Se uma única coisa pudesse explicar a movimentação das ações ligadas ao setor de varejo na bolsa de valores brasileira, certamente seria a trajetória dos juros futuros na B3, os DIs.
Isso porque os contratos futuros de DI garantem aos investidores certa visibilidade sobre a dinâmica de juros no futuro, como uma pista para a trajetória da taxa Selic.
Logo, são diretamente impactados por dados de inflação e as expectativas do mercado — o que explica a movimentação nesta terça-feira (12) após a divulgação do IPCA de agosto, que veio abaixo do esperado.
Sendo assim, quando os juros futuros (DIs) operam em queda, as ações dos setores mais sensíveis aos juros — em geral, ligados ao consumo — são beneficiadas e avançam na B3.
Esse movimento, por sua vez, é visto nas ações das varejistas nesta terça-feira (12), com destaque para os papéis da Petz (PETZ3).
Por volta das 13h00 (horário de Brasília), a rede de lojas de artigos para bichos de estimação liderava os ganhos do Ibovespa com alta de 5,80%, a R$ 5,84.
Lembrando que, no caso específico de Petz, os investidores também acompanham as negociações para uma eventual fusão com a rival Cobasi (leia mais abaixo).
Outras varejistas como Assaí (ASAI3), Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) também avançavam 4,58%, 2,57% e 2,75%, respectivamente. Acompanhe a cobertura de mercados.
Até amanhã, as ações da Via também devem se movimentar em torno da expectativa para a oferta da dona das redes Casas Bahia e Ponto. A taxa do aluguel dos papéis da varejista disparou na véspera da definição do preço por ação na operação.
O que isso tem a ver com o IPCA?
Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) de agosto.
O indicador de referência para a inflação registrou alta de 0,23% no mês, ante avanço de 0,12% em julho, abaixo das projeções do mercado de 0,28%.
E, o avanço da inflação menor que o consenso do mercado reforçou as apostas do mercado de continuidade do ritmo de corte na taxa Selic em 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e, consequentemente, repercutiu sobre a curva dos juros futuros (DIs).
Confira o desempenho dos DIs, por volta das 13h05 (horário de Brasília):
CÓDIGO | NOME | ULT | ABE | FEC |
DI1F24 | DI Jan/24 | 12,29% | 12,31% | 12,32% |
DI1F25 | DI Jan/25 | 10,42% | 10,45% | 10,50% |
DI1F26 | DI Jan/26 | 10,04% | 10,14% | 10,17% |
DI1F27 | DI Jan/27 | 10,29% | 10,40% | 10,39% |
DI1F28 | DI Jan/28 | 10,62% | 10,66% | 10,70% |
DI1F29 | DI Jan/29 | 10,83% | 10,90% | 10,91% |
Petz (PETZ3): Não é só os juros futuros
Apesar do alívio nos juros futuros, as ações da Petz (PETZ3) estendem os ganhos nas últimas semanas.
O movimento de alta, ou melhor, de recuperação das perdas no ano, começou ainda no final de agosto, com os investidores precificando a retomada de conversas entre a Petz e a Cobasi para a fusão dos negócios.
“Essa possível combinação de negócios é algo esperado pelo mercado, e que resultaria na criação de um gigante do setor de pet shop no Brasil, que ainda apresenta grande potencial de crescimento”, escreveram os analistas da Genial Investimentos, em relatório divulgado em agosto.
Até o momento, a união dos negócios não foi confirmada pelas companhias. A Petz, por sua vez, chegou a negar a potencial operação — mas não convenceu o mercado.
No mês, as ações PETZ3 acumulam ganhos de 7,12%.
Ignorando a alta: Ambev (ABEV3)
As ações da Ambev (ABEV3) ignoram o alívio dos juros futuros (DIs) e destoam do setor de varejo.
Os papéis da fabricante de bebidas são pressionados após a Receita Federal questionar operações bilionárias ligadas ao pagamento de Imposto de Renda sobre os lucros no exterior — a empresa já foi autuada em R$ 12,6 bilhões; o valor está em litígio judicial.
Em linhas gerais, as companhias brasileiras com empresas no exterior podem compensar o Imposto de Renda pagos lá fora ao Fisco brasileiro. No caso da Ambev, a empresa pode compensar os tributos no exterior para abater do IR e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL),
Contudo, no entendimento da Receita Federal, a prática é irregular, em que o governo brasileieiro estaria pagando pelo imposto recolhido pela Ambev em outro país.