outro modelo de linguagem é processada em servidores localizados em data centers ao redor do mundo. Esses servidores geram calor devido à alta demanda de processamento, o que exige sistemas de resfriamento eficientes.
Para garantir o desempenho adequado, esses sistemas frequentemente utilizam água para dissipar o calor gerado pela operação dos processadores.
Ou seja, a Inteligência Artificial demanda muita água e muita energia. E olhe só: o Brasil é reconhecido por ter muita água e ser um grande produtor de energia.
Outros elementos essenciais são: baixo risco de desastres naturais, terrenos adequados e baratos, leis de zoneamento, oportunidades de expansão e força de trabalho especializada.
As ações que se beneficiarão caso o Brasil abrace essa oportunidade
De acordo com o BTG Pactual, se o Brasil e o Chile jogarem suas cartas da maneira certa, enfrentando suas respectivas ineficiências, ambos os países poderiam se tornar paraísos para data centers.
“O Brasil possui uma grande capacidade de energia disponível para apoiar um eventual boom da IA. No Nordeste, por exemplo, devido às características de oferta e demanda da região, com mais de 20% da energia renovável sendo descartada devido à falta de demanda regional e capacidade de transporte”, ressalta o time de análise do BTG.
Caso isso vire realidade, as ações que poderão se beneficiar por aqui são: Eletrobras (ELET3), Auren (AURE3), Engie (ENGIE3), Cemig (CMIG4), Equatorial (EQTL3), CPFL (CPFE3) e Neoenergia (NEOE3).
E como, para além água e energia, os datacenters também precisam de boa conectividade, os papéis da Vivo (VIVT3) também poderiam ganhar destaque. Até porque nós contamos com dados de conectividade interessantes, segundo o banco.
Isso pode ser atribuído aos cabos submarinos, instalados no fundo do mar para fazer a conexão e transmitir dados entre regiões e continentes distintos.
Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará são os estados onde esses cabos submarinos se conectam. Fortaleza (CE) é a principal porta de entrada, com 90% do tráfego de dados internacionais passando pela região. O estado está conectado a 16 cabos submarinos e 12 data centers instalados. No país, esse número chega a 188, com demanda de 770 Mega Watts.