“Não se afobe, não, que nada é pra já”, poderia cantar Roberto Campos Neto para Fernando Haddad depois de ver os números da inflação de maio.
Os versos de Chico Buarque ilustram a frustração de quem ainda vivia a expectativa de ver o Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central (BC) cortar os juros na semana que vem.
O golpe fatal veio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11).
A inflação oficial voltou a acelerar em maio e analistas agora avaliam que o Copom vai manter os juros por algum tempo em 10,50% ao ano antes de pensar em novos cortes.
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Como veio a inflação de maio
Antes de falar sobre as perspectivas para os juros, vamos aos dados.
A inflação medida pelo IPCA acelerou de +0,38% para +0,46% na passagem de abril para maio, na comparação mensal.
No acumulado em 12 meses, a inflação oficial acelerou de +3,69% para +3,93% no mesmo intervalo. Isso ocorre depois de sete meses seguidos de desaceleração.
Além de acelerar, a inflação ficou acima das estimativas dos analistas consultados pelo Broadcast, de +0,40% no mês e de +3,87% em 12 meses.
Parte dessa reaceleração pode ser atribuída à base de comparação mais fraca em relação ao mesmo período em 2023.
“Entretanto, também se observa aceleração nos núcleos, que saiu de 0,26% em abril para 0,39% em maio”, disse André Valério, economista sênior do Inter.
Para ver os números completos da inflação em maio, clique aqui.
Como a inflação afeta os juros
O controle da inflação é o principal objetivo do Copom.
Até abril, embora a duras penas, a autoridade monetária vinha conseguindo trazer a inflação para mais perto do centro da meta (3% ao ano).
Mesmo com os juros ainda na casa de dois dígitos, porém, a atividade econômica segue forte e pressiona os preços.
Para os próximos meses, porém, a expectativa é de que os impactos da catástrofe climática no Rio Grande do Sul sejam refletidos nos preços dos alimentos de maneira cada vez mais abrangente.
Agora em maio, a inflação mensal em Porto Alegre saltou para +0,87% no IPCA e para +0,95% no INPC.
Para Valério, a inflação tende a seguir pressionada nos próximos meses e chegará ao fim do ano não muito longe dos níveis de maio, em torno de 4%, mas ainda abaixo do teto de meta (4,5%).
Copom vai parar de cortar os juros?
Por enquanto, o mais provável é que sim.
Até o IPCA de maio, ainda havia alguma expectativa de que o Copom poderia promover mais um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa Selic na reunião de 19 de junho antes de interromper o alívio monetário.
Agora, porém, essa expectativa — que já era baixa — é praticamente nula.
Valério acredita que o Copom manterá a taxa básica de juros nos atuais 10,50% ao ano na reunião da semana que vem. Vale observar que essa leitura é quase unânime no mercado no momento.
Na opinião do economista do Inter, o espaço para novos cortes deve surgir apenas perto do fim de 2024 — ou talvez em 2025.