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Os juros vão subir ainda mais? Quando a âncora fiscal falha, a âncora monetária precisa ser acionada com mais força

Navio durante tempestade

O mercado financeiro mantém um tom de cautela, refletindo a falta de avanços significativos na agenda fiscal ao longo da última semana. A proposta do governo para conter o crescimento dos gastos públicos, que comentei na terça-feira passada, enfrenta alguma resistência no Congresso, contribuindo para um cenário de incertezas. Esse ambiente foi claramente demonstrado no comportamento do mercado na última sexta-feira, destacando a magnitude do desafio fiscal enfrentado pelo Brasil.

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A dimensão do problema fiscal é inegável: atualmente, o país direciona 38% de seu Produto Interno Bruto (PIB) a gastos correntes, enquanto a arrecadação atinge 36,5% do PIB, resultando em um déficit estrutural de 1,5%.

Quando adicionamos uma relação dívida/PIB próxima de 80% e juros reais ao redor de 7%, o custo anual do serviço da dívida chega a aproximadamente R$ 1 trilhão, elevando o total de despesas para impressionantes R$ 6 trilhões.

Diante disso, a economia prometida de R$ 30 bilhões para 2025 representa um esforço insuficiente para equilibrar as contas públicas. Mesmo que o arcabouço fiscal seja executado, os números indicam que a sustentabilidade fiscal continuará em xeque.

O pessimismo permanece evidente no mercado local desde o anúncio do Ministro Fernando Haddad, sem qualquer sinal de alívio no clima entre os investidores.

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Foco no Copom

Agora, o foco se desloca para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para terça (9) e quarta-feira (10).

A divulgação do IPCA de novembro, nesta terça-feira, deverá ter um impacto limitado sobre as decisões do Banco Central, já que o mercado considera praticamente certa uma alta de pelo menos 75 pontos-base na Selic.

Entretanto, a deterioração das expectativas nos últimos dias intensificou as apostas sobre um aumento de 100 pontos-base, refletindo a pressão crescente. Nas condições atuais, parece plausível.

O Boletim Focus desta semana destacou uma deterioração adicional nas projeções: a Selic esperada para 2025 subiu para 13,5%.

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Entretanto, é importante ressaltar que as projeções do Focus podem não captar toda a velocidade dos acontecimentos recentes.

A lição é clara: quando a âncora fiscal falha, a responsabilidade recai integralmente sobre a política monetária, que precisa operar em intensidade maior.

Fonte: Banco Central do Brasil.

No mercado, a inflação implícita na curva de juros para dois anos ultrapassou 7%, um patamar alarmante que reflete uma deterioração significativa das expectativas de mercado.

Esse contexto de juros reais elevados contrasta de forma marcante com avanços estruturais cruciais conquistados nos últimos anos, como o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a consolidação da autonomia do Banco Central.

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O que anteriormente era visto como uma possibilidade remota de dominância fiscal agora começa a se materializar nas projeções econômicas.

Simultaneamente, a curva de juros precifica uma Selic terminal de 15,75%, com os juros reais retornando a níveis do pior momento da era Dilma.

Esse contexto é agravado por uma conjuntura global desafiadora.

Isso porque os Bancos Centrais de quatro continentes estão promovendo ajustes simultâneos em suas políticas monetárias nos próximos dias, buscando conter pressões inflacionárias e estabilizar seus respectivos mercados — a perspectiva de um novo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada adicional de incerteza ao mundo.

Fonte: Bloomberg.

Até o fim do ano, nove dos dez maiores bancos centrais do mundo ainda irão determinar suas diretrizes monetárias, mantendo os mercados atentos.

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Especificamente, o Banco Central Europeu (BCE) deve realizar um corte de ao menos 25 pontos-base na taxa de juros nesta semana, enquanto o Federal Reserve (Fed) parece inclinado a seguir o mesmo caminho na semana que vem, antes de possivelmente pausar o ciclo de flexibilização no início do próximo ano.

No que diz respeito aos ativos brasileiros, a confiança na política econômica do país está praticamente inexistente, agravada pela ausência de catalisadores de curto prazo que poderiam estimular o mercado.

Além disso, a falta de um comprador marginal relevante reflete o foco predominante nos ruídos políticos e econômicos, com pouca consideração pelos fundamentos e valuations de longo prazo.

Crise e oportunidade

Para os investidores capazes de aproveitar esse desalinhamento entre preço e valor, há uma oportunidade.

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Em termos mais diretos, se a política econômica não for corrigida, o cenário aponta para uma mudança de poder na próxima eleição presidencial, o que pode inaugurar um superciclo econômico antes mesmo de 2027.

Entretanto, o caminho até lá será marcado por turbulências.

A política monetária terá de ser mais restritiva para conter os desequilíbrios atuais, o que significa juros mais altos por um período prolongado.

Neste contexto, uma alta de 100 pontos da Selic no Copom desta semana me parece uma expectativa razoável.

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O desafio, portanto, será equilibrar a exposição aos ativos locais com a gestão dos riscos inerentes a essa trajetória incerta, mas potencialmente recompensadora no longo prazo.

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