O impasse sobre quem seria o novo CEO da Vale (VALE3) chegou ao fim na noite de segunda-feira (27) com a nomeação de Gustavo Pimenta para o comando da mineradora.
Atual vice-presidente executivo e de Finanças e Relações com Investidores da companhia, ele foi aprovado pelo conselho por unanimidade para suceder Eduardo Bartolomeo a partir de 1º de janeiro de 2025.
O fim da novela e a escolha do executivo colocaram as ações da Vale no pódio com a maior alta do Ibovespa nesta terça-feira (27). Por volta das 13h30, os papéis VALE3 subiam 2,86%, a R$ 59,72. No ano, porém, as ações da mineradora acumulam queda de 19%. No final da tarde, a Vale (VALE3) encerrou o pregão como a terceira maior alta do Ibovespa. As ações fecharam em alta de 3,01%, a R$ 59,80.
Pouco antes, a bolsa brasileira chegou a renovar uma marca inédita ao alcançar os 137.212,64 pontos — o maior nível intradia na história. Às 13h30, o Ibovespa operava em alta de 0,05%, aos 136.958,10 pontos. No fechamento do mercado, a bolsa encerrou com queda de 0,08%, aos 136.775,91 pontos.
Nas bolsas americanas, os ADR (American Depositary Receipts) da Vale — recibos que permitem que investidores comprem nos EUA ações de empresas listadas fora do país — fecharam em alta de 2,64%, a US$ 10,89.
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Como os analistas avaliam o anúncio?
A aposta em uma solução interna põe fim ao imbróglio na Vale que vinha se estendendo desde o ano passado. A escolha do novo CEO dividiu os acionistas da companhia, que eram contrários à interferência do governo na indicação de um novo presidente da empresa.
Para o Itaú BBA, a escolha de alguém de dentro da própria companhia para ocupar o cargo de CEO foi a melhor opção para acelerar as negociações em andamento.
A instituição cita dois motivos principais que endossam essa visão. O primeiro é que a decisão suaviza a transição de comando e limita as mudanças na estratégia da empresa.
O segundo motivo é que a escolha de Guilherme Pimenta não interrompe os processos de negociação em andamento com as contrapartes da Vale sobre tópicos importantes.
A instituição manteve a recomendação outperform para os ADRs da Vale, equivalente à compra. O preço-alvo é de R$ 13, uma alta de 23% sobre o fechamento anterior.
Na visão do Santander, o anúncio do novo CEO é positivo, embora ainda seja preciso mais clareza sobre algumas questões. Entre elas, as discussões com o governo federal em relação ao acordo de Mariana e as concessões ferroviárias na região Norte do Brasil.
O banco reiterou a recomendação equivalente a compra para os ADRs da Vale, com preço-alvo de US$ 18 — o equivalente a uma alta de 70% em relação ao preço atual.
Já o BTG Pactual manteve classificação neutra para as ações VALE3, com preço-alvo de US$ 12,00 para o ADR da Vale, representando um potencial de valorização de 13%
Para o banco, não há dúvidas de que a escolha do novo CEO antes do prazo final seja um evento de redução de riscos e deva ser bem recebida pelo mercado. No entanto, os analistas do BTG preferem “esperar um pouco mais para que o cenário clareie”.
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Vitória importante para a governança da Vale (VALE3)
Na visão do BTG Pactual, embora a escolha interna de um novo CEO não seja totalmente uma surpresa, a nomeação ainda em agosto mostra que o processo de sucessão foi acelerado como um meio de reduzir os riscos para o patrimônio da Vale.
O ponto positivo é que a governança da Vale, uma das mais importantes do país, prevaleceu em meio a tentativas de interferência política, segundo o banco.
Para o futuro, os analistas apontam como o “único obstáculo” a renegociação dos passivos da Samarco, para o qual o BTG espera uma resolução nas próximas semanas.
“Desnecessário dizer que esses eventos podem colocar a empresa em uma base mais firme com a comunidade de investimentos e ajudar a estabilizar ou até mesmo reverter o sentimento negativo em torno do caso nos últimos meses”, afirmam os analistas.
As ‘missões’ de Guilherme Pimenta como CEO
O BBA acredita que Pimenta terá duas tarefas principais no curto prazo como CEO da Vale. A primeira será chegar a um acordo com o governo sobre o caso de Mariana.
A Vale e a BHP negociam um acordo para a reparação de atingidos pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. As empresas buscam o acordo estimado em R$ 100 bilhões, mas entidades que defendem as vítimas pedem que o governo Lula rejeite a proposta, considerada insuficiente.
“Este poderia ser o ponto de partida para se ‘reengajar’ com uma parte da base de acionistas anterior da Vale que não conseguiu investir na empresa nos últimos anos”, afirma o Itaú BBA.
Do ponto de vista operacional, o BBA espera que o novo CEO Gustavo Pimenta se concentre na melhoria em diferentes frentes, como desafios regulatórios no norte e maior eficiência de ativos subutilizados no sistema sul.
Além disso, a Vale também precisa assinar um acordo para renovar suas concessões ferroviárias, o que, na visão dos analistas, poderia equilibrar pagamentos potenciais com obrigações futuras para alcançar um resultado ganha-ganha para a companhia.
“Em nossa opinião, a resolução desses tópicos pode resultar em um estreitamento do desconto de avaliação da Vale em relação aos seus pares australianos”.