Em um país no qual o endividamento da população é alto, os juros compostos são um dos piores pesadelos dos brasileiros.
Também conhecidos como juros sobre juros, são calculados tanto sobre o valor inicial de um empréstimo ou financiamento quanto sobre os juros já acumulados. Com isso, o total devido aumenta exponencialmente ao longo do tempo e a dívida fica muito mais cara.
Mas aquele que é um grande inimigo das finanças também pode se tornar um dos principais aliados na construção do patrimônio com uma troca de papéis.
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Isso porque, assim como um cliente pega um empréstimo em um banco, qualquer brasileiro também pode emprestar o seu dinheiro para uma instituição financeira em troca de juros.
Ou seja, enquanto quem contrai dívidas precisa pagar juros compostos, quem investe passa a recebê-los, fazendo com que eles trabalhem a seu favor.
“Falamos sempre do efeito ‘bola de neve’ dos juros de uma dívida, mas essa lógica também vale para os rendimentos proporcionados pelos juros compostos”, afirma Carlos Castro, planejador financeiro certificado (CFP) pela Planejar.
Castro destaca ainda que, quanto maior o prazo disponível para o investimento e a constância nos aportes, melhor o resultado.
“Muita gente tende a focar nos ganhos de curto prazo, mas, para usar o mercado financeiro ao seu favor é preciso tempo. Acumular patrimônio é como assar um bolo: os juros compostos são o fermento que faz com que o investimento cresça e os aportes são os ingredientes que darão uma base para o fermento agir.”
O poder dos juros compostos
Para exemplificar o poder dos juros compostos, simulamos o que aconteceria se um investidor deixasse R$ 100 mil parados na conta — ou debaixo do colchão — ou utilizasse o dinheiro para uma aplicação de baixo risco que rendesse 0,7% ao mês.
Esse percentual de retorno condiz com o rendimento líquido esperado para o cenário atual dos juros brasileiro — vale relembrar que o Banco Central elevou na semana passada a taxa Selic para 10,75% ao ano.
Em apenas um ano (e sem qualquer aporte adicional), a aplicação renderia pouco mais de R$ 8.700. Não é um valor muito impressionante, mas em dois anos, o valor referente aos juros sobe para R$ 18 mil. Ou seja, de R$ 100 mil, o investidor passaria a ter cerca de R$ 118 mil.
Quem tivesse disciplina para deixar o dinheiro aplicado por cinco anos veria os R$ 100 mil transformarem-se em mais de R$ 151 mil. Em 20 anos o investimento inicial cresceria mais de cinco vezes, para R$ 533 mil.
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Já aqueles que pensassem ainda mais a longo prazo e deixassem a aplicação render ao longo de 30 anos se tornariam oficialmente milionários apenas com os juros compostos, que transformariam o investimento inicial de R$ 100 mil em mais de R$ 1,2 milhão nesse período.
O gráfico a seguir mostra o montante investido ao longo do tempo, que aumenta sob a ação dos juros (azul) comparado aos mesmos R$ 100 mil deixados “debaixo do colchão” (vermelho):
Prazo | Valor acumulado com juros | Valor acumulado debaixo do colchão | Valor referente somente aos juros |
1 ano | R$ 108.731,07 | R$ 100.000,00 | R$ 8.731,07 |
2 anos | R$ 118.224,45 | R$ 100.000,00 | R$ 18.224,45 |
5 anos | R$ 151.973,63 | R$ 100.000,00 | R$ 51.973,63 |
10 anos | R$ 230.959,84 | R$ 100.000,00 | R$ 130.959,84 |
15 anos | R$ 350.998,05 | R$ 100.000,00 | R$ 250.998,05 |
20 anos | R$ 533.424,47 | R$ 100.000,00 | R$ 433.424,47 |
25 anos | R$ 810.664,52 | R$ 100.000,00 | R$ 710.664,52 |
30 anos | R$ 1.231.996,29 | R$ 100.000,00 | R$ 1.131.996,29 |
De grão em grão…
Vale destacar que, para quem não tem uma soma alta para investir agora como no cenário anterior, os juros compostos também são eficazes quando se trata de pequenos valores aplicados ao longo do tempo.
Aliás, muitas vezes a constância é mais importante para a acumulação de patrimônio do que a busca por um investimento de alta rentabilidade. “Fazendo os aportes com frequência, o retorno será maior do que se você só colocar um valor e esperar que ele renda ao longo do tempo”, diz o planejador financeiro.
Provando que, de grão em grão, a galinha enche o cofre, uma simulação com simples aportes mensais de R$ 1.000 — sem a necessidade de fazer um grande aporte inicial — mostra que também é possível chegar à casa do milhão.
No curto prazo, a simulação não enche os olhos. Considerando-se uma aplicação de baixo risco com uma taxa de juros mensal de 0,7%, as aplicações de R$ 1.000 por mês renderiam, após um ano, apenas R$ 472,92.
Após dois anos, porém, o valor referente aos juros já sobe para pouco mais de R$ 2 mil, totalizando um montante da ordem de R$ 26 mil.
Mostrando que o crescimento também é exponencial nesse cenário, o valor acumulado com juros chegaria a R$ 74 mil em cinco anos e superaria os R$ 187 mil em 10 anos.
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O tão sonhado milhão chegaria após 25 anos — sendo apenas R$ 300 mil referentes aos aportes mensais, enquanto os outros R$ 715 mil correspondem aos juros compostos acumulados.
Já se deixado “debaixo do colchão”, esse dinheiro iria se transformar em apenas R$ 360 mil no mesmo período, o equivalente à poupança de R$ 1.000 por mês durante 360 meses (30 anos), sem qualquer taxa de juros ou correção.
Mostramos isso no gráfico abaixo, onde você pode ver o ritmo do crescimento do montante apenas com os valores aportados (vermelho) em comparação ao ritmo de crescimento do montante com os valores dos aportes mais os juros sobre juros:
Prazo | Valor acumulado com juros | Valor acumulado debaixo do colchão | Valor referente somente aos juros |
1 ano | R$ 12.472,95 | R$ 12.000,00 | R$ 472,95 |
2 anos | R$ 26.034,93 | R$ 24.000,00 | R$ 2.034,93 |
5 anos | R$ 74.248,04 | R$ 60.000,00 | R$ 14.248,04 |
10 anos | R$ 187.085,48 | R$ 120.000,00 | R$ 67.085,48 |
15 anos | R$ 358.568,64 | R$ 180.000,00 | R$ 178.568,64 |
20 anos | R$ 619.177,81 | R$ 240.000,00 | R$ 379.177,81 |
25 anos | R$ 1.015.235,03 | R$ 300.000,00 | R$ 715.235,03 |
30 anos | R$ 1.617.137,55 | R$ 360.000,00 | R$ 1.257.137,55 |