“Tudo indica que os dividendos do segundo trimestre já ocorram sob a nova política. Já devem ocorrer com base na nova regra”.
Essas foram as palavras de Sergio Caetano Leite, o diretor financeiro da Petrobras, em entrevista nesta semana.
Isso, meus amigos, infelizmente deve significar queda nos dividendos distribuídos pela petroleira. Depois de anos pagando quantias absurdas aos seus acionistas, a Petrobras deve começar a reduzir o montante distribuído a partir da divulgação de resultados do segundo trimestre de 2023.
E agora? Será que ainda é uma boa investir em PETR4?
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A (ex?) campeã dos dividendos
Os últimos anos da Petrobras foram ótimos para os acionistas. A companhia decidiu se desfazer de ativos pouco rentáveis e passou a focar mais no segmento de Exploração e Produção (E&P) de petróleo.
Ou seja, ela não só gerava caixa vendendo ativos ruins como a sua operação surfou os melhores preços da commodity dos últimos anos. O resultado dessa combinação foi uma geração de caixa absurda que proporcionou o pagamento de generosos dividendos.
A Petrobras foi, com muita folga, a maior pagadora de dividendos da Bolsa brasileira nos últimos 12 meses. Foram mais de R$ 200 bilhões distribuídos para os acionistas, o que inclusive explica boa parte da alta de 67% da ação no período.
Ticker | Nome | Dividendos pagos em R$ bilhões * |
PETR4 | Petrobras | 216,63 |
VALE3 | Vale | 25,76 |
BBSA3 | Banco do Brasil | 14,21 |
ABEV3 | Ambev | 12,26 |
BBDC4 | Bradesco | 8,9 |
ITUB4 | Itaú | 6,55 |
SANB11 | Santander | 6,14 |
GGBR4 | Gerdau | 5,88 |
BBSE3 | BB Seguridade | 5,82 |
Fonte: Bloomberg
Infelizmente, as coisas devem mudar a partir de agora. Para começar, a queda da cotação do petróleo no mercado internacional atrapalha um pouco a receita e a margem da companhia. Inclusive, o consenso espera uma queda de 40% no Ebitda e de 50% no lucro no segundo trimestre deste ano.
Como você deve saber, lucros menores também significam menos dividendos para distribuir, o que já não seria tão bom para os acionistas. Mas os problemas vão além.
A nova (velha) política
Depois de um período vendendo ativos ruins e investindo praticamente tudo o que podia no pré-sal, a nova gestão deve fazer com que a Petrobras retome velhos hábitos que acabaram atrapalhando a companhia na década passada.
O discurso pode até ser bonito e conquistar votos, mas a verdade é que, para os acionistas, não faz muito sentido que a Petrobras invista em ativos de geração eólica, fertilizantes, petroquímicos etc..
Primeiro porque ela não tem nenhum diferencial competitivo nesses segmentos e provavelmente teria retornos melhores investindo o dinheiro em Tesouro Selic.
Segundo porque ela possui alguns dos melhores ativos de E&P do mundo, de onde consegue extrair muito petróleo com custos baixos e retornos muito atrativos.
Mas quem decide a estratégia de investimento não somos nós, e como o avanço da Petrobras nessas novas frentes vai demandar maiores investimentos, isso implicará em menos dividendos para os acionistas.
Mas os dividendos não vão morrer
Nos últimos anos, a geração de caixa da Petrobras foi tão absurda que os dividendos superaram o lucro líquido (ou seja, o payout foi maior do que 100%).
Ou seja, se você parar para analisar friamente, mesmo reduzindo os dividendos, a Petrobras ainda tem potencial para continuar a ser uma das melhores pagadoras de dividendos da Bolsa. A questão é tentar entender em quanto esses dividendos serão reduzidos.
O grande medo do mercado é que o governo invista tanto em outros segmentos que o payout caia para o mínimo exigido por lei (25%), o que na minha visão é um cenário pessimista demais.
Primeiro, por conta da necessidade que o próprio governo tem de receber dividendos devido aos seus problemas fiscais. Além disso, é difícil imaginar que a companhia consiga alocar tanto dinheiro em outros setores – estamos falando de um fluxo de caixa livre de mais de R$ 120 bilhões só em 2023, haja criatividade.
Depois de pagar mais de R$ 200 bilhões em dividendos em 2022, a expectativa é que esse número caia para mais próximo de R$ 100 bilhões em 2023, por conta dos fatores mencionados.
Mesmo assim, ainda estamos falando de um dividend yield de mais de 20%, um dos melhores da bolsa brasileira. Ou seja, ainda que os dividendos caiam na comparação com os anos anteriores, a Petrobras ainda tem potencial de ser uma ótima pagadora de proventos.
Por isso, PETR4 segue na série Vacas Leiteiras, e ainda faz sentido para o investidor com foco em dividendos e com uma carteira devidamente diversificada.
Se quiser conferir outras ótimas pagadoras de dividendos, deixo aqui o convite.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy