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Liderança ameaçada? Com a chegada iminente de concorrentes, B3 (B3SA3) vai precisar melhorar seu jogo para “ganhar na bola”

contratos futuros

Os novos produtos seguirão um modelo semelhante ao do Contrato Futuro de DI (DI1), o principal derivativo de juros do Brasil - Imagem: iStock/caio acquesta

A ação da B3 (B3SA3) sobe mais de 30% neste ano. A valorização começou em março, depois de decisões judiciais favoráveis à empresa relacionadas à incorporação do ágio da fusão com a Cetip. E continuou por conta da retomada do crescimento na negociação no segmento de ações, especialmente no segundo trimestre. 

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Crescimento de volumes negociados deveriam ser o gatilho principal para o negócio de qualquer bolsa. No entanto, cada vez mais a ação da B3 tem outro driver estrutural e possivelmente negativo: a chegada de concorrência. 

Já se vão cerca de 15 anos desde que começaram as primeiras iniciativas de interessados em montar uma nova bolsa no Brasil para enfrentar o monopólio da B3. E a sensação no mercado é de que essa possibilidade nunca esteve tão próxima. 

“São nomes muito sérios e fortes por trás dos negócios anunciados. Acredito que em dois anos isso já será uma realidade”, disse um gestor. 

Fim do monopólio, margens menores

Sempre existiu a discussão sobre se faz sentido a concorrência, ainda mais por conta do porte pequeno do mercado brasileiro. Mas, em linhas gerais, esse debate opõe, de um lado, quem defende o monopólio, que significa uma regulamentação mais simples e um sistema centralizado, que afasta riscos no fechamento das operações. Do outro lado, o contraponto disso é o custo, já que o monopolista não tem incentivo para ser eficiente.

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Um gestor que estudou o assunto há um ano diz que a margem das bolsas em mercados onde há competição fica na casa dos 30%. A margem líquida da B3 no segundo trimestre foi de 52,2%. Segundo ele, em outros países que abriram o mercado, a Bolsa principal segue predominante, com 70% a 75% dos negócios. 

“No entanto, para impedir que os concorrentes nasçam rentáveis e consigam prosperar, a bolsa principal acaba sendo obrigada a diminuir preços, o que reduz a sua própria rentabilidade”, ele diz. 

A conclusão, diz esse gestor, é que independentemente de o competidor ser relevante ou não, ele tem potencial suficiente para fazer com que a B3 tenha que reduzir preço, “saindo do comodismo atual, com suas margens enormes”. “Esse aperto das margens não está no preço, até porque ninguém ainda sabe dizer de que tamanho será.” 

Melhorar para "ganhar na bola"

Para um analista, a B3 tem um mindset “antigo e acomodado, como qualquer monopolista”: “Sem dúvidas, um concorrente vai mexer com eles. Tem um monte de coisas no lucro da B3 que só existe porque se trata de monopólio”. 

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Ele exemplifica dizendo que parte da margem que é depositada pelos participantes em dinheiro não é remunerada pelo CDI, mas passa no caixa da empresa. “Se tiver outra bolsa que faça esse mínimo, que é remunerar a margem do cliente, você operaria em qual?”

Para esse analista, a B3 ainda opera com a cabeça de afastar a competição, em vez de pensar em como melhorar “para ganhar na bola”. 

Na mira do Cade

No fim de agosto, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) abriu um processo administrativo para investigar “ações anticoncorrenciais” da B3 para dificultar a instalação da CSD BR (Central de Serviços de Registro e Depósito aos Mercados Financeiro e de Capitais), que tem entre seus sócios a Santander Corretora, o BTG, a bolsa de Chicago (CBOE), Citi, UBS e Morgan Stanley

A CSD já tem licenças dos reguladores para operar como registradora, depositária e liquidante e consegue atuar com ações em transações bilaterais. Ainda precisa da autorização para atuar como contraparte central para operar em negociações públicas, com o varejo.  

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Segundo a análise dos técnicos do Cade, condutas da B3 “elevam artificialmente as barreiras à entrada e à expansão de concorrentes, dificultando a atuação de novos agentes e perpetuando a dominância da B3 em segmentos críticos do mercado de infraestrutura financeira”.

Depois de instada a se manifestar pela CVM, a B3 disse, em comunicado, que ainda não havia sido notificada sobre processo do Cade, que, em sua avaliação, “não se caracteriza como processo relevante”.

Outros concorrentes no páreo

Coincidência ou não, cerca de 15 dias depois, a B3 divulgou um acordo para a disponibilização e licenciamento de “market data” para a A5X, empresa em processo de autorização perante os reguladores para atuar como uma bolsa, clearing e contraparte central focada em derivativos.

“Para, por exemplo, oferecer negócios com opções de Vale, de Petrobras, a A5X precisará usar os preços do mercado à vista dessas ações, fornecidos pela B3. Por isso, precisou desse acordo”, disse o analista. 

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No comunicado, a B3 disse que o acordo com a A5X “busca fortalecer o mercado brasileiro ao promover um ambiente mais aberto, dinâmico e competitivo. Para os investidores, isso se traduz em mais oportunidades de negócios e maior diversificação de produtos.” 

A A5X tem foi criada por Carlos Ferreira Filho e Karel Luketic, dois ex-sócios da XP; Nilson Monteiro (fundador da corretora Ideal, cujo controle foi adquirido pelo Itaú em 2022); e Julian Chediak, sócio do escritório Chediak Advogados

Este mês, uma terceira rodada de capitalização da empresa, no valor de R$ 200 milhões e com dinheiro dos sócios, avaliou o negócio a R$ 1,3 bilhão. A A5X espera começar a operar ano que vem.

Outra empresa que planeja ser uma opção à B3, mas nos negócios no segmento à vista, é a Base Exchange, que tem como acionista de referência o Mubadala Capital, veículo de investimento do fundo soberano de Abu Dhabi.

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“Não tem nenhum aventureiro na lista dos interessados em criar concorrência para a B3 em seus diversos segmentos de atuação”, resumiu um analista. 

B3 buscando diversificar receitas

A B3 vem trabalhando nos últimos anos principalmente para diversificar as suas receitas. No primeiro trimestre de 2021, a renda variável respondia por 37% das receitas da bolsa. No segundo trimestre deste ano, esse percentual foi de 21%.

Os volumes negociados com ações caíram, mas a Bolsa também foi capaz de diversificar, lançando novos produtos em renda fixa, moeda, commodities e tecnologia — basicamente com a venda de dados —, já que a receita ficou praticamente estável, próxima de R$ 2,7 bilhões por trimestre. 

Ano passado, a B3 lançou contratos futuros de criptomoedas e já disse que pretende ampliar o horário de negociação até chegar a uma operação 24 horas por dia, sete dias por semana. 

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Desde outubro de 2024, Luiz Masagão, um executivo com carreira em bancos de investimento, como Citi, Morgan Stanley e Santander, assumiu como vice-presidente de produtos e clientes da B3. Ele já declarou que enxerga um grande foco no desenvolvimento do mercado de renda fixa no Brasil. 

O que dizem analistas e gestores

Ao analisar o resultado do segundo trimestre, o BTG fez as contas e mostrou o comprometimento da B3 com a distribuição de caixa. De junho de 2019 até junho de 2025, a Bolsa distribuiu R$ 32,7 bilhões aos acionistas, ou cerca de 45% do seu valor de mercado (R$ 74 bilhões), considerando recompras, dividendos e juros sobre capital próprio. No primeiro semestre de 2025, o payout foi de 56% (vs. 116% em 2024 e 120%, em média, desde 2019). 

Para os analistas do BTG, a B3 tem uma espécie de piso de R$ 1,1 bilhão a R$ 1,2 bilhão para o lucro trimestral, “mas com o segmento de ações mostrando recuperação modesta — após um longo período de deterioração — e sinais iniciais de que o pior pode ter ficado para trás, já vemos lucros vindo melhores na margem”, escreveram os analistas. Para eles, a B3 é “um bom ativo para esperar pela virada do ciclo macro e pela queda dos juros”.

A ação da B3 é hoje negociada na casa dos R$ 13-R$ 14, ainda distante do pico da pandemia, quando se aproximou dos R$ 21. 

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Os analistas da Genial também reiteraram compra, mas observaram que o ambiente de concorrência tende a se intensificar e “ainda que seus efeitos sejam limitados no curto prazo, a possibilidade de entrada efetiva de concorrência no mercado brasileiro deve permanecer no radar”.

Embora muitos argumentem que a B3 diga que já concorre com outros participantes, especialmente com bolsas de valores estrangeiras, que vêm atraindo companhias brasileiras, gestores ouvidos pelo Seu Dinheiro apontam que a expectativa de crescimento de volumes agora virá junto de concorrência. “O volume pode crescer, mas se a B3 perder 10 pontos, 15 pontos de margem, será uma bela pancada no valuation”, disse um gestor.

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