Na linha “entendedores entenderão”, Vladimir Putin anunciou novas regras para o uso de armas nucleares pela Rússia. O projeto de alteração nas doutrinas do país é visto como um recado claro ao Ocidente.
O presidente russo afirmou que “uma série de esclarecimentos definindo as condições para o uso de armas nucleares” está sendo feita no documento.
As mudanças, de acordo com Putin, incluem a expansão da “categoria de estados e alianças militares em relação aos quais a dissuasão nuclear é realizada” e uma lista de “ameaças militares”.
No entanto, a proposta que mais chama atenção é a que define que ataques realizados contra a Rússia por Estados não nucleares, mas que sejam apoiados por nações com armamento nuclear, serão vistos como uma ofensiva conjunta.
Isso porque o anúncio vem em meio a pressões do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que os Estados Unidos e países europeus mantenham o apoio ao país no conflito contra a Rússia.
Além disso, nos últimos meses, Zelensky vem fazendo apelos públicos para que os EUA e o Reino Unido autorizem o uso de mísseis de longo alcance doados pelos dois países no território russo.
“Temos armas de longo alcance. Mas nem os EUA nem o Reino Unido nos deram permissão para usar essas armas no território da Rússia, para qualquer propósito a qualquer distância.”, afirmou o presidente da Ucrânia à NBC News.
As novas regras do uso de armas nucleares da Rússia
Até o momento, a atual doutrina nuclear de Moscou não inclui a avaliação sobre ofensivas conjuntas, abordando apenas ataques contra o país e aliados russos.
Assim, as regras definem que é reservado ao país o direito de utilizar o armamento “em resposta ao uso de armas nucleares e outros tipos de armas de destruição em massa”.
Além disso, também inclui o uso de armamento nuclear no caso de “a própria existência do estado estiver ameaçada”.
Outra condição que pode determinar o uso do arsenal pela Rússia é o “recebimento de informações confiáveis sobre o lançamento de mísseis balísticos atacando o território da Federação Russa e (ou) seus aliados”.
Na política, definida em 2020, o governo russo afirmou que o uso de armas nucleares é “um meio de dissuasão” e que a utilização seria “uma medida extrema e necessária”.
Apesar disso, Putin vem ameaçando o uso do arsenal desde o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022.
O presidente chegou a avisar países europeus que demonstram apoio a Zelensky que “a Europa não tem um sistema de alerta desenvolvido" e que "nesse sentido, eles são mais ou menos indefesos."
Agora, com a possível alteração da doutrina, Putin eleva o tom das advertências contra apoiadores de Kiev.
No início de setembro, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, chegou a afirmar que a mudança era motivada pela “escalada” do apoio do Ocidente no conflito.
No entanto, mesmo com a proposta de novas regras mais amplas sobre as ofensivas de países rivais, a Rússia continua a se referir à doutrina como “defensiva por natureza”.
Em documento, o governo russo afirmou que “faz todos os esforços necessários para reduzir a ameaça nuclear e evitar o agravamento das relações entre os Estados que poderiam provocar conflitos militares, incluindo os nucleares”.
Guerra na Ucrânia e risco nuclear: Por que Putin decidiu subir (ainda mais) o tom agora?
Desde o início da invasão da Ucrânia, a questão do uso de arsenal nuclear vem sendo uma preocupação – e também uma estratégia do governo russo.
Em maio, Putin realizou exercícios de armas táticas, que são projetadas para atingir alvos específicos e possuem ações radioativas menos generalizadas, perto da fronteira com o país.
Após a última ofensiva, quando tropas ucranianas invadiram o território russo, o governo de Zelensky vem demonstrando desejos de atingir bases dentro da Rússia, que estariam atacando a Ucrânia por meio do envio de mísseis.
Já em agosto, uma incursão das forças ucranianas na região russa de Kursk pegou Moscou de surpresa. Putin chegou a acusar o Ocidente de colaborar com o ataque, mas os aliados da Ucrânia negaram qualquer conhecimento sobre a operação.
Atualmente, Zelensky está nos EUA e deve se encontrar com o presidente, Joe Biden, em Washington, ainda hoje (26). O presidente da Ucrânia deve voltar a pressionar o governo norte-americano para a liberação de ataques de mísseis de longo alcance à Rússia.
Assim, o anúncio das alterações da doutrina da Rússia sobre uso de armas nucleares parece fazer referência direta ao possível lançamento de mísseis de longo alcance da Ucrânia.
Putin chegou a dizer que consideraria uma resposta nuclear se recebesse “informações confiáveis sobre uma decolagem em massa” de aviões estratégicos ou táticos em direção à Rússia.
Com informações da CNBC e BBC News