A arte de fazer apostas financeiras costuma ser complexa e exige muita dedicação, além de uma boa dose de sorte. Mas vai ser difícil alguém errar o palpite sobre o saldo da primeira “Super Quarta” do ano, ao menos do lado brasileiro.
Desde que o Banco Central reduziu a taxa Selic de 12,25% para 11,75% no final do ano passado, o time de dirigentes liderados por Roberto Campos Neto já havia deixado contratado um novo corte da mesma magnitude para ao menos outras duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Por isso, a maioria do mercado aposta em uma nova redução de meio ponto percentual nos juros hoje, levando a taxa para o patamar de 11,25% ao ano.
E não só neste encontro: com a publicação do último Boletim Focus, que manteve a previsão da Selic para 9% no final deste ano e 8,5% em 2025, os especialistas esperam cortes de 0,5 p.p. em março, maio, junho e julho.
Desse modo, a grande expectativa do mercado é com relação ao comunicado que acompanha a decisão. Os investidores devem se debruçar em busca de algum sinal sobre uma possível aceleração ou redução do passo pelo Copom. Aliás, existem bons argumentos para ambos os lados.
De acordo com o BTG Pactual, uma mudança na “velocidade de cruzeiro” adotada pelo BC deve ser vista apenas no final do terceiro trimestre — e para menos. O banco espera que o ritmo do afrouxamento se reduza para 0,25 ponto percentual na reunião de setembro.
“Não vimos nenhum dado ou comunicação do Copom sugerindo uma mudança no seu plano de voo. Esperamos que o comitê mantenha a sua mensagem e ainda não dê espaço para uma mudança de ritmo”, afirmam os analistas.
Além da atual ausência de indicadores que sustentem um corte maior, há ainda riscos de que os próximos meses tragam surpresas negativas, segundo a Genial Investimentos: “os últimos dados têm apontado para um repique da inflação de serviços, o que inviabiliza a aceleração dos cortes.”
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O que falta para o Copom acelerar a queda da Selic
Por outro lado, o resultado da “Super Quarta” nos Estados Unidos — onde o Federal Reserve também se reúne para decidir os rumos da política monetária norte-americana — pode equilibrar o jogo e abrir espaço para que o BC brasileiro pise no acelerador.
Isso não ocorrerá já nesta quarta-feira, vale ressaltar: por lá, a expectativa praticamente unânime ainda é pela manutenção dos juros no patamar atual de 5,25% a 5,5% ao ano, o maior em 22 anos.
Mas, na visão de tubarões do mercado como Rogério Xavier, fundador da SPX, o cenário vai mudar em breve. E não só nos Estados Unidos, mas em outros países do primeiro mundo.
“Estou convicto que [os países desenvolvidos] vão começar a cortar em março. E acho que a combinação desses fatores vai permitir que o Copom possa acelerar o ritmo”, declarou o gestor durante participação em um evento promovido pelo UBS no início desta semana.
Xavier acredita que, com a redução dos juros lá fora, os economistas brasileiros ajustarão as expectativas locais, trazendo as projeções da inflação para dentro da meta em 2024 e 2025, e a Selic poderá chegar aos 8% nos próximos dois anos.
Vale destacar, porém, que apostas de que o Fed reduzirá os juros em março caíram para 41,7% ontem após o relatório de emprego Jolts apontar uma abertura de postos de trabalho mais forte do que o esperado em dezembro.
Agora, o mercado enxerga como o momento mais provável que os cortes aconteçam em maio deste ano. As chances são de 85,7%, segundo o monitoramento do CME Group.