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“Não existem dois Brasis, somos apenas um povo”, diz Lula, em seu primeiro discurso como presidente eleito

O ex-presidente Lula em entrevista à Rádio Super Notícia, de Minas Gerais

Lula em entrevista à Rádio Super Notícia, de Minas Gerais

Passava das 21h quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao Hotel Intercontinental, no centro de São Paulo. A escolha não foi arbitrária: trata-se do mesmo local em que ele acompanhou a apuração de 2002, quando chegou pela primeira vez ao Planalto. Pois, passados 20 anos, lá estava ele, sendo reconduzido à presidência.

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Numa apuração apertada, Lula derrotou Jair Bolsonaro (PL), obtendo o apoio de pouco mais de 60 milhões de eleitores — o que equivale a 50,90% dos votos válidos, com mais de 99% das urnas apuradas. O atual presidente, por sua vez, ficou 49,10%, ou 58,2 milhões de votos.

Mas, se o local escolhido pelo petista para discursar era conhecido, alguns dos rostos ao seu lado no palanque eram diferentes. Sim, estavam lá as lideranças históricas do partido — Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Alexandre Padilha e Aloizio Mercadante, entre outros —, mas também havia alguns novos e improváveis aliados.

A começar pela senadora Simone Tebet (MDB), ex-presidenciável e que se engajou fortemente com a campanha de Lula no segundo turno; coube a ela o primeiro agradecimento do novo presidente em seu primeiro discurso. Já Geraldo Alckmin (PSB), seu rival histórico convertido em aliado e vice-presidente, recebeu o agradecimento final.

E ambos, quem diria, foram efusivamente aplaudidos pelos apoiadores de Lula — um comportamento que, de certa forma, simboliza um dos principais pontos do discurso do novo presidente: a união de diferentes para o bem do Brasil.

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"A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para quem votou em mim", disse Lula. "Não existem dois Brasis, somos um único povo".

Lula: reviravolta até o terceiro governo

A trajetória pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva é bastante marcante: após dois mandatos como presidente da República, entre 2003 e 2010, ele passou a ser cada vez mais questionado quanto a supostos esquemas de corrupção nos governos do PT — e viu no então juiz federal Sergio Moro uma espécie de antagonista.

Ao fim de uma série de investigações da Operação Lava-Jato, Lula chegou a ser preso — ele ficou mais de um ano na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Mas, após uma reviravolta nas instâncias superiores da Justiça, os processos pelos quais foi condenado foram anulados e retornaram à estaca zero.

Moro, por sua vez, foi considerado suspeito para conduzir as investigações e afastado do caso. Com as decisões, Lula foi solto — e pode começar a trabalhar em sua campanha ao Planalto em 2022, uma caminhada concluída com sucesso neste 30 de outubro.

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Eu me considero um cidadão que teve um processo de ressurreição na política brasileira. Tentaram me enterrar vivo, e eu estou aqui

Luiz Inácio Lula da Silva, novo presidente eleito do Brasil

Conforme era esperado, Lula assumiu um tom conciliador em seu discurso: entre outros pontos, ele citou que sua vitória foi fruto de um imenso movimento — sua nova ascensão ao Planalto, segundo o petista, não se deve ao próprio partido ou aos apoiadores; o resultado das urnas, disse ele, é fruto do desejo da população por democracia.

Ainda assim, o novo presidente não se furtou a falar de suas principais plataformas ideológicas e de campanha: em vários momentos de seu discurso, Lula fez menções à redução da desigualdade social e à erradicação da fome — ou, em suas palavras, trazer os pobres para parte do Orçamento.

"Temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todo dia", disse ele. "Esse será novamente o compromisso número um do meu governo".

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Prioridades do novo governo

Numa fala que durou cerca de 15 minutos — relativamente curta para um discurso inicial de um presidente eleito — Lula fez acenos aos demais atores da cena política, numa sinalização de que buscará uma direção oposta à de Bolsonaro.

As relações entre os três poderes? Segundo Lula, o objetivo é reestabelecer uma "convivência harmoniosa e republicana". No lado internacional? A missão é fazer do Brasil novamente um player confiável e relevante na geopolítica global.

"[É preciso] retomar, para que investidores internacionais e estrangeiros voltem a ter confiança no Brasil, para que deixem de enxergar o país como fonte imediata de lucro predatório, e passem a ser parceiros", disse.

Questões climáticas também foram abordadas pelo novo presidente, e, assim como anteriormente, também houve uma sinalização de que o plano é ir na direção contrária a de Bolsonaro.

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Para Lula, o Brasil será uma referência na luta contra a crise ecológica — a meta é chegar ao desmatamento zero na Amazônia, embora ele não tenha dado mais detalhes de como isso se dará. "Vamos provar que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente", disse.

E, por fim, Lula voltou a ressaltar o viés conciliador, convocando os brasileiros — trabalhadores, empresários, pessoas de diferentes religiões — a se unirem em prol do país. E encerrou sua breve fala, ao redor de seus velhos e novos companheiros, com uma declaração forte:

"O Brasil é a minha causa, o povo é a minha causa, e combater a miséria é a razão pela qual eu vou viver até o fim da minha vida".

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