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O impacto da decisão do Fed: como os juros americanos afetam o Brasil e o futuro da Selic

Roberto Campos Neto e Jerome Powell, presidentes dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos

Roberto Campos Neto e Jerome Powell, presidentes dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos

A semana passada foi encerrada com uma atenuação das inquietações do mercado sobre a política monetária do Federal Reserve (Fed), graças ao índice PCE de março.

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A medida de inflação favorita da autoridade monetária americana se alinhou às expectativas e forneceu um panorama menos alarmante do que o incremento notado no trimestre, divulgado em conjunto com o crescimento da economia na quinta-feira.

Sobre o dado, especificamente, o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) registrou um aumento de 0,3% em março.

Adicionalmente, a inflação de janeiro foi revisada de 0,45% para 0,50% na comparação mensal, contribuindo para que o crescimento em março não provocasse surpresas desagradáveis e aliviasse as preocupações surgidas após a divulgação do PIB.

Aliás, a métrica conhecida como "super núcleo", que foca nos serviços excluindo habitação e ignora os componentes mais voláteis como alimentos e energia, teve um aumento anual de 5,5%, influenciado pela alta de 0,7% em janeiro.

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Se este índice mantiver o aumento de 0,4%, a taxa anualizada para o trimestre poderá cair para 4%. Embora ainda reflita uma inflação alta, este resultado sugeriria uma modesta melhoria.

O que o Fed deve dizer

Diante disso, começamos a semana com uma base mais estável, apesar da expectativa para a reunião do Fed, agendada para esta terça e quarta-feira, e os dados de emprego, esperados para sexta-feira.

Os juros dos Treasuries continuam a superar 4,60%, ainda abaixo dos picos observados em outubro do ano passado.

É provável que o Comitê mantenha uma postura cautelosa sobre os cortes nas taxas de juros, sem previsões imediatas de redução, com possíveis declarações de Powell indicando que não há pressa para cortar as taxas devido à inflação persistentemente alta. Em resumo, espera-se um tom mais firme diante de uma inflação ainda forte.

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Abaixo, temos um mapa de calor sobre a precificação do mercado para as próximas reuniões do Fed. Note que se um corte ocorrer, é provável que só aconteça a partir de setembro, dependendo, claro, dos dados de inflação e atividade econômica futuros.

Fonte: Santander, Bloomberg, CME e Fed New York.

Embora se espere predominantemente que o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed mantenha inalterada a taxa dos fundos federais na reunião desta semana, é possível que o presidente Jerome Powell, em suas declarações após a reunião, sugira planos para desacelerar a redução do balanço da Reserva Federal ainda este ano.

Powell não tem pressa

Dado o robusto mercado de trabalho e o crescimento econômico contínuo, o Fed não tem pressa em reduzir as taxas. Se o Fed flexibilizar sua meta de inflação de 2%, isso poderia facilitar um corte nas taxas ainda este ano.

Adicionalmente, será fundamental acompanhar na quarta-feira a projeção do Tesouro sobre suas necessidades de financiamento. A significativa alta nos juros dos Treasuries entre julho e outubro do ano passado foi impulsionada, entre outras coisas, pela indicação de um aumento nas necessidades de financiamento.

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Logo na sequência, em novembro, se observou uma queda nos juros devido à diminuição das necessidades do Tesouro e sinais do Fed de possíveis cortes de juros. Podemos ter uma boa notícia; afinal, espera-se que o déficit do governo americano diminua de US$ 2 trilhões para US$ 1,5 trilhão, em grande parte por conta do forte mercado de trabalho.

Sim, o Tesouro ainda enfrenta um grande desafio fiscal para os próximos anos, mas a pressão no curto prazo poderia ser reduzida.

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Já para o relatório de emprego de sexta-feira, o mercado antecipa que a economia tenha adicionado 220 mil empregos não-agrícolas em abril, uma redução em relação aos 303 mil empregos de março, e que a taxa de desemprego se mantenha em 3,8%, um nível abaixo de 4% desde fevereiro de 2022.

Um número acima do esperado seria péssimo para a trajetória dos juros dos EUA.

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Inclusive, um Fed menos propenso à flexibilização pode complicar os planos do Banco Central do Brasil de prosseguir com cortes na taxa de juros.

Se as taxas de juros nos EUA permanecerem elevadas por mais tempo, as taxas brasileiras também precisarão ser mantidas para evitar impactos adversos no câmbio, o que poderia reacender as pressões inflacionárias.

Assim, se Powell adotar um tom mais severo na quarta-feira, as chances de um corte de 50 pontos-base pelo Copom na próxima semana diminuirão.

Por outro lado, se o Fed adotar uma postura cautelosa, mas não excessivamente rigorosa, isso poderia manter aberta a possibilidade de um corte de 50 pontos-base, até mesmo porque o nosso recente IPCA-15 abaixo do esperado deu margem para isso.

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Atualmente, contudo, o mercado local adota uma postura mais conservadora, já precificando a possibilidade de uma desaceleração no ritmo de corte de 50 para 25 pontos-base.

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