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Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento

Logo da Ambipar (AMBP3) num furacão

Logo da Ambipar (AMBP3) num furacão.

Outro dia cheguei no escritório bem cedo, mal abri o computador e já tinha mensagem de colegas jornalistas: “Oi, Ruy, bom dia! Tudo bem? Por acaso, você acompanha Braskem? Sabe me dizer o que está acontecendo com os papéis?”

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Ainda de bom humor por conta do café da manhã reforçado, respondi que não acompanhava, mas que me dispunha a repassar qualquer informação relevante que recebesse durante o dia.

O mercado abriu e BRKM5 realmente não vivia o seu melhor pregão, mas um outro nome chamava ainda mais atenção pela desvalorização: AMBP3.

E não demorou muito para chegar outra mensagem: “Olá, Ruy! Tudo certo? Você analisa Ambipar? Papel está derretendo, preciso explicar o que está acontecendo. Consegue me ajudar?”

Nessa altura, já mais perto do almoço e com o humor afetado pelo jejum, respondi que não acompanhava e que, na verdade, queria distância do papel.

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Com o estômago falando alto, ainda emendei: “Sabe por que eu não olho? Porque essas empresas que chamam a atenção em manchete de jornal normalmente são o oposto de um bom investimento. Quer saber o que eu acompanho? Eu acompanho Vivo, Itaú… chatas pra caramba. Não atraem clique, mas também não dão dor de cabeça e sobem cerca de 50% no ano!”

Eu sei que a jornalista está apenas fazendo o trabalho dela, e entendo que mesmo se ela escrever uma super matéria de Vivo provavelmente ninguém vai ler — e ela acabará perdendo o emprego.

O meu problema, na verdade, é com os “investidores” que são atraídos por essas empresas problemáticas, que acham que Bolsa é casino, que compram ações com base em fóruns, sem entender se o preço delas realmente tem algum fundamento.

O caso Ambipar (AMBP3): preço precisa conversar com resultados

Ambipar é um caso clássico de preços totalmente descorrelacionados com os resultados. A linha preta no gráfico abaixo mostra a dinâmica de lucro e a linha verde a variação das ações.

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Repare que a ação chegou a subir mais de 400% enquanto o lucro desabava! Mesmo sem nenhuma narrativa revolucionária (como investimento em Inteligência Artificial ou espaçonaves), as ações passaram boa parte de 2024 e 2025 negociando acima de 100x lucros.

Essa história ficou tão estranha que até a CVM decidiu investigar. Tão estranha e com preços tão injustificáveis que todos os analistas credenciados que cobriam Ambipar já tinham tirado suas recomendações de compra para os papéis, bem antes da derrocada dos últimos dias.

Tela de recomendações para AMBP3 no terminal Bloomberg, mostrando zero recomendações de compra no dia 1/9/25. Fonte: Bloomberg.

Ou seja, qualquer investidor minimamente bem assessorado, ou que entende o básico de análise fundamentalista, sabia que era melhor manter distância dos papéis.

Sinto muito por quem eventualmente perdeu dinheiro com AMBP3, mas esse serve como mais um daqueles episódios educativos, que mostram que preço e fundamentos não podem ficar descorrelacionados para sempre.

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E se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso de AMBP3.

Bolsa não é diversão

Enquanto alguns “investidores” preferem correr atrás de problema e dor de cabeça, a Carteira Mensal de Dividendos da Empiricus sobe 25% em 2025, com empresas que raramente aparecem nas manchetes dos jornais. Enquanto isso, Ambipar e Braskem caem mais de -40%!

Como disse certa vez Paul Samuelson, “investir deveria ser parecido com ver a tinta secar ou a grama crescer. Se você quer diversão, vá para um cassino".

Se você busca diversão (e prejuízo no longo prazo) tem um monte de bet e ações de qualidade duvidosa dominando os fóruns e o noticiário corporativo. Por outro lado, se quiser construir um patrimônio com um portfólio de empresas sólidas que se valorizou mais de 40% desde a criação (45% acima do Ibovespa), vale a pena conferir a Carteira Mensal de Dividendos.

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Um abraço e até a próxima semana!
Ruy

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