Site icon Seu Dinheiro

Da Arábia Saudita à Polícia Federal: Como a PF ligou as joias a Jair Bolsonaro — e o que pode acontecer com ex-presidente

A Polícia Federal concluiu que foi montada uma associação criminosa no governo Jair Bolsonaro (PL) para desviar joias e presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-chefe do Executivo. Segundo a PF, o valor parcial dos presentes entregues por autoridades estrangeiras ao então presidente somou US$ 1.227.725,12 ou R$ 6.826.151,66. As informações constam do relatório final do inquérito das joias sauditas. O caso foi revelado pelo Estadão.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Os investigadores dizem que tal montante não leva em consideração bens ainda pendentes de perícia, além das esculturas douradas de um barco e uma árvore e o relógio Patek Philippe, "que foram desviadas do acervo público brasileiro e ainda não foram recuperadas".

Já entre os bens pendentes de perícia mercadológica estão itens do chamado "kit de ouro branco" — um Masbaha em metal, um par de abotoaduras em metal e um anel em metal — e do "kit ouro rose" — uma Masbaha Rose Gold Chopard, um par de abotoaduras Chopard e um Anel Chopard.

Veja o valor dos kits completos em dólares: 

Caso das joias sauditas

O trecho do relatório sobre as conclusões da PF registrava que o valor mercadológico dos bens desviados somaria US$ 4.550.015,06 ou R$ 25.298.083,73.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Contudo, após a retirada do sigilo nesta segunda-feira (8), a PF disse que houve "erro material" no documento e afirmou que vai enviar uma retificação ao Supremo Tribunal Federal (STF).

No X (antigo) Twitter, Bolsonaro afirmou que vai aguardar "muitas outras correções" por parte da Polícia Federal sobre o inquérito do caso das joias. "Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias 'desviadas' estão na CEF [Caixa Econômica Federal], Acervo ou PF, inclusive as armas de fogo", escreveu.

O ex-presidente foi indiciado por crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro na quinta-feira (4).

Na segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do relatório final da PF sobre o caso e deu 15 dias para que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, se manifeste sobre a conclusão dos investigadores. O documento tem mais de 400 páginas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como a PF descobriu o caso das joias

Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que o ex-presidente Bolsonaro tinha ciência que as joias desviadas da Presidência da República seriam vendidas em leilões.

Em 4 de fevereiro, o tenente-coronel Mauro Cid enviou o link do leilão do kit Rosé para o contato de Bolsonaro. O evento ocorreria quatro dias depois.

O ex-presidente respondeu: "Selva". O jargão é costumeiramente usado por militares como forma de cumprimento, interjeição.

A PF confirmou, por meio da perícia no celular do ex-presidente, que Bolsonaro acessou o site da empresa Fortuna Auction, responsável pelo leilão.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em 8 de fevereiro, dia do leilão, Cid avisa a Bolsonaro que "daqui a pouco é o kit". E envia um link no Facebook, provavelmente com a transmissão ao vivo do evento. A joia, contudo, não foi arrematada.

O tenente-coronel decide, no dia 13 de fevereiro, realizar mais uma tentativa de leilão. Em março, contudo, Cid diz à Fortuna Auction que não tem mais interesse.

Quais os próximos passos no caso das joias?

O Código de Processo Penal determina que, uma vez concluído o inquérito policial, o juiz responsável deve encaminhá-lo ao Ministério Público.

Nesse caso, o ministro Alexandre de Moraes já enviou o relatório da Polícia Federal ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, chefe do Ministério Público Federal (MPF).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A Procuradoria-Geral da República tem um prazo de até 15 dias para se pronunciar sobre um possível oferecimento de denúncia contra os investigados.

O MPF decidirá se apresenta uma acusação formal à Justiça, o que pode levar à abertura de uma ação penal. Além disso, o Ministério Público pode solicitar mais investigações ou arquivar o caso.

Dessa forma, o indiciamento pela PF não significa que Bolsonaro é culpado pela apropriação e tentativa de venda das joias.

Caso o MPF apresente a denúncia e a Justiça - neste caso, o STF - acate a acusação, Bolsonaro se tornará réu no processo que julgará os crimes.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Nessa fase, serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa, além das posições do MPF e dos acusados, e só então haverá o julgamento do caso.

O que diz o relatório da PF?

No relatório, assinado pelo delegado da PF Fábio Alvarez Shor, é apontada a hipótese criminal de que os investigados se uniram com o objetivo de desviar, em benefício de Bolsonaro, presentes recebidos em razão de seu cargo.

Esses presentes foram entregues por autoridades estrangeiras a Bolsonaro ou a autoridades brasileiras em seu nome.

"Após serem apropriados pelo ex-presidente da República, formalmente ou não, os bens foram levados, de forma oculta, para os Estados Unidos da América, em junho e dezembro de 2022, por meio de avião presidencial e encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta", diz o documento.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Do mesmo modo, o relatório também aponta que o ex-presidente usou dinheiro em espécie, obtido por meio da venda dessas joias desviadas, para cobrir as despesas dele e da sua família durante a temporada de três meses que passaram nos EUA no início de 2023. Bolsonaro viajou para o país norte-americano no último dia do seu mandato.

Por fim, o relatório pede que os investigados sejam indiciados por três crimes: associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato. A defesa de Bolsonaro, procurada para comentar, ainda não se manifestou.

Confira a pena para cada possível crime

*Com informações do Estadão Conteúdo

Exit mobile version