O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avaliou nesta segunda-feira (23) que, entre os múltiplos motivos possíveis da elevação dos juros nos EUA, começou a se consolidar uma interpretação menos benigna e mais estrutural.
Se a alta dos yields dos títulos norte-americanos tem causa estrutural, complementou o presidente do BC, fica a pergunta sobre em quanto tempo os juros seguirão mais altos.
Ao abrir evento na sede do Estadão, Campos Neto pontuou que as taxas mais altas nos Estados Unidos levantaram quase todas as curvas de juros.
"Está ficando mais claro uma interpretação menos benigna e mais estrutural. Em sendo estrutural, existe a pergunta de em quanto tempo os juros seguirão mais altos", afirmou Campos Neto.
Ele disse ainda que espera mais uma alta dos juros nos EUA em dezembro.
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Além de juros nos EUA, China pesa
Ao elencar as várias explicações da alta dos juros nos EUA, Campos Neto citou, além do tema fiscal, as intervenções de moeda na China, a sazonalidade dos leilões de títulos no país, e a piora do risco país na maior economia do mundo.
Na análise do cenário externo, o presidente do BC lembrou ainda que a China mudou o modelo de crescimento para inovação e consumo, ao invés de investimento e construção.
"O próprio governo chinês disse que a mudança de modelo vai levar a um crescimento mais baixo", afirmou.
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A inflação, Israel e o Hamas
Campos Neto também falou sobre a inflação. Segundo ele, após o impacto nos preços de energia, os preços voltaram a cair no mundo, porém não de forma linear.
"Em grande parte, a inflação cai, mas a linearidade não é igual", disse o presidente do BC.
Ele observou que os preços de energia parecem ter se estabilizado depois do primeiro choque da guerra entre Israel e Hamas.
Campos Neto ponderou, contudo, que ainda existe incerteza sobre a escalada do conflito, com potencial efeito na cotação do petróleo.
O presidente do BC lembrou da discussão sobre desinflação adicional durante a última reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas destacou que ainda não está claro de onde está vindo a desinflação adicional do mundo desenvolvido.
Nesse ponto, ele descartou a possibilidade de a desinflação vir da cena fiscal nos Estados Unidos, que segue "solta", e tampouco do petróleo, dada a guerra na Ucrânia e o conflito em Israel.
Do lado dos alimentos, continuou, os preços devem ficar voláteis em função das alterações climáticas causadas pelo El Niño.