O tempo dos vices decorativos parece pertencer a um passado distante no Brasil. Em clara ascensão pouco tempo depois de ser declarado morto para a política, Geraldo Alckmin (PSB) vai chefiar a equipe de transição em nome do presidente-eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O anúncio foi feito no início da tarde desta terça-feira pela presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
O papel de destaque outorgado a Alckmin emerge como o primeiro sinal público desde a vitória de Lula da promessa de compartilhar o protagonismo de seu futuro governo com os aliados conquistados durante a campanha para derrotar Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.
“A gente já mostrou isso [a intenção de formar um governo pluripartidiário] durante a campanha, quando a gente fez essa frente ampla”, disse Gleisi.
“Ele é o vice-presidente-eleito. Tem mais do que legitimidade para isso”, afirmou.
Entretanto, a notícia teve impacto nulo sobre o Ibovespa, que já operava em alta quando ela veio à tona.
O grupo liderado pelo vice-presidente-eleito será instalado na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Brasília. O uso do local foi estabelecido em acordo com Ciro Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro.
Além de Alckmin, Gleisi e o ex-ministro Aloizio Mercadante farão parte da coordenação da equipe. O grupo do governo recém-eleito deve contar com cerca de 50 integrantes, entre políticos, técnicos e servidores.
Indefinição sobre ministério persiste
Integrar a equipe de transição não significa garantia de que a pessoa terá um ministério no próximo governo Lula, disse Gleisi.
"Quem participa dessa comissão de transição não quer dizer que vai ser ministro. Não há definição para ministério, o presidente Lula não entrou nesse assunto. Não há essa urgência", explicou ela.
Ainda de acordo com a presidenta nacional do PT, Lula começará a definir seu futuro ministério somente depois da viagem de lua-de-mel que fará esta semana à Bahia.
Lula casou-se com a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja, em maio, pouco antes do início da campanha que o levou de volta à Presidência da República.
Por que o silêncio de Bolsonaro é indiferente para a transição
Embora o presidente esteja caminhando para 48 horas de silêncio desde a derrota no segundo turno das eleições presidenciais, a não-aceitação formal do resultado é irrelevante para o processo de transição.
Uma lei de dezembro de 2002 assegura ao presidente-eleito o direito de nomear uma equipe formal de transição.
A mesma legislação obriga os titulares dos órgãos da administração pública federal a fornecerem acesso a contas, dados e programas em curso a fim de viabilizar uma transição pacífica.